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Para entender um pouco a revolta no primeiro mundo

A diferença é que na Europa o índice de escolaridade e capacidade de indignação são  infinitamente maiores que a nossa; sem falar nas garantias sociais, proporcionadas pelos impostos que os cidadãos pagam.

Aqui, o dinheirão arrecado com o fisco, vai para a corrupção e gastos abusivos ou desnecessários. Aí falta tudo para a maioria da população: educação, segurança, saúde, infra-estrutura…

Veja essa reportagem da Folha de S. Paulo, de domingo:

“INDIGNADOS UNIDOS”

ESPANHA

“Nunca vi tanto garçom que possui doutorado”

Geração “nem estuda, nem trabalha” toma ruas

LUISA BELCHIOR
DE MADRI

RODRIGO RUSSO
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

“Uma faculdade, dois mestrados, três idiomas, cinco anos de experiência e um estágio de 600 euros”.
Os dizeres na placa que a cientista ambiental Lilian García, 25, segurava em uma das manifestações que tomaram as ruas de Madri na semana passada eram fictícios. “Esse estágio foi há três anos. Desde então estou desempregada”.
Como ela estão 45% da população jovem espanhola, em torno de 700 mil pessoas.
Com os protestos e acampamentos nas praças do país, revelaram ao mundo uma Espanha que já não consegue dar conta de inseri-los no mercado de trabalho.
O resultado é que os jovens que podem deixam o país em busca de empregos em vizinhos europeus -em 2010, 166 mil emigraram.
Chamada de geração “ni-ni” -ni estudia, ni trabaja-, este quase milhão de espanhóis tem a melhor formação na história do país e um dos piores cenários de emprego.
Javier Garcia, 28, veio dos EUA participar dos protestos. “Eu odeio ter que estar longe do meu país para poder trabalhar. Tenho muitos amigos aqui sem emprego. Nossa geração é a mais bem preparada da história. Nunca vimos tantos garçons com doutorado e três idiomas”.
Em Barcelona, o movimento dos “indignados” ganhou força após o dia 27 de maio, quando, a pretexto de limpar a praça Catalunha, onde os jovens acampavam, policiais agrediram os manifestantes, deixando 121 pessoas feridas.
A agilidade com que os acampados divulgaram pelas redes sociais fotos e vídeos de policiais agindo violentamente foi determinante para que a praça fosse novamente liberada para os protestos.
Em uma das entradas da praça, uma faixa avisa aos transeuntes: “Estamos construindo um mundo melhor, desculpem os transtornos”.
“Estávamos anestesiados, cansados de políticos”, diz Judith Casas, 33.
Já para o estudante de ciências ambientais Raul Sanchez, 25, que trabalha em um call center e é garçom aos finais de semana, o movimento é um meio de pedir outro modelo para empregos: “Não queremos mais trabalhar só com turismo ou construção”, desabafa. Sua renda mensal é de 1.000.
Os jovens têm inspiração na praça egípcia Tahrir, onde protestos levaram à queda da ditadura, e na população da Islândia, que em referendos rejeitou o pagamento de dívidas externas do país.


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Comentários:
4
  • Wagner Ávila disse:

    O processo de “emburrecimento” do povo brasileiro remonta à época do Brasil colônia em que Portugal impedia a entrada de livros no país temendo
    a disseminação de idéias de independência como já ocorria em alguns países da Europa. O povo não tem hábito de leitura e muito pouco senso
    crítico porque a educação nunca foi prioridade no Brasil. Enquanto não se investir nas escolas, na formação e valorização dos professores continuaremos vivendo nesse marasmo, conformados com tudo e ainda achando que tá tudo muito bom.

  • Lincoln Pinheiro Costa disse:

    Chico,

    Olhando de longe, esses protestos estão parecendo o que o José Simão chama de oposição Shopping Center da Venezuela. Como eles reclamam dos políticos e nada falam da monarquia? Como se sujeitam a sustentar uma família real parasitária? Até quando a desenvolvida Europa vai conviver com regimes monárquicos?
    twitter.com/lincolnpinheiro

  • Alisson Sol disse:

    Calma lá. Este pessoal na Europa gosta muito de falar que tem doutorado. Você vai ver e é um daqueles doutorados em “estudo de vinho”, em uma Faculdade ou Universidade que fazem as chamadas “pagou/passou” do Brasil parecerem a coisa mais difícil do mundo. Meus próprios amigos da Grécia, um país hoje quebrado, cansaram de me dizer que a maioria dos “doutores” do país só foi ficando na escola porque as bolsas eram tão boas que “trabalhar não compensava”.

    Há emprego disponível para quem tem formação técnica praticamente no mundo inteiro. Você só precisa saber se posicionar no mercado no começo da carreira. Agora, eu vejo muito jovem, mesmo nas áreas técnicas, chegando em empresas hoje e já durante a primeira entrevista técnica perguntado sobre os benefícios, férias e a comida na cantina. Não se interessa em nada sobre os colegas de trabalho com os quais vai passar 8 horas por dia, e já começa a reclamar dois dias depois de contratado que alguém com mais “experiência apenas” tem salário maior, sem sequer saber o que aquela pessoa já fez pela empresa. Depois reclama quando é o primeiro a fica desempregado…

  • Gilmar disse:

    Como diria meu professor,o desemprego atinge com mais força as beiradas do mercado de trabalho ou seja,os são mandados embora primeiro são os doutores e os faxineiros.