Acredito que quase o Brasil inteiro gostou da mudança: sai a cara de “delator premiado” do Dunga e entra a cara de professor do Tite.
De Formiga-MG para o mundo, o gente boa Wellington Campos, correspondente da Itatiaia no Rio, twittou:
@wellingcampos “Bronca: novo técnico da seleção, Tite, será julgado na 6ª feira, no STJD, por declarações contra árbitro do clássico c/Palmeiras”.
Caso Tite não fosse o novo técnico da seleção brasileira essa informação passaria praticamente batida. É um dos custos que se tem de arcar por quem está no topo. O saudoso repórter Paulo Roberto Pinto Coelho, um dos melhores que o rádio brasileiro já teve, costumava dizer que “quem não pode com mandinga não carrega patuá!”.
Vejo o Tite como o profissional certo no lugar certo, apesar de dois anos de atraso, já que Dunga foi uma brincadeira de mau gosto da CBF, duas vezes. Tem tudo para dar certo. Também vejo um exagero na exaltação a ele, uma verdadeira bajulação, principalmente por parte da imprensa de São Paulo. Essa história de “salvador da pátria” é a coisa mais ridícula que se tem notícia, seja na política, futebol ou qualquer atividade. Tite é humano, mortal, cheio de virtudes e defeitos como qualquer um. Tem uma forma de discursar chata, empolada. Sim, as entrevistas dele são discursos, mas esse é um detalhe irrelevante, pois o que importa é o trabalho dele, nos treinos e jogos.
É também uma pessoa respeitada pelo caráter, pela transparência. Nunca pairou sobre ele ter qualquer esquema com empresários para indicar contratações para qualquer clube que dirigiu. Mas este será o primeiro primeiro teste à paciência e sangue frio desse gaúcho, já que o procurador dele é o Gilmar Veloz, um dos principais empresários de jogadores de futebol do Brasil. A imprensa vai apontar na primeira lista de convocados, os jogadores que “pertencem” ao Veloz, se houver.
Com vitórias, isso também passará batido. Caso elas demorem, o novo comandante será questionado por situações que até agora pouca gente tem falado: exigiu que a CBF contratasse o Edu Gaspar, que na teoria é o chefe dele na entidade; leva o filho para trabalhar com ele. O mesmo filho que foi o elo com o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, já que foi procurado pelo filho deste, para saber se o pai estaria aberto a um convite daquele contra quem Tite tinha assinado um manifesto pedindo a cabeça.
É importante frisar que o filho do Tite, Matheus, não é um paraquedista no futebol. Aos 27 anos, tem cursos no exterior, foi zagueiro do Cruzeiro-RS e trabalhou como auxiliar do Paulo Turra no Caxias, ano passado, além de ter trabalhado com o pai no Corinthians.
A Folha de S. Paulo de sexta-feira mostrou como foi o contato dos filhos do Del Nero e do Tite. E o Zero Hora, de Porto Alegre, fez uma reportagem com o Matheus, em fevereiro do ano passado, quando ele era auxiliar no Caxias.
Vale a pena conferir:
* “Filhos de Tite e Del Nero deram início à conversa sobre seleção”
Os filhos do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e de Tite, novo técnico da seleção brasileira, foram os personagens principais da negociação para a substituição de Dunga, demitido na terça (14).
Marco Polo Filho e Matheus Bachi foram os primeiros a se falarem sobre o assunto e intermediaram a contratação, após mais um fracasso do time nacional –a eliminação na Copa América Centenário, para o Peru.
Com a ajuda de um amigo em comum, cujo nome não foi revelado para a reportagem, Marco Polo Filho conseguiu o contato do filho e auxiliar de Tite e imediatamente lhe mandou um recado por meio do celular.
A informação foi confirmada pelos familiares do técnico Tite e também por pessoas ligadas a Del Nero.
Foi de Matheus o papel de dar uma esperança e uma resposta positiva para o mensageiro do cartola CBF: disse que, sim, seu pai poderia ouvir o convite que seria feito pela entidade e falou também que comandar a seleção brasileira era o sonho de Tite.
Não acertou nada, mas escancarou as portas para o encontro acontecer na terça-feira (14) à noite, na sede da confederação no Rio de Janeiro.
Aos se falarem, os filhos evitaram que seus pais entrassem em contato antes que fosse, enfim, consumada a saída de Dunga, no comando desde a saída de Luiz Felipe Scolari, em julho de 2014, após a traumática queda por 7 a 1 diante da Alemanha na semifinal da Copa do Mundo.
VIDA NOVA
Tite ainda não assinou seu contrato e nem falou sobre salário até o momento. Na conversa que teve com o presidente da CBF, disse que dinheiro não era o que lhe importava –ele ganhava cerca de R$ 400 mil no time alvinegro do Parque São Jorge.
Após receber uma homenagem neste domingo (19) e dar o adeus à torcida, de quem se tornou ídolo desde 2011, o treinador vai para o Rio de Janeiro resolver a sua vida.
Com ele, levou do Corinthians o seu fiel escudeiro e auxiliar, Cleber Xavier, seu filho, além de Edu Gaspar, gerente de futebol do clube.
Não será Tite, porém, que comandará a seleção nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Rogério Micale, que está há um ano com a base do Brasil, é quem estará à frente da equipe, o que o gaúcho considerou mais “justo”.
* “Filho de Tite inicia caminho para ser treinador: “Quero ser melhor do que ele””
26/02/2015
Matheus Bachi (direita) é auxiliar de Paulo Turra no Caxias
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