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Só sabem proibir e instalar detectores de metais

Ótima crônica do Ruy Castro sobre essa neura da “segurança” e exageros nas medidas adotadas em todos os locais públicos.

Na Folha de S. Paulo do dia 13, quarta-feira:

RUY CASTRO

Mais cidadãos

RIO DE JANEIRO – Que cena! Eu, um cidadão quase em idade de poder furar fila em bancos e tomar ônibus de graça, sendo vasculhado, com as pernas abertas e os braços em cruz, por uma geringonça eletrônica em busca de objetos suspeitos, na entrada da Feira dos Nordestinos, em São Cristóvão, outro dia. Teria feito mais sentido se o segurança me examinasse na saída, depois da fabulosa buchada de cabrito -esta, sim, um torpedo- que devorei num restaurante da feira.
Quem diria que o ataque a Nova York, em 2001, levaria a que, dez anos depois, uma singela feira popular brasileira se equipasse para detectar pistolas e peixeiras entre seus frequentadores? Mas foi o que aconteceu. Do detector de metais no aeroporto à humilhante porta giratória dos bancos e ao bastão que escaneia os torcedores na rampa dos estádios e ginásios, a paranoia não parou de crescer.
Dali estendeu-se aos shows de rock, à recepção em empresas públicas e privadas (com direito a retratinho compulsório no balcão) e, depois do massacre de Realengo, ameaça ser adotada até pelas escolas de 1º grau. Quando isso acontecer, cada brasileiro, não importa a idade, será visto como um suspeito, um potencial assassino em massa, alguém a não se tirar os olhos de cima durante qualquer evento.
Você dirá que, se essa medida já tivesse sido implantada, o matador Wellington não teria entrado tão facilmente na escola em Realengo. Talvez não. Mas quem o impediria de postar-se num terraço ou janela próximos e fuzilar as crianças quando elas saíssem à rua? E se, um dia, for possível vigiar todo mundo, quem vigiará os vigias?
O fato de o Brasil estar infestado de detectores de metal prova que as armas já são um problema. Eliminá-las não impedirá que, um dia, surja um novo Wellington. Mas nos tornará mais seguros, mais confiantes e mais cidadãos.


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Comentários:
10
  • nós Professores, que “pagamos” a conta.

  • Alisson Sol disse:

    O que o Antônio escreveu é sobre um modelo fracassado que os EUA tentaram há mais de 30 anos atrás. Se vamos copiar os EUA no Brasil, vamos copiar algo atual, e não experimentos da década de 70. Naquele tempo, se achava mesmo que tratando os alunos de certas áreas como bandidos em potencial se iria resolver o problema da violência nas escolas. Se achava também que uma escola ruim era consequência de uma “vizinhança ruim”. Desde então, muita coisa mudou.

    Descobriu-se que, ao invés de uma escola ruim ser consequência de uma vizinhança ruim, era a causa. Famílias com condições se mudavam logo de uma área com uma escola pública ruim ou deteriorando-se. Com isto, só ficavam alunos sem um bom ambiente familiar em casa. As escolas então passaram a tentar suprir esta deficiência, ao invés de ignorá-la (algo que o Denilson já citou).

    Claro que é um modelo caro. A escola americana toma um espaço enorme, funciona em turno único, e literalmente demanda umas 40 horas anuais de “trabalho voluntário” de cada pai e mãe disponível. Mas onde as famílias participam, a escola é o centro da comunidade. Evidentemente, não é em todo local. Mas se o Brasil vai copiar o modelo educacional, ao menos copiem do local certo, na época certa.

  • Denilson disse:

    Chico,
    também sou professor e radicalmente contra a instalação dos detectores. Assim como os comentários anteriores, já presenciei armas, drogas e ameaças no ambiente acadêmico. E daí? A arma que estava na sala de aula será somente transferida para rua.
    Especificamente em relação ao ambiente da educação, escolas, faculdades e universidades deveriam abrir (escancarar!) as portas, se aproximar da sociedade, da comunidade, convidar pais e alunos e se sentirem próximos. O espaço da Educação não pode ser um espaço restritivo, intimidador, excludente. Somente quando as pessoas souberem usar melhor este espaço para criar conhecimento e Educação, não precisaremos temer as armas.

  • Klaillton Saraiva disse:

    É constrangedor mas tem que haver mais segurança ao professor. Estamos desguarnecidos e com muita dificuldade em manter a disciplina em sala de aula. Quase tudo fere os estatutos e a inclusão social. Depois de Realengo, há casos de jovens querendo imitar o assassino suicida.
    Muitos pais desconhecem as atitudes dos filhos. e não sabem de suas pretensões.
    Se as leis fossem cumpridas, dificilmente andariam armados.
    O detector de metais não é suficiente, mas ajuda muito sim.
    Gostaria muito que os alunos fossem para a Escola estudar, o que poucos fazem, a maioria tem outros ideais. Quem duvidar, frequente uma escola, principalmente no horário noturno e Escolas da periferia.

  • Antônio disse:

    Chico, acho que precisamos urgente de um braço armado da secretaria de segurança pública nas escolas. Uma espécie de “guarda escolar pacificadora” feita por gente séria no comando de um grupamento selecionado e treinado para dar segurança nas escolas, com treinamento em artes marciais e portando armamento não letal. Essa guarda estaria sob o comando da polícia militar e daria segurança aos professores bem como orientação aos alunos. Isso existe em escolas públicas nos Estados Unidos especialmente naquelas localizadas em áreas de extrema pobreza e violência, tanto que chacinas deste tipo lá sempre ocorreram em escolas tido como tranquilas e por isso mesmo sem esses seguranças.

  • bessas13 disse:

    Contra um pscipoata social, não te, detector de metal, segurança nada!!Se fosse barrado por seguranças da GM ou detector de metais, o banho se sangre seria maior. Imaginem 400 alunos saindo da escola ao final da aula, se foi 12 alunos mortos poderia ser 40,50 ou mais. Neste caso, especificamente neste caso só detector de metais e câmeras não seriam suficientes.

  • Alisson Sol disse:

    Senhores e Senhoras,

    Tais revistas jamais impediram qualquer tragédia. Pior é que as pessoas que vão executar tais ordens encarnam o espírito da “pequena autoridade” e começam a fazer absurdos em nome de “seguir a ordem”. Nos EUA, já apareceram vários vídeos de seguranças de aeroporto fazendo revistas em crianças de até mesmo 6 anos de idade (link). Enquanto isto, toda vez que os investigadores tentam testar a segurança, conseguem colocar uma bomba falsa dentro de um avião (link). Escolas não precisam de revista: precisam de educação. Se isto não está ocorrendo, implementar “revista de alunos” é como colocar um band-aid em um sujeito sofrendo ataque cardíaco: fica lá algo visível mas que nada resolve o problema.

  • Basílio disse:

    Chico, infelizmente, essa inspecção é necessária, principalmente em escolas, pois tem alunos entrando armados na escola, e isto só está sendo observado agora, por causa do incidente em Realengo. Infelizmente, no Brasil, as coisas para serem percebidas é preciso acontecer uma trajédia, ou seja, não há prevenção ou logística. O professor não pode chamar a atenção de um aluno que está conversando alto, tirando atenção dos colegas, tentando ouvir música ao celular ou qualquer ato indiciplinar. Sob a ótica do aluno o professor está: tirando ele, pagando pau pra ele, ou em qualquer sentindo, diminuindo ele, isto é uma diminuição perante por exemplo, as menininhas. E ele sabe dos seus direitos e pouco sobre seus deveres, então a partir deste instante, sob a ótica do professor, qualquer reação pode partir do aluno, inclusive agressões. A juventude sabe que tem proteção de todo canto, inclusive dos demagogos. Sei como funciona isto, pois tenho filhas e genro que trabalham na escola. Portanto, que me desculpe o Rui se ele ele é um cidadão de bem, mas a revista é necessária, onde haja aglomeração pública, e olhe que nem assim a violência tem diminuido.

  • Renato Mello disse:

    Chico, que me perdoe o Ruy Castro, mas no que se refere às escolas públicas,já passou da hora de termos detectores de metais nas mesmas. Como já disse anteriormente aqui no site, sou professor, e a nossa realidade hoje em dia não se resume à desvalorização do salário. A opinião pública não sabe, mas em uma escola pública, é a coisa mais fácil do mundo um professor ser ameaçado de morte. Eu já fui, ano passado, uma colega ESTÁ atualmente na escola onde trabalho, e por aí vamos. Sem contar que, nesta mesma escola, em fevereiro um ex-aluno entrou com um calibre 32, para MATAR outro aluno; e em março, um aluno entrou com um 38, do IRMÃO, que é policial, e QUASE matou outro, que teve de sair da escola. Detalhe: é área de risco, mas os professores e os outros alunos “podem” ficar sem segurança. Afinal, ora bolas, o governo não liga mesmo para a questão da educação, não é? O que seria um professor ou um aluno a menos? E 10? E 100??? Acompanhando os noticiários, não é difícil ver repetições do que coloquei sobre minha escola. Em Juiz de Fora – salvo engano – , também em março, um aluno MATOU outro colega. Isso é a coisa mais COMUM hoje em dia. Ok, eu também não gostaria que fosse assim – ou que tivesse de ser, pois não existe ainda a obrigação de se colocar os detectores em escolas – , mas infelizmente nossa sociedade chegou a esse ponto. É um círculo: o governo não aparelha as escolas decentemente (com material decente, do giz à carteiras, passando por construções precárias), não dá um salário JUSTO ao professor, os alunos saem perdendo na qualidade do ensino… e aí vamos formando essa nova “geração” alienada, que acha que as coisas se resolvem no tiro e na ameaça. E o governo? Ah, o governo… está muito preocupado com amigos seus fazendo desintoxicação de cocaína na EUROPA, construindo alas EXCLUSIVAS em hospitais para políticos quando tem suas crises de abstinência – ou quando deram uma exagerada, quem sabe?? – ; está mais preocupado com copa do mundo, com não deixar que o FICHA LIMPA EXISTA COMO TEM DE EXISTIR, está mais preocupado em se perpetuar… e por aí vamos outra vez. Mas e o povo? Ah, o povo? É só um detalhe… um detalhe que ELEGE esses CRÁPULAS, mas só lembram disso de 4 em 4 anos.
    Infelizmente, Chico, por causa dos nossos governos, peça perdão ao Ruy Castor por mim, caso o conheça… mas infelizmente os detectores, as grades, os seguranças, serão TODOS obrigatórios nas nossas escolas. Ou nem mesmo os professores que QUEREM ensinar para os alunos que AINDA (sim, ainda temos alguns) querem aprender, vão durar muito…
    Grande abraço,
    Renato Mello 😉

  • J.B.CRUZ disse:

    Rui Castro tirou as palavras de minha boca..É isso aí !!!