Senhores,
em tempos de eleições, vale a pena ler essa entrevista, publicada hoje em nosso jornal SETE DIAS, de Sete Lagoas, onde o cidadão fala o que a maioria de nós gostaria.
Um desabafo contra uma situação que atinge todo o país:
* “Não voto em ninguém”
Cansado de enganação, setelagoano protesta e prega voto nulo
Quem entra na tranquila localidade de Fazenda Velha, a 20 quilômetros do centro de Sete Lagoas, sente um impacto ao ler as duras frases contra os políticos, pintadas em muro à direita, na área mais central do lugar, ao lado do comércio e da Escola Municipal Aurete Pontes Fonseca.
Numa dessas frases pede que os candidatos nas próximas eleições não se aproximem do seu filho para não lhes passar “maus exemplos”.
O autor é o micro-empresário André de Souza Abreu e Silva, 33 anos, que usou o muro da sua própria casa para manifestar a sua revolta contra a falta de compromisso popular da classe política e o tratamento desigual dado pelo governo às micro e pequenas empresas, em relação às grandes nacionais e multinacionais.
Na parede da sua loja de rações e produtos agrícolas, afixou página de uma edição do SETE DIAS em que a manchete diz: “Políticos terão que devolver 833 mil”
No dia da Pátria, sete de setembro, ele faria um protesto mais radical no centro da cidade, chutando placas de candidatos espalhadas nas esquinas, mas foi demovido da ideia pela esposa, Samantha, com quem tem o filho Tiago, de sete anos.
__ Quando se tem esposa e filho é diferente, e a gente tem que se controlar para não fazer besteira e prejudicar a família -, afirmou, em conversa com a reportagem do SETE DIAS.
__ Voto desde os 16 anos de idade e todos os políticos em quem votei, e que chegaram ao poder me decepcionaram. -Diz André, que agora prega o voto nulo, uma prerrogativa da democracia.
__ Agora entendo porque a maioria das pessoas só vota porque são obrigadas: a corrupção e falta de compromisso desanimam e faz com que todo mundo se afaste da política e prefira falar de futebol, novela e essas coisas.
André se cansou da conversa dos políticos, que segundo ele, não leva a lugar nenhum, pois depois de eleitos não cumprem o que prometem, além de só reaparecer daí a mais quatro anos.
__ Não quero mais saber dessa gente. O governo faz campanha para que o voto seja consciente. Você vota e, um, dois anos depois, está lá o sujeito em quem você votou aprontando coisa errada. E como fica a sua consciência? Confiar em quem nesse jogo? Como ficar sabendo quem são os “fichas-sujas”?, porque “ficha-limpa” é obrigação de todo mundo. Nem na internet a gente descobre.
A revolta de André Silva não se resume apenas aos candidatos e políticos locais. Como micro-empresário acha absurdo o tratamento desigual que os governos municipal, estadual e federal dão ao setor:
__ Isentam as grandes empresas nacionais e multinacionais de muitos impostos e quando elas passam por alguma crise, criam incentivos para que vendam mais, como é o caso do IPI para as montadoras de automóveis e fábricas de geladeiras, fogões, lavadoras etecetera; coisas que você compra de vez em quando. Mas aumentam os impostos da ração, por exemplo, um produto comprado toda semana por famílias que têm seus cachorros, gatos, pássaros, enfim; inviabilizando o trabalho de pequenos comerciantes como eu.
Incentivado pela maciça propaganda do governo federal para tornar-se um Empreendedor Individual, legalizando a sua atividade para ter direito a créditos oficiais e a outros benefícios, André aderiu ao programa há quase dois anos e se arrependeu:
__ Tentei obter capital de giro, mas só liberam até R$ 2 mil, o que não dá para comprar uma carga de ração; além da burocracia que é tão grande que qualquer um desiste. É pra fazer a gente de bobo. Desde que aderi só recebo os carnês de taxas e impostos para pagar. Toda hora a gente ouve falar de pequenos empreendedores fechando as portas, voltando à informalidade.
Neste ponto está outra fonte de revolta contra os políticos:
__ Com os impostos que pagamos, eles destinam verbas para os partidos e agora falam até em financiamento público de campanhas. Por isso temos tantos partidos, que por sua vez querem ter cada vez mais filiados e gente eleita para aumentar as suas verbas, que saem do nosso bolso, sem nenhum retorno para nós, nem para a população.
Apesar de tudo André não desanima de exercer a cidadania e acredita que dias melhores estão por vir. Cita o julgamento do Mensalão e a CPI do bicheiro Carlinhos Cachoeira como dois exemplos positivos. Entende porém, que as pessoas precisam se posicionar mais, protestar e pressionar para que as leis sejam mais severas, especialmente contra os políticos:
__ Se para conseguir um financiamento a gente tem que dar carro, casa e outros bens como garantia, deveria ser assim também com os políticos para que eles assumissem qualquer cargo. Se roubassem no cargo, seus bens seriam usados para ressarcir aos cofres públicos. Mas não é assim. Um ex-Senador aí (Luiz Estevão-DF) foi condenado a pagar R$ 468 milhões à União, mas poderá pagar a dívida em 96 meses.
André diz que hoje o crime político “ainda compensa” devido à impunidade e cita Fernando Collor como melhor exemplo disso:
__ Foi cassado por corrupção, hoje é Senador e aliado de Lula, de quem foi inimigo até outro dia mesmo.
O micro-empresário não pretende parar com os protestos e defende a mudança do axioma que diz que “política, religião e futebol não se discute”.
__ Devia ser obrigado a discutir política todo dia para que as pessoas parassem de se enganar. Hoje a maioria escolhe um candidato a vereador na hora de votar, quando chega no local de votação e pega um santinho qualquer no chão para pegar um número qualquer. Por isso os candidatos sujam tanto as portas das escolas no dia da eleição, jogando montes de santinhos.
Na véspera da eleição, dia seis, ele fará um protesto solitário nas margens da Lagoa Paulino, portando cartaz pregando o voto nulo.
André foi mesário nas últimas seis eleições, mas pediu para não ser mais convocado para poder ficar livre para protestar dessa vez.
__ Ainda acredito em pessoas bem intencionadas que estão entrando na política, e falei isso ao Max Tadeu, um amigo que faz ótimo trabalho pelo esporte e pela cultura, e até votaria nele, mas infelizmente nessa não será possível, porque anularei geral.
No dia sete, a ideia do André é pregar o voto nulo durante todo o dia, na Fazenda Velha, até por volta das quatro da tarde, quando comparecerá ao seu local de votação, portando um nariz de palhaço, para cumprir com a obrigação de comparecer à urna, na Escola Estadual Edith Furst, no Bairro Eldorado.
» Comentar