Amigos,
tomo a liberdade de mostrar às senhoras e senhores o meu diálogo com o Armando Cordeio, leitor da minha coluna no jornal O Tempo.
Ele discorda do que escrevi hoje, sobre o clássico de ontem, e deu-me a oportunidade de falar sobre uma situação muito comum vivida por nós da imprensa, quando questionados sobre o time para o qual torcemos.
Também “oportuniza-me” (valeu Celso Roth!) a mostrar o quanto é bom poder dialogar com leitores e ouvintes, quando a pessoa é educada, mesmo na divergência de opiniões e a dureza da cobrança.
* “Caro Chico;
Desenvolvi , durante a minha vida de torcedor que gosta de ir a estádios de futebol , o hábito de assistir aos “vídeos tapes “dos jogos que acabara de ver e , muitas vezes , constatei que tinha sido traido pela minha paixão clubística e que o jogo tinha sido , na realidade , muito diferente daquiloque jurava ter acontecido ! Alguns jogos de AtléticoxCruzeiro servem de exemplos:
-Galo 3×3 Cruzeiro : primeiro tempo 3×1 Galo , com três gols do Lacy e um gol mal anulado do próprio quando ainda estava 3×0 , gol de empate do Cruzeiro , de pênalte de Vander , no final da partida ; vendo o vídeo pela Itacolomi do Fernando Sasso , o pênalte foi um mão involuntária em um carrinho na linha de fundo que , se fosse a favor do Galo , não seria marcada ;
-Galo 4×0 Cruzeiro (Fábio de costas ): saí do Mineirão com a sensação de um verdadeiro massacre atleticano ; vendo o vídeo constatei que o Cruzeiro foi muito melhor e que não merecia perder ( a volta ganhou por 2×0 );
-Galo 3×0 Cruzeiro: massacre atleticano comprovado no vídeo , dois pênalties não marcados pelo juizão a favor do Galo , bola na trave e inúmeros gols perdidos ; ficou mesmo barato para o Cruzeiro;
-Cruzeiro 2×1 Galo ( ontem ) : assistindo ao jogo , a primeira impressão foi a de domínio total do Cruzeiro no primeiro tempo e que o Galo tinha jogado mal. Pelo vídeo tape (Soprtv2), constatei que o Cruzeiro , no primeiro tempo , teve apenas volume de jogo e só ameaçou o Galo nas jogadas dos pênalties e em dois fracos chutes de Diego Souza e Borges ; por outro lado , o ótimo goleiro Fábio fez duas ótimas defesas de chutes de Jô e Tardeli . Na etapa final , apenas um bom chute de Borges ( não sei porque êle foi substituido ) e nada mais para o Cruzeiro e, pelo lado do Galo , um gol , uma bola na trave e duas defesas epetaculares de Fábio contra Réver e Marcos Rocha . O Galo foi muito melhor do que seu adversário e não merecia a derrota !
Gosto das suas crônicas mas a de hoje eu achei um pouco tendenciosa , com um gostinho azul bem disfarçado ! Veja o vídeo tape e , depois , releia o seu artigo , ok ?”
Abraços ; Armando.
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Caro Armando,
obrigado pela leitura e por escrever-me.
É sempre um prazer dialogar com os leitores, principalmente quando recebemos boas informações e argumentos, mesmo quando as opiniões são divergentes, como é o caso.
Você mesmo dá a resposta ao questionamento que me faz, ao dizer que:
“. . .assistindo ao jogo , a primeira impressão foi a de domínio total do Cruzeiro no primeiro tempo e que o Galo tinha jogado mal. Pelo vídeo tape (Soprtv2), constatei que o Cruzeiro , no primeiro tempo , teve apenas volume de jogo e só ameaçou o Galo nas jogadas dos pênalties e em dois fracos chutes de Diego Souza e Borges . . .”
Isso é a mesma coisa que falar mal do árbitro depois de ver e rever, via TV, que naquele lance de difícil definição, o sujeito errou.
Muitos colegas meus fazem isso e considero uma covardia com os apitadores e bandeiras.
Eu escrevo as colunas sobre jogos, durante e ou imediatamente após a partida, e ontem, tive a mesma visão que você: primeiro tempo do Cruzeiro, que soube aproveitar as oportunidades que teve, através de pênaltis justos. O segundo tempo, do Atlético, que soube aproveitar apenas uma oportunidade, também de pênalti justo; entre tantas que teve, durante todo o jogo, inclusive algumas no primeiro tempo”.
Sobre justiça ou injustiça no futebol, tenho uma opinião bem clara, desde que me entendo por gente: o placar só é injusto quando há interferência clara do trio de arbitragem a favor de alguém. Se um time massacra o adversário, mas não aproveita as oportunidades, toma um gol e perde; incompetência dele, que não soube marcar e não conseguiu evitar um do concorrente. É o jogo, onde, nem sempre vence o melhor.
Por isso, arrematei a coluna destacando o esforço do Cruzeiro e cruzeirenses, dizendo: “A força que a torcida deu ao time, todo o trabalho de motivação que foi feito pela diretoria funcionaram e só não deu certo porque o Atlético tem elenco melhor.
No futebol, nem sempre querer é poder!”
Graças a este “conjunto da obra” melhor, o Galo acertou mais e errou menos nesta final, vencendo por 4 a 2.
E aí está a beleza do futebol e as paixões suscitadas por ele!
Quanto a achar que a coluna de hoje foi “tendenciosa” com “um gostinho azul, bem disfarçado”, é claro que discordo de você, mas sempre fico feliz quando alguém fica em dúvida para qual time torço, porque sou honesto no que escrevo e falo, mesmo quando tem que ser contra o nosso querido Clube Atlético Mineiro.
Ser atleticano é um prazer e honra, mas ser honesto na profissão é uma obrigação para com o público em geral, que me garante a credibilidade fundamental a um jornalista.
Também sugiro que você releia a coluna e acredito que observará a minha isenção.
Grande abraço e escreva sempre.
Chico Maia
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Aproveitando este papo com o Armando Cordeiro, presto a minha homenagem ao grande Normandes, zagueiro que honrou a camisa do Galo em fins dos anos 1960, início dos 1970, jogando em um grande time, marcado pela raça, e mesmo não tendo o melhor elenco, foi campeão brasileiro em cima de Santos (de Pelé), Cruzeiro (de Piazza, Tostão e Cia.), Botafogo (de Jairzinho, o “Furacão), São Paulo (de Cejas, Pedro Rocha…) e tantos outros monstros sagrados do futebol.
Este time me tornou atleticano e fiquei muito grato ao Normandes, dentista, que mora em sua cidade natal, Uberaba, honrou-me ao parabenizar-me, via facebook, por mais um título do Galo!
Aliás, o face do Normandes é Normandes Lima e certamente ele ficará feliz demais se todos os atleticanos enviarem uma mensagem de felicitações a ele, hoje, um dos responsáveis diretos pelo gigante que é o Clube Atlético Mineiro.
Ele é o primeiro, à direita, nesta foto, neste time de raça, base do que foi campeão brasileiro em 1971.
Da esquerda para a direita, em pé: Oldair, Vander, Grapete, Vanderlei, Mussula e Normandes;
agachados: Ronaldo, Amauri, Dario, Lola e Tião.
E aqui, à esquerda, o Normandes atual