Zezé Perrella ganhou um mandato de senador, mas também as consequências que isso traz.
De cara, o cerco da imprensa nacional.
Diferentemente do futebol, onde ele reina, na política todos os gatos são pardos e os resultados dos jogos nos gramados não têm a menor influência no humor ou interesses desse mundo de gabinetes, ternos e gravatas do Congresso.
A mídia que cobre Brasília é incontrolável, para o bem da democracia brasileira, diga-se!
O jogo lá é mais bruto!
Quando saiu a notícia que o Itamar estava de leucemia o primeiro veículo de comunicação a voltar suas baterias para o seu possível sucessor foi o Hoje em Dia.
No dia seguinte, um amigo comum, meu e do Zezé, ligou-me para reclamar da reportagem.
Eu disse a ele que a raia seria diferente a partir do momento em que o comandante do Cruzeiro se tornasse senador, pois toda a mídia nacional passaria a esmiuçar a vida dele.
Com lupa!
Em termos nacionais, o O Globo dá o chute inicial.
Saiu agora há pouco na internet e amanhã deverá estar no jornal impresso, nas bancas do país.
* Zezé Perrela
Um suplente polêmico para a vaga de Itamar
Fábio Fabrini (fabio.fabrini@bsb.oglobo.com.br)
BRASÍLIA – Deverá provocar barulho a chegada ao Senado do suplente do ex-presidente Itamar Franco, Zezé Perrella (PDT-MG). Com a morte do senador mineiro, o presidente do Cruzeiro herda um mandato quase inteiro no Senado e, de quebra, ganha refresco em investigações por enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Na condição de parlamentar, terá foro privilegiado, o que significa que as investigações agora dependem de autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).
LEIA MAIS:Com Zezé Perrella no Senado, oposição perde uma cadeira
Um colecionador de títulos na Raposa, pelo Cruzeiro, Perrella se notabilizou pelas complicações com o Ministério Público e a Polícia Federal. Há pouco mais de um mês, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público de Minas abriu investigação para apurar como o cartola, que exerceu mandato de deputado estadual entre 2007 e 2011, adquiriu a Fazenda Guará, em Morada Nova de Minas, produtora de grãos e gado. A propriedade valeria mais de R$ 50 milhões, apesar de Perrella ter declarado à Justiça Eleitoral, no ano passado, patrimônio de R$ 490 mil, numa denúncia feita inicialmente pelo jornal “Hoje em Dia”.
A Guará está em nome da Limeira Agropecuária e Participações Ltda., empresa em nome dos filhos de Perrella, Carolina Perrella Amaral, e o deputado estadual mineiro Gustavo Henrique Perrella, eleito no ano passado, graças ao apoio do pai. O cartola alega que “doou” seus bens aos filhos. A Polícia Federal apura indícios de lavagem de dinheiro na aquisição da fazenda e pesados investimentos feitos na propriedade, posteriormente.
No ano passado, a PF já havia indiciado o futuro senador Zezé Perrella por lavagem de dinheiro e evasão de divisas na venda do jogador Luisão, em 2003. O inquérito foi remetido ao Ministério Público Federal. O zagueiro foi negociado por US$ 2,5 milhões com o empresário Juan Figger, que teria usado o Central Espanhol Futebol Clube, time uruguaio de pouca expressão, como “laranja” na operação. Em seguida, o jogador foi vendido por US$ 1 milhão a menos ao Benfica. Segundo a PF, o esquema teria sido usado para ocultar dinheiro não declarado ao Fisco. Perrella nega as acusações.
BRASÍLIA – Natural de São Gonçalo do Pará, antes de entrar para o mundo da bola e da política Perrella ganhou dinheiro como empresário do setor frigorífico. Em 1995, como conselheiro do Cruzeiro, conseguiu apoio do desgastado presidente do clube, César Masci, e se elegeu para sucedê-lo. Nunca mais perdeu o controle do time. Ficou por três mandatos, até 2002, fazendo o irmão, Alvimar Perrella, de sucessor.
Graças ao prestígio com parte da torcida, Perrela conseguiu se eleger como o segundo deputado federal mais votado em Minas em 1998, pelo extinto PFL. Ao fim do mandato, em 2002, tentou o Senado, mas ficou em quarto lugar, com 2,94 milhões de votos. Quatro anos depois, elegeu-se para a Assembleia de Minas, onde se destacou como um dos deputados mais faltosos.
Em 2008, Perrella se elegeu mais uma vez presidente do Cruzeiro. As atividades de cartola e de político sempre se misturaram. Depois que o jornal “Hoje em Dia”, de Belo Horizonte, publicou notícias sobre a fazenda Guará, nos últimos meses, entrevistas exclusivas foram vetadas no Cruzeiro, o que gerou polêmica.
Afilhado político do ex-governador e senador Aécio Neves (PSDB-MG), Perrella chegou à primeira suplência de Itamar graças ao tucano. A vaga era uma das estratégias para segurar o PDT na chapa de Antônio Anastasia (PSDB) para o governo de Minas. Nos bastidores, Itamar resistiu à indicação do suplente – no plano nacional, o partido apoia o governo petista. Mas Itamar foi contrariado.
– Ele queria alguém do PPS, pois o Perrella é Dilma – conta um aliado do ex-presidente.
Com a morte de Itamar, a oposição perde uma cadeira para a situação, como ocorreu com a posse de Clésio Andrade (PR-MG) para suceder a Eliseu Resende (DEM-MG), morto em janeiro. Aécio é agora o único senador diretamente eleito pelos mineiros.
Perrella recebeu a notícia da morte de Itamar no Rio e deve participar do velório do ex-presidente, amanhã, em Juiz de Fora. Ontem, sua assessoria informou que ele não daria entrevistas. Em nota à imprensa, o cartola exalta o ex-presidente e promete dar o seu melhor no exercício do novo mandato.
“Os compromissos do ex-presidente para com Minas e o Brasil são conhecidos por várias gerações de mineiros, e deles todos nós nos orgulhamos. Tive a honra de ter sido indicado pelo meu partido, o PDT, como suplente do senador Itamar nas últimas eleições. Lamentando profundamente as circunstâncias, manifesto a todos os mineiros o meu compromisso de dar o melhor para garantir a continuidade do trabalho do senador Itamar em defesa dos interesses de Minas”, escreveu.
» Comentar