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A Massa: homenagem pelos 103 anos

Muitos atleticanos escreveram ao blog reclamando que escrevi, ontem, apenas duas linhas parabenizando o Galo pelos 103 anos.

Então, hoje, presto a minha homenagem ao Clube Atlético Mineiro, através desse texto antológico, do saudoso jornalista Armando Nogueira, enaltecendo essa inacreditável paixão alvinegra, que é a própria torcida.

Aproveito para prestar homenagem, também ao Armando Nogueira, cuja morte vai completar um ano daqui a três dias:

“A Massa”

* Armando Nogueira

Torcidas, haverá as mais numerosas (Flamengo) ou mais conhecidas por sua grandeza (Corinthians), mas nenhum séqüito futebolístico brasileiro se compara a massa do Clube Atlético Mineiro em mística apaixonada, em anedotário heróico, em poesia acumulada ao longo dos anos. “A Massa”, como é simplesmente conhecida em Minas Gerais, compartilha com a torcida corintiana (”A Fiel”) a honra de deixar-se conhecer com um substantivo ou adjetivo comum transformado em nome próprio, inconfundível. A Fiel, A Massa: poucas outras torcidas terão realizado tal operação de mutação de um nome comum em nome próprio. No caso do atleticano, a alma do time não é senão a alma da torcida.

Toda a mística da camisa, das vitórias sobre times tecnicamente superiores (e também das derrotas trágicas e traumáticas), emana da épica, das legendárias histórias que nutre sua apaixonada torcida: nem o Urubu, nem o Porco, nem o Peixe, nem a Raposa, nem o Leão, nem nenhum animal mascote se confunde com o nome do time, com sua identidade, com sua alma mesma, como o Galo com o Atlético Mineiro. Nenhum outro time é conhecido por tantas vitórias improváveis só conquistadas porque a massa empurrou. ”Quem possui uma torcida como esta, é praticamente impossível de ser derrotado em casa” (Telê Santana). Pelos ídolos de 69 ou 70, o timaço do Cruzeiro já tetra ou pentacampeão entrava em campo mais uma vez e parecia que de novo ia humilhar o Atlético. Mesmo naquele clássico durante vacas tão magras, a massa atleticana era, como sempre foi, maioria no Mineirão.

Impotente, ela viu Dirceu Lopes abrir o placar e o time do Cruzeiro massacrar o Galo durante 45 minutos. No intervalo, a massa que cantava o hino do Atlético foi inflamada por um recado de Dadá Maravilha pelo rádio: “Carro não anda sem combustível.” A fanática multidão encheu-se de brios, fez barulho como nunca, entoou o grito de guerra, encurralou sonoramente a torcida cruzeirense, e o time do Atlético – infinitamente inferior, liderado pelo artilheiro Dario e pelo seu grande goleiro (como é da tradição atleticana) Mazurkiewcz – virou o placar para 2 x 1 sobre o escrete azul, e abriu caminho para a reconquista da hegemonia em Minas, selada com o título estadual de 70 e o Brasileiro de 71. Nenhum dos jogadores atleticanos presentes nessa vitória jamais se esqueceu da energia que emanava das arquibancadas, e que literalmente ganhou o jogo.

Se houver uma camisa alvinegra pendurada no varal num dia de tempestade, o atleticano torce contra o vento.” O achado do cronista Roberto Drummond resume a mitologia do Galo : contra fenômenos naturais, contra todas as possibilidades, contra forças maiores, a torcida atleticana passa por radical metamorfose e se supera. Superou-se tantas vezes que já não duvida de nada, e cada superação reforça ainda mais a mística, como uma bola de neve da paixão futebolística. Nenhum atleticano hesitaria em apostar na capacidade da Massa de transformar o impossível em possível a qualquer momento, de fazer parar aquela tempestade que açoita o pavilhão alvinegro deixado solitário no varal.

Não surpreende, então, o sucesso que tiveram os jogadores uruguaios que atuaram no Atlético Mineiro, do grande Mazurkiewcz ao maior lateral-esquerdo da história do clube, Cincunegui. Se há uma mística de garra e amor à camisa que se compara à atleticana, é a da celeste, não mineira, mas uruguaia. Só à seleção uruguaia a pura paixão por um nome e um símbolo levou a tantas vitórias inacreditáveis, improváveis, espíritas, ou puramente heróicas.

Ao contrário das torcidas conhecidas por sua origem étnica (Palmeiras Cruzeiro, Vasco), por sua origem social (Flamengo, Fluminense, Grêmio, São Paulo), ou por seu crescimento a partir de uma grande fase do time (Santos, Cruzeiro), qualquer menção da torcida do Atlético Mineiro evoca, invariavelmente, a substância mesma que constitui o torcer. O amor ao time na vitória e na derrota, o apoio incondicional, a garra, a crença de que sempre é possível virar um resultado.

Armando Nogueira, foi um dos maiores jornalistas do Brasil, criador do “Jornal Nacional”, dentre tantas heranças positivas que deixou para a comunicação brasileira.

Era acreano, de Xapuri, morreu no Rio de Janeiro, aos 83 anos, de câncer no cérebro, no dia 29 de março do ano passado.


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Comentários:
26
  • Clayton Batista Coelho ( Claytinho - Só Boleiro do Nova Vista/BH ) disse:

    Caro Marcos, tranquilis ??

    Seja bem vindo ao Blog… Vc ainda verá muita coisa por aqui… rsrs

    Da minha parte, eu reconheço que vc está certo sim. Mas como bom observador que vc deve ser, vc poderá observar que eu comento em particamente todos os tópicos. Seja pra concordar, discordar, zoar, emitir minha opinião, falar nada com nada… rsrs

    Aliás, essa é uma das finalidades de um Blog, o debate !

    Sobre meus comentários e o do nobre Dudu GALOMAIO, normal… Fica ele defendendo com umas e dentes as coisas do time dele e eu fazendo o mesmo em relação ao meu Cruzeiro. Num debate amigável e saudável !

    Só não entendi a razão de ser do seu questionamento, mas respeito mesmo assim. Porque, ao que me parece, não existe nada que impede um Cruzeirense falar sobre o Atlético Mineiro, ou um Atleticano falar sobre o Cruzeiro… Aliás, o que move o nosso futebol é isso. É essa rivalidade sadia.

    Afinal, torcer e amar um time, é muito bom ! E ter um rival pra também podermos zoar e tirar um sarro de vez em quando, faz muito bem… rsrs

    Abraços

  • Clayton Batista Coelho ( Claytinho - Só Boleiro do Nova Vista/BH ) disse:

    E aí Tom Vital, bão ??

    Pôxa… Então vc é “o cara” ! rsrs

    Abraços

  • Marcos disse:

    E mais: aonde tem alguma coisa falando sobre o Atlético ou algum comentário de galista, mesmo este galista falando algo do Cruzeiro,o Clayton Batista do Nova Vista/BH aparece!

  • Marcos disse:

    Há alguns meses acompanho o blog do Chico Maia, e tenho observado uma coisa: aonde tem alguma coisa sobre o Cruzeiro ou comentário de cruzeirense, mesmo este cruzeirense falando do Atlético, o Dudu Galomaio aparece!

  • Dudu GALOMAIO BH disse:

    Sempre aparecem os invejosos se remoendo e querendo desmerecer a história grandiosa e centenária do Clube Atlético Mineiro.
    Que obsessão esse povinho tem pelo Galo viu?

  • fonte segura disse:

    Enquanto todos se preocupão com cronograma, deveriam realmente se preucupar com cauculos instruturais da obra em sí.
    Preucupando em manter o calendário, as empresas (Precon e Premo) não divugam alguns ocorridos na montagem dos prédios,, como vigas com comprimento maior que 10m, que ao serem preenchidas com concreto e ferragens sobre carregaram o peso e enverteram sua contra flexa em até 6cm. para um leigo isto não é nada, mas para um cauculista,,,, é problema futuro. mas o foco de todos é o cronograma,,, depois me contem.

    – bh

  • marcelo Bueno disse:

    A torcida do Atlético é realmente única. É a única torcida que torce para ela mesmo. Falta de time para torcer, dá nisso mesmo. 103 anos e apenas um título de expressão. Que tristeza!

  • Zé Carlos disse:

    o autor do texto é um professor de Divinópolis, que reside nos States, em New Orleans se não me engano, leciona literatura espanhola, acho, não me lembro o nome no momento mas ele já teve até um blog onde falava entre outras coisas do nosso Galo com brilhantismo.

  • Bruno disse:

    Chico, esse texto não é de autoria do mestre Armando Nogueira, mas sim de Idelber Avelar. Por favor, dê crédito ao verdadeiro autor!

    Abraço

    Veja aqui:

    http://www.idelberavelar.com/archives/2008/01/galo_aos_sabados_a_mistica_da_massa.php

  • Renata disse:

    Sei que esta msg pode chegar até o Roger(Cruzeiro) através do seu intermediário. No final do jogo entre Cruzeiro x Tolima (16/03/2011), consegui tirar umas fotos com os jogadores do Cruzeiro, por isso quero parabenizar ao Roger pelo imenso carisma e o excepcional tratamento que ele dá aos seus fãs, de todos ele é o que mais dá atenção a nós. Por favor faça com que esta msg chegue até ele por mim. Obrigada desde já.

    – Sete Lagoas

  • Clayton Batista Coelho ( Claytinho - Só Boleiro do Nova Vista/BH ) disse:

    Pra que o povo foi cutucar o Chico viu… rsrs

  • Marcos disse:

    É moçada, o torcedor do Atlético de Minas é demasiado devoto de seu time, mesmo vendo seu time apanhar demais e ainda vê-lo cair pra segundona o atleticano possui fervor pentecostal pelo seu Galo Carijó. Pena que este Galo Carijó não retribui esta paixão com títulos, ao menos um título mundial para “a massa”.

  • Sávio disse:

    Até existe glória em vitórias ou títulos, mas ela não é perene, a verdadeira Glória para um atleticano é a de ser torcedor do GALO MAIS LINDO DO MUNDO, essa glória sim, fica marcada no coração e não sai mais. VIVA O GALO!!!

  • Rodrigo Galodoido disse:

    Armando Nogueira era excepcional. E era um gentleman. Estranha a acusação do leitor Igor. Tomara que seja boato. E PARABÉNS GALO!!!

  • Basílio disse:

    Realmente, o romantismo e paixão que infunde essa torcida ao seu clube é incomparávele e inigualável.
    Diante de uma trajetória nem sempre vitoriosa, se fosse outra, já teria jogado a toalha. Já estaria extinta! Já teria mudado de nome!
    Mas ser atleticano é isso, sempre; nas vitórias ou nas derrotas, na alegria ou na tristeza. Em qualquer situação, seja sol ou chuva, dia ou noite, está sempre presente aos estádios. É tanto que mesmo em má fase bate recordes de públicos nos estádios.
    Mesmo sendo bonbardeada pela elite conservadora do futebol, está sempre presente com um fio de esperança nas vitórias. É crítica quando pode, mas desistir jamais.
    Parabéns ao Clube Atlético Mineiro e ao belo texto que comprova a força da Massa.

  • Oliveira disse:

    Há muitos anos ouço poesias e textos dramáticos com relação ao Atlético Mineiro, ninguém qcredita mais nessa balela.Nunca ví grandes times vencedores, grandes títulos. Só muita falácia e fanfarronice. Com a estrutura que o clube tem hoje, tem que montar times de verdade e ganhar títulos de verdade. O presidente do clube tem que ser mais maleável, bom negociador. Ele briga com Deus eo mundo e pelo seu destempero acaba prejudicando o próprio clube.

  • Lincoln Pinheiro Costa disse:

    Chico,

    Esse texto é do atleticano Idelber Avelar: http://www.idelberavelar.com/
    saudações atleticanas,
    twitter.com/lincolnpinheiro
    PS: aproveito para convidar seus leitores para a Sessão Preto&Branco promovida pelo Centro Atleticano de Memória, 29/03, 19h, na sede de Lourdes.
    http://www.atletico.com.br/noticias/?p=5793

  • tom vital disse:

    Prezado Clayton:
    Sou Atleticano desde a idéia da minha concepção.E acho que você está enganado.Em 1999 namorei uma garota,bem louca, daquelas namoradas que quando a coisa é boa a gente não esquece nunca mais…Pois bem essa garota nascida em 1976 era filha de um espanhol de BH,embora fosse gente boa.Ele era cruzeirense doente…Ah! o nome da filha dele?…Libertad Dores.
    Será essa?…rsrs.
    Abraços.

  • Luís Eduardo disse:

    O texto realmente é muito bom, mas o Armando Nogueira negou em vida a sua autoria, como bem salientou o igor perdigao. De todo modo, o Armando assinou embaixo do texto, ou seja, concordou com o seu conteúdo. De todo modo, o texto não é dele.

  • Fernando disse:

    Chico!!!! Sabia que você não iria deixar por menos, parabéns!!!
    Parabéns ao Galo doido da minha vida!!

  • Paulo Henrique disse:

    Isso é que é torcida. O resto é simpatizante!

  • Gilmar disse:

    A ultima vitória conquistada no grito da massa,foi aquela sobre o santos ano pasado.

    saudade do minerão!!!

  • J.B.CRUZ disse:

    ARMANDO NOGUEIRA e ROBERTO DRUMOND, eram por assim dizer,POETAS DA BOLA!!!Texto muito bonito, que mexe com a emoção do torcedor,,,,,,ATLETICANO!!

  • Miragaia disse:

    Isso é coisa q só os atleticanos sabem como sentir,q me desculpem os outros,mas ninguem sabe como é um amor por um clube,a não ser um atleticano.

    Galo!

  • Sandro Barbosa Trindade disse:

    Nossa Chico,as lágrimas rolaram em meu rosto agora.
    tenho só 34 anos e não tive a honra e o prazer de ver tantos craques que vestiram essa “camisa”.
    E é com lágrimas nos olhos que vejo como sou obrigado a sofrer com tantos times e jogadores medíocres,que passaram por aqui.
    E te faço uma pergunta meu caro:Que culpa tem a MASSA,nisso tudo.Nenhuma.Como pedir que a torcida empurre um time que tem Ricardo Bueno,Eron,Jheymi,Toró….
    È triste,mas é a realidade.
    Mas fazer o quê,se AMO tanto esse “TIME”….
    Abraços,meu caro….

  • igor perdigao disse:

    o armando nogueira em vida negou ao chico pinheiro a autoria deste texto que até então é de um desconhecido.