Uma virtude especial dos argentinos é a valorização ao passado, tanto para lembrar quem merece reverências quanto para aqueles que precisam pagar pelos crimes.
Constantemente um general, almirante, brigadeiro e outros golpistas menores que cometeram crimes contra a população no período da ditadura vai pra cadeia.
Não importa a idade ou se está doente ou não! Tem que arcar com as consequências de seus atos.
A demagogia política tem limites e é controlada com rigor pela população, que lê muito e fica atenta a qualquer atrevimento de um detentor de algum poder que possa interferir no dia a dia da comunidade.
Juan Domingo Perón, Evita, Carlos Gardel, José Luiz Borges, Diego Maradona, são referenciados e respeitados o tempo todo pelo que fizeram pelo país.
Porém, Perón, o maior de todos os mitos deles, até hoje, é nome de uma rua secundária, perto do hotel onde estou.
Fosse no Brasil, já teriam dado o nome dele a uma rodovia, aeroporto, ou trocado o nome de Avenidas como Amazonas em BH. Brasil, no Rio ou Paulista em São Paulo.
Trocam nomes de lugares tradicionais ou dão nomes a logradouros importantes a qualquer político que tenha deixado amigos bem posicionados nos núcleos do poder.
Lembrei-me de escrever sobre isso porque fiquei impressionado de ver o nome do Perón numa rua de destaque menor aqui, enquanto os políticos da Bahia tiveram o atrevimento de trocar o nome do Aeroporto 2 de Julho, em Salvador, por Eduardo Magalhães, um político menor da vida brasileira, filho de um dos piores exemplos de tudo que há de mais ruim na vida pública do nosso país, que foi o Antônio Carlos Magalhães.
Isso para lembrar que hoje é uma das datas históricas que todos nós deveríamos lembrar, bater palmas e reverenciar a tantos baianos que morreram pela Independência do Brasil.
O 2 de Julho nos orgulha, como o 9 de Julho orgulha a todo argentino, e é nome da Avenida mais importante de Buenos Aires.
Já li sobre a nossa data no recente e excelente livro do Laurentino Gomes, “1822”,
Ele lembrou a data numa homenagem em seu blog, que transcrevo na íntegra aqui agora.
E viva aos baianos e a todos nós, que não sabemos quase nada da nossa história, e por consequência não a valorizamos:
* “A Independência que o Brasil esqueceu”
Passa incólume pelo calendário cívico nacional neste sábado uma data injustiçada. É o Dois de Julho, dia da expulsão das tropas portuguesas de Salvador em 1823. Nenhuma outra região lutou, sofreu e derramou tanto sangue em defesa da Independência do Brasil quanto a Bahia. Sem a resistência obstinada dos baianos, provavelmente a Guerra da Independência estaria perdida. Foram dezessete meses de combates, nos quais milhares de pessoas pegaram em armas na defesa dos interesses brasileiros contra Portugal.
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A expulsão das tropas portuguesas de Salvador no dia Dois de Julho de 1823 marca a consolidação definitiva da luta pela Independência. Na capital baiana tombou a mais conhecida heroína dessa guerra, a madre Joana Angélica, ferida a golpes de baioneta na invasão do convento da Lapa em fevereiro de 1822. Apesar disso, a data é desconhecida pela imensa maioria dos brasileiros que vivem fora da Bahia. Raramente aparece nos livros didáticos e não consta do calendário cívico nacional. É uma injustiça que precisa ser corrigida.
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Em 1822, Salvador era um ponto estratégico crucial para tornar viável o nascente império brasileiro. Capital da terceira província mais populosa do país, tinha uma importante indústria naval e exportava grandes quantidades de mercadorias, como algodão, açucar e tabaco. Era também grande pólo do tráfico negreiro, então o principal negócio do Brasil. Após o Dia do Fico (9 de Janeiro de 1822) e a expulsão das tropas portuguesas do Rio de Janeiro, as cortes de Lisboa decidiram concentrar suas forças na Bahia tentando isolar o príncipe regente e futuro imperador Pedro I. Acreditavam que, encastelados em Salvador, os portugueses poderiam mais tarde atacar o Rio de Janeiro e retomar o controle das províncias do sul do país. Em último caso, se a contra-ofensiva não funcionasse, poderiam dividir o território brasileiro mantendo as regiões Norte e Nordeste sob controle português. Por isso, a guerra na Bahia foi tão renhida e decisiva.
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O Recôncavo baiano foi um capítulo heróico e de decisivo da Guerra da Independência. Funcionou como o embrião do esforço pela preservação da integridade territorial brasileira, seriamente ameaçada pelos portugueses. Após a ocupação de Salvador pelas forças do general Madeira de Melo, em fevereiro de 1822, o restante da Bahia aderiu em peso à Independência do Brasil formando um cinturão de isolamento aos portugueses encastelados na capital. As vilas e fazendas do Recôncavo se transformaram em imensos campos de refugiados brasileiros. A primeira vila da região a se pronunciar foi Santo Amaro da Purificação, no dia 14 de junho de 1822. Alguns dias mais tarde, em 25 de Junho, foi a vez da vizinha Vila de Cachoeira, onde se travou a mais singela e, talvez, a mais heróica de todas as batalhas navais da Independência, contra uma canhoneira portuguesa que havia disparado sobre os moradores da cidade.
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No Recôncavo, sob o comando do general francês Pierre Labatut, concentraram-se as forças do até então indisciplinado e desorganizado exército brasileiro. Os soldados estavam descalços, famintos e com os soldos atrasados. Muitos morriam de tifo e impaludismo, febres endêmicas no Recôncavo. Faltavam médicos, enfermeiros, remédios e hospitais. As armas eram fabricadas de forma improvisada pelos próprios oficiais e soldados. Apesar disso, lutando contra tudo e contra todos, os baianos conseguiram vencer as adversidades e iniciar a ofensiva contra os portugueses.
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A Bahia decidiu o futuro do Brasil na sua forma atual. Por essa razão, sou a favor de elevar o Dois de Julho à condição de data nacional, como também acredito que os políticos baianos deveriam, com urgência, desfazer o grande equívoco que foi a troca do nome do aeroporto de Salvador. Agora, chama-se Luís Eduardo Magalhães, em homenagem ao político baiano falecido em 1998. É uma prova de que o coronel da atualidade será sempre mais lembrado do que todas as lutas gloriosas do passado. Deveria voltar a se chamar Dois de Julho porque essa é uma data fundamental para a Independência do Brasil, tão ou até mais importante que o 7 de Setembro. Ela é a prova de que a Independência do Brasil não se resume ao Grito do Ipiranga.
http://www.laurentinogomes.com.br/blog/?p=117#
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