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Tristeza pela morte do Domingos Costa e o primeiro Ouro no primeiro dia

Começo essa coluna lamentando muito a morte do Domingos Costa, dono da Vilma Alimentos; seu vice-presidente na empresa, Cezar Tavares e demais funcionários e pilotos que estavam com eles, no acidente aéreo ontem em Juiz de Fora.

Grande figura humana, Domingos era Conselheiro do Cruzeiro e por pouco não sucedeu a Zezé Perrella na presidência do clube. Amigo do Dr. Gilvan de Pinheiro Tavares, aplaudiu e apoiou a sua postulação ao comando do clube.

Infelizmente, como dizia o ex-atacante Dirceu, também morto precocemente em acidente, porém, de carro, no Rio de Janeiro, “vida que segue!”.

A tragédia com o Domingos deixou todos os mineiros da imprensa aqui em Londres chateados, mas pelo menos tivemos uma notícia positiva, no esporte, com a surpreendente conquista da medalha de ouro no judô, pela Sarah Menezes, categoria 48 Kg. Essa vitória tem um valor maior ainda porque é fruto do trabalho pessoal dela, na cidade natal, Terezina; fora de todas as listas de favoritas da imprensa brasileira, que só vê chances de medalhas em atletas da região sudeste, especialmente de São Paulo.

 

Guerreira

 

Sarah Gabrielle Cabral de Menezes não tem nenhum patrocinador público e recebe uma mixaria do “bolsa atleta”, do Ministério dos Esportes. Os maiores recursos para a sua manutenção e treinos, na Associação de Judô Expedito Falcão, do Piauí, são dos apoios oriundos da Sadia, Samsung, Embratel e Newland (rede de concessionárias Toyota), com presença no Ceará, Piauí e Distrito Federal.

Fico imaginando quantas “Sarahs Menezes” poderíamos ter em muitas outras modalidades no Brasil, caso o investimento na formação e preparação de atletas, do governo e entidades do esporte, fosse significativo.

 

Inversão

 

E pensar que o Comitê Olímpico Brasileiro – COB -, gasta R$ 23 milhões entre aluguel, montagem e manutenção só com uma “Casa Brasil”, durante o período de realização dos Jogos Olímpicos. Instalada na antiga sede da marinha britânica, às margens do Rio Tâmisa, numa das regiões mais nobres e caras da capital britânica, sob o pretexto de divulgar as coisas do Brasil e servir de palco para as entrevistas de atletas e dirigentes.

Tudo bem, mas não poderia ter um custo bem menor?

Querer mostrar os que não somos, para quê?

 

Jogo do poder

 

Só mesmo a vaidade e ânsia de se manter no poder dos dirigentes para poder explicar custos tão altos em empreitadas que poderiam ser evitadas, ou custar muito menos. O ideal seria privilegiar a formação de atletas, que além de inclusão social, tira jovens da zona de risco social em países com tantos problemas como o nosso.

Mostrar opulência só atende aos interesses pessoais dos dirigentes. Esta semana, por exemplo, o presidente do COB, Carlos Nuzman, foi eleito membro honorário do Comitê Olímpico Internacional.

 

Ciclo vicioso

 

Vivemos uma inversão de valores perversa na sociedade brasileira e o esporte é um dos carros chefes disso. A maioria absoluta dos dirigentes que assumem o comando quer se perpetuar no cargo de qualquer forma. Tornam-se ditadores dos seus feudos e curtem as mordomias e outras benesses desses cargos, distribuindo “pentes e espelhos” a apoiadores. Muitos entram pobres ou quebrados e ficam ricos.

É assim nas ligas amadoras, nos clubes profissionais e principalmente das federações e confederações nacionais.

 

Primeira classe

 

No mesmo voo que me trouxe de Lisboa a Londres vieram exemplos clássicos desse tipo de gente e situação que estou relatando. Presidentes de federações de futebol que ajudaram José Maria Marin a se firmar no cargo que era ocupado por Ricardo Teixeira, vieram como convidados do novo dono da CBF. Com suas acompanhantes, em primeira classe, falando alto, contando vantagens, rindo dos colegas de federações que ficaram “chupando o dedo” no Brasil e que não foram convidados porque não “ajudaram o homem” a se sentar na cadeira do antecessor.

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Pátio interno da Casa Brasil, com a bandeira brasileira em destaque e R$ 23 milhões em 20 dias
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A entrada principal da casa Brasil, de frente para o Rio Tâmisa, área das mais caras de Londres

 

 

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No mesmo prédio da Casa Brasil está havendo exposição em homenagem aos 50 anos dos Rolling Stones

 

CERVEJAVONTADE

 

Cerveja é proibida nos estádios brasileiros, mas são muito consumidas nos estádios dos Jogos Olímpicos


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Comentários:
2
  • Evandro disse:

    Olá Chico,
    realmente este acidente com o avião da Wilma foi uma tristeza enorme para mim também, já que o piloto desta aeronave foi meu professor de navegação aérea, o comandante Jair Barbosa, grande figura humana. Enfim, é seguir adiante, uma pena não se poder voltar atrás e mudar isso.

    Quanto ao caso do Brasil nas olimpíadas, da CBF e dos puxa sacos do Marin, é uma vergonha tudo isso. Infelizmente este tipo de coisa acontece não é só lá em cima, no alto escalão. Acontece aos montes nos nossos bairros, no trabalho, enfim, em todo canto, só muda a proporção e o tipo de proposta, mas na realidade sempre tem alguém ‘trabalhando’ para se auto-beneficiar ou ajudar a um grupinho em detrimento do restante. Tem sempre alguém tentando de tudo para tirar vantagem e se dar bem. Só que, em muitas das vezes, acabam prejudicando outros pobres inocentes. Fazer o que?

    Quanto ao caso da medalhista de ouro no judô, a Sarah Menezes fez história e conquistou uma vitória linda, emocionante, de encher os olhos mesmo. Veio focada, determinada, acreditou em si e venceu. Apesar das condições limitadas veio o ouro. Porém, poderíamos ter muito mais medalhas se fosse feito um investimento sério no esporte, o que não ocorre.

    Fato bastante comum é que geralmente ficamos atrás de países muito menores em tamanho e densidade populacional, como a Itália, por exemplo, que sempre conquista muito mais medalhas que nós brasileiros. Quando estive lá em 2008, fui obrigado a engolir seco as brincadeiras deles ao dizer que eles eram um país no mínimo 20 vezes menos que o nosso, com o triplo das medalhas conquistadas. Claro que se for estender o assunto vou escrever muito tempo sobre questões econômicas e políticas, mas que é uma pena, ah isso é. Um dia quem sabe isso não muda?!

    Abraços e boa semana a vc Chico e a todos seus leitores,

  • Frederico Dantas disse:

    Chico.

    Um comentário sobre o tópico “Jogo de poder”. Dizer que Nuzman foi eleito membro honorário do COI é uma vendeta que tem sido veiculada em releases principalmente do COB, entidade em que manda e desmanda.

    Na verdade, o senhor Nuzman foi jubilado; aposentado compulsoriamente no COI, segundo as regras que regem o comitê desde o ano 2000. Felizmente o que houve foi uma perda de poder do Nuzman no COI, basta ver as atribuições de um membro honorário – praticamente nenhuma. O que ele sempre quis e que representava poder de verdade na entidade era ser eleito para o comitê executivo. Foi encostado sem conseguir.