Felizmente o cerco está se fechando cada vez mais, graças à intervenção do FBI e da banda sadia da polícia e justiça brasileiras. Sim, porque as senhoras e os senhores vão se lembrar dos noticiários dos anos 1990/2000 em que a CBF de Ricardo Teixeira era acusada de bancar mordomias para juízes togados, Desembargadores e até Ministros. Quem não se lembra do “vôo da muamba” na volta da Copa dos Estados Unidos em 1994, quando a cartolagem e muitos jogadores trouxeram todo tipo de contrabando e nada passou legalmente pela alfândega? A Receita Federal tinha como chefe um funcionário sério, Osiris Lopes Filho, que pôs o pé na porta, mas pagou caro por enfrentar a turma. Na Copa da França em 1998, a CBF/Teixeira bancou a viagem de desembargadores cariocas e esposas (ou não).
Ficou famoso também um torneio de futebol bancado pelo então “dono do nosso futebol” na Granja Comary em Teresópolis (Centro de treinamento da Seleção) para magistrados das cinco regiões da Justiça Federal do Brasil.
Acuado na presidência da CBF agora, Marco Polo Del Nero tentou emplacar o filho do ex-presidente José Sarney em seu lugar, Fernando Sarney. O mesmo cujo pai conseguiu, via judicial, impedir que o Estadão de SP publicasse, em 2009, uma longa reportagem sobre os negócios nebulosos que envolviam os interesses dele com os cofres públicos. Esperto, “sarneyzinho” tirou o corpo fora porque sabe que quem põe demais a cabeça pra fora, a terá numa bandeja logo em seguida, caso tenha rabo preso e contas a acertar com a polícia e justiça sérias. E nessa cúpula do futebol brasileiro pouca gente se salva.
Del Nero está seguindo passos semelhantes aos de José Maria Marin, Ricardo Teixeira e tantos outros verde/amarelos e gringos.
Chamo a atenção para o que dois grandes companheiros da imprensa escreveram estes dias. O Juca Kfouri, domingo passado, na coluna dele na Folha e Silvio Barsetti, no portal Terra, ontem. O Juca foi mais além e lembra escândalos impunes da política, inclusive do Mensalão Mineiro, e dos privilégios do Corinthians no governo federal graças ao ex-presidente Lula.
Barsetti, explica porque Del Nero teve que escolher este Marcus Vicente (PP/ES, na foto) para ficar no cargo que ele ocupou até ontem na CBF. Vale a pena ler:
* “Desfaçatez sem limites”
Juca Kfouri
O PAÍS de Eduardo Cunha, de Delcídio do Amaral, de Eduardo Azeredo não cansa de chocar.
O país de Ricardo Teixeira, José Maria Marin, de Andrés Sanchez não dá trégua.
O país, em silêncio, vê Marco Polo Del Nero renunciar a seu cargo na Fifa e indicar Fernando Sarney para seu lugar.
Como Cunha, Nero quer ficar no poder que lhe resta. Não quer renunciar à CBF como Teixeira, nem ser preso como Marin.
Como Sanchez se faz de seu desafeto, embora o tenha estimulado a não renunciar na CBF, indica um Sarney para substituí-lo.
Sarney é vice-presidente da região Norte da CBF, apesar de ser do Maranhão, no Nordeste.
Seu envolvimento em escândalos faz do mensalão tucano de Azeredo coisa menor, que o diga a Operação Faktor, da Polícia Federal, em 2006 —para não falar do bloqueio, pela Suíça, de uma conta dele, não declarada ao fisco brasileiro, de US$ 13 milhões, segundo revelou esta Folha, em 2010.
A contribuição dele ao futebol é tão nenhuma que não será surpresa se a Fifa, no atual surto moralizador, vetar a indicação.
Nero brinca com a cara do Brasil assim como o senador petista Amaral.
Eles insistem, mesmo diante de todas as investigações em curso na PF e no FBI, em continuar a não respeitar um mínimo de decoro.
Quem sai aos seus não degenera, ou segue degenerado. O pai de Fernando, José Sarney, um dia escreveu nesta Folha, a pretexto de saudar a conquista do pentacampeonato mundial pela seleção brasileira, que “Ricardo Teixeira venceu a tempestade”, como se a vitória nos gramados da “família Scolari” apagasse todos os indiciamentos do cartola na CPI do Futebol um ano antes.
O ex-presidente do Brasil, cuja família fez do Maranhão um dos Estados mais miseráveis do país, precipitou-se.
Teixeira não só não venceu a tempestade como afogou-se nela.
Nero aposta na falta de memória nacional, esquecido ele mesmo do que disse, dia 9 de junho último, na Câmara Federal: “Renuncia quem tem alguma coisa errada na vida, não é? Eu não renuncio, não”.
Pois renunciou, ao menos, ao seu posto na Fifa, antes que o pusessem para fora por faltar às reuniões da entidade, já que anda com um medo que se pela de sair do país.
A exemplo do que fizeram João Havelange, na Fifa e no Comitê Olímpico Internacional, e Teixeira, na Fifa e na CBF, Nero caiu fora para se poupar de ser caído.
Se Cunha resiste com desfaçatez desmedida, se Amaral está preso como Marin, se o julgamento de Azeredo demora mais que o tempo em que o Corinthians de Sanchez ficou sem ser campeão paulista nos anos 1950/60 e 70, Nero imita Cunha e abusa da falta de vergonha, nem aí para o prejuízo que causa à imagem do futebol pentacampeão mundial, humilhado pelo 7 a 1 que a gestão Marin e dele proporcionou.
E torcedor algum bate panela para exigir que Cunha e Nero vão embora, que Azeredo seja julgado e, pior, ainda aplaude Sanchez como se fosse ele, e não Tite e seus jogadores, os responsáveis pelo hexacampeonato brasileiro.
Atribuem a Sanchez o estádio erguido pela Odebrechet graças à intermediação de Lula que, nada republicano, foi o melhor presidente corintiano.
* * *
* “Nome do novo presidente da CBF foi última opção de Del Nero”
Silvio Barsetti
Ao se licenciar da presidência da CBF nesta quinta-feira (3), Marco Polo Del Nero só indicou o vice Marcus Vicente como seu substituto, depois de ouvir a recusa de Fernando Sarney e de ter o nome de Gustavo Feijó vetado por presidentes de federações estaduais. Os dois também são vices da entidade.
Fernando Sarney, nomeado recentemente membro do Comitê Executivo da Fifa, rechaçou a possibilidade de assumir o posto mais alto de comando do futebol brasileiro por se considerar vulnerável ao cargo. Ele, que é vice da Região Norte, tem pendências na Justiça e não gostaria de “ser vitrine”, como já havia relatado para a reportagem do Terra dois meses atrás.
Diante da negativa de Sarney, Del Nero recorreu ao nome do vice da Região Nordeste, Gustavo Feijó. Mas alguns presidentes de federações estaduais, que estavam na sede da CBF, foram veeementes e disseram que não aceitariam a escolha.
Restou então a Del Nero recorrer a Marcus Vicente, vice do Centro-Oeste e com quem mantém relação fria, principalmente depois que Vicente, deputado federal pelo PP-ES, consultou a Câmara para saber se poderia acumular a CBF com o parlamento. Fez isso sem o conhecimento da diretoria da entidade, que se sentiu traída.
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