Obrigado ao Marcio Amorim, que enviou este ótimo texto ao blog. Tenho pela Alemanha o mesmo sentimento que ele: país sério, povo fantástico.
O resultado do jogo de ontem foi o retrato da organização do futebol deles e do nosso.
Só lamento que a esperança demonstrada pelo Marcio no texto não vai se concretizar. Porque o Brasil só se desorganiza com o passar do tempo; seja no futebol ou na política; entra governo, sai governo e a farinhada do mesmo saco se reveza nos poderes, onde todos ganham, levando o dinheiro que pagamos com os nossos impostos.
Dizem que o Tite será o sucessor do Felipão. Certamente um treinador muito melhor e mais sério, porém é da mesma ciranda, que se cercará do mesmo tipo de gente que cerca o Felipão, inclusive com grande parte da mídia, que sustenta a fachada deste circo todo, patrocinada pelos bancos estatais, Petrobras, Eletrobras, Correios e etecetera e tal.
E repito: entra governo, sai governo, tudo continua na mesma. Dinheiro público aqui é sinônimo de armação para os eventuais detentores do poder se locupletarem e arrumar o lado dos familiares, amigos e amigos dos amigos.
* “Caro Chico!”
“Meninos, eu vi!”
Não estou plagiando o Gonçalves Dias. Quando o ocaso se manifesta – afinal já são 66 anos – temos o direito de procurar viver as poucas coisas boas que a vida nos oferece, porque a oportunidade era, seguramente, a última: assistir a uma semifinal de Copa do Mundo – entre Brasil e Alemanha, diga-se – e, ainda por cima, no Brasil? Claro que não se repetirá tão cedo! E fui. Paguei caríssimo pela besteira.
Sempre ouvi dos meus pais o clima de velório do Maracanaço de 50. Amanhã, vou reunir meus netos e lhes dizer que participei de uma tragédia. O Maracanaço de 50 foi uma simples brincadeira perto do que vimos ontem. O povo de Salvador (será por quê?) foi premiado com grandes jogos. O único grande jogo que veríamos, assim mesmo por causa do andar dos grupos, acabou em vergonha. Os brasileiros que têm vergonha na cara estão humilhados. Os atletas limitados que estavam lá, em menos de uma semana, estarão voltando e espalhando-se pelo mundo sério, rindo e contando piadas no avião, em busca de seus salários milionários.
A Alemanha é, decididamente, a minha segunda pátria. Povo educado, hospitaleiro, alegre e… sério. Sério no sentido de organização de respeito e na forma de administrar. Ainda que uma simples seleção de futebol. Existe uma praça em Frankfurt, (falta-me o nome no momento) que foi reerguida tal qual era poucos meses depois de finda a guerra. Sabem com que dinheiro? O público.
Pois bem! Caí no meio dos torcedores alemães. Conversamos de tudo antes, durante e depois do jogo. As quatro ou cinco pessoas com quem pude conversar deixaram as comemorações em sinal de respeito, pelo menos enquanto saíamos. E se desculpavam. Não senti naquilo nenhum tipo de gozação. Era de coração. Realmente, nós, torcedores, não merecíamos aquilo. O Brasil, que eles disseram amar, não merecia aquilo.
Aqui tudo é tratado com molecagem. A escolha de Felipão e Parreira não pode ter sido por competência. Há no ar um cheiro azedo de safadeza, no país da safadeza. A convocação de atletas que amargam banco na Espanha (?), na Itália e em lugares piores, no esporte, claro, como Rússia, Croácia não pode ser nada sério.
Muitas das convocações, desde o tempo do ridículo Mano Meneses, foram impostas por empresários ou pela CBF. Lembro-me rapidamente de um tal de Rômulo. O incrível Dunga levou o desequilibrado Felipe Melo. E havia um bando de jogadores comuns – a maioria absoluta – no atropelado time da ultrapassada dupla Felipão/Parreira. Falastrões pouco ou nada educados.
Aqui, tudo é tratado, de uns tempos para cá, tendo como princípio a Lei de Gérson. Em tudo se vê a chance de desviar algum para o próprio bolso ou para as campanhas de eternização no poder. Assim ocorreu com o porto de Cuba, com o programa Mais Médicos, que desvia milhões para o Governo de Cuba e não para quem “trabalha”, com a Petrobrás, com os mensaleiros. E por aí vai. E a turba ignara a bater palmas.
Muita gente ganhou com os estádios superfaturados; muita gente ganhou com a seleção; muita gente ganhou e roubou com a “Copa das Copas”, no dizer da dama de vermelho – mãe do PAC, o Plano de Ajuda a Cuba. E quem perdeu? O povo. Não o Zé Povinho, porque os pobres nem se aproximaram dos estádios elitizados, para que a FIFA a CBF tivessem um lucro astronômico. Segundo dizem, isentaram-na de impostos, que deve ter tido uma porcentagem desviada para fins imundos.
Vou dizer aos meus netos, no futuro: “meninos, eu vi”. Porém, tentarei parecer um avô gagá que viu naquilo o MARCO ZERO. Que tenha sido o fim desta tropa que suga o futebol brasileiro; que tenha sido o fim dos ingressos caros; que tenha sido o fim dos empresários; que tenha sido o fim dos governantes ladrões; que tenha sido o fim de técnicos ultrapassados e que não façamos disto o fim do mundo. Que sirva para sairmos da letargia. Que recomecem as cobranças e manifestações pacíficas pelo fim da roubalheira.
Com isto, o futebol brasileiro, que está sendo velado hoje, renascerá.
Márcio Amorim
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