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Más gestões, dívidas e dependência do poder público ameaçam a sobrevivência do Villa Nova, um dos mais tradicionais clubes do país; primeiro campeão brasileiro da Série B

Foto: www.instagram.com/villanova.mg

Situação terrível do “Leão do Bonfim”, fundado em 28 de junho de 1908, campeão da primeira edição da segunda divisão nacional em 1971. Tenho acompanhado a tristeza e até desespero do Wagner Augusto Álvares de Freitas, grande jornalista, autor da excelente “Enciclopédia do Villa Nova – 100 anos”, livro que conta a história do centenário do clube, eleito recentemente presidente do Conselho Deliberativo alvi-rubro, que mal assumiu e se deparou com um quadro terrível.

Infelizmente o Villa vem passando por gestões complicadas há muitos anos. A prefeitura da cidade era das poucas de Minas Gerais que ainda ajudavam financeiramente a um clube de futebol, com verba garantida, aprovada pela Câmara Municipal. E não era pouca coisa: R$ 2,5 milhões.

Depender de verba pública para sobreviver é outro erro já que os municípios têm cada vez mais problemas e menos dinheiro. Um tradicional rival do Villa, de grandes embates nos gramados, aprendeu isso e está conseguindo se sorguer, de forma sustentável, com as próprias pernas e parceiros privados. É o nosso Democrata de Sete Lagoas, que quase retornou à primeira divisão estadual em 2020 e se prepara para a disputa da segundona 2021 novamente.

Reportagem de Rômulo Almeida, em O Tempo, de sexta-feira, e na sequência, pronunciamento da atual diretoria do Villa no facebook do Wagner Álvares, mostram o momento triste vivido pelo Leão:

* “Fim do Leão? Corte milionário da prefeitura agrava crise do Villa Nova”

Município alega irregularidades nas contas do clube e cancela transferência do dinheiro; Conselho Deliberativo nega problemas legais

A prefeitura de Nova Lima, na região metropilitana de BH, informou que não vai repassar a subvençao no valor de R$ 2,5 milhões ao Villa Nova, tradicional clube de futebol da cidade. Em nota emitida nessa sexta-feira (19), a administração municipal alega que entraves legais impedem a transferência do dinheiro. A falta desse recurso representaria o aprofundamento da crise fiscal do clube mineiro.

Segundo a prefeitura, o Villa Nova não apresentou certidões necessárias para o repasse e “há pendência de prestação de contas de anos anteriores”. Além disso, haveria risco de desvio de finalidade, visto que parte relevante dos recursos seria retida pela Justiça para o pagamento de dívidas do clube.

Resposta do Villa.

O presidente do Conselho Deliberativo do Villa Nova, Wagner Augusto afirmou que a posição da prefeitura é contraditória. “Fala-se que não houve prestação de contas nos últimos anos das diretorias executivas do Villa Nova. O João Marcelo foi presidente do Conselho Deliberativo do Leão no biênio 2018/2019! Por que não exigiu a prestação de contas nesse período? No mínimo, contraditório”, diz.

Ainda segundo o conselheiro, a prefeitura garantiu o repasse dos recursos, e o presidente executivo do Villa, Bruno Sartori, contava com o dinheiro ao aceitar assumir o comando do clube. “O presidente Executivo do Villa, Bruno Sarti Almeida, foi induzido a acreditar que o aporte financeiro da Prefeitura Municipal seria mantido. E por isso ele aceitou o desafio de ser presidente do Clube. Encaro  essa atitude do prefeito como uma punhalada pelas costas”, reclama Wagner.

Leia a nota completa da prefeitura de Nova Lima:

Com relação à subvenção no valor de R$ 2,5 milhões para o Villa Nova Atlético Clube no exercício 2021, a Prefeitura de Nova Lima esclarece que, após análises técnicas da Procuradoria Jurídica, Controladoria Geral do Município e Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, não encontrou mecanismos legais para efetuar tal repasse neste momento, pelos seguintes motivos:

1. O Villa Nova não apresenta as certidões necessárias para receber os recursos;

2. Há pendências de prestação de contas dos anos anteriores;

3. Haveria desvio de finalidade no repasse da subvenção, visto que parte relevante dos recursos seria retida pela justiça para o pagamento de dívidas do clube;

4. Há inquérito civil público em curso no Ministério Público para averiguar a legalidade dos repasses feitos nessas circunstâncias.

A não observância dos requisitos legais pode constituir ato de improbidade administrativa por lesão ao erário (tesouro público), implicando em uma série de penalidades.

Diante disso, a Prefeitura comunicou essa decisão à diretoria do Villa Nova e, aberta ao diálogo, colocou seu corpo técnico à inteira disposição do clube para que uma força-tarefa seja criada na perspectiva de encontrar alternativas, como a busca de parceiros da iniciativa privada para socorrer o clube neste momento de extrema dificuldade. Na hipótese de regularização das pendências elencadas, a subvenção será repassada, conforme foi aprovada pela Câmara Municipal de Nova Lima.

É importante ressaltar ainda que esses recursos deverão ser aplicados na categoria de base, e não no futebol profissional, segundo preconiza a legislação. Por isso, a implantação de um modelo de gestão moderno e eficiente no clube se faz urgente e necessária, de modo que o Villa Nova não dependa exclusivamente de recursos públicos para sua sobrevivência.

A Gestão Municipal reconhece a importância dessa instituição centenária para sua torcida – e também para Nova Lima, inclusive nos cenários esportivos estadual e nacional –, mas reafirma que assumiu o governo com o compromisso de atuar sempre com responsabilidade e transparência na aplicação dos recursos públicos e, sobretudo, agir de acordo com a lei.

https://www.otempo.com.br/superfc/fim-do-leao-corte-milionario-da-prefeitura-agrava-crise-do-villa-nova-1.2462069

NOTA DE ESCLARECIMENTO

VILLA NOVA AC

No dia 31 de outubro de 2020 encerrou-se o mandato do presidente Antônio Márcio Botelho.

Ao fim desse período, o Villa Nova AC se viu sem comando de Diretoria Executiva, completamente acéfalo.

Após os resultados do pleito municipal, realizado em 15 de novembro de 2020, niciou-se um processo de articulação para eleição da próxima diretoria do clube. Após algumas postergações,

foi marcada para dia 2 de janeiro de 2021 a eleição para os cargos executivos do Villa Nova. Numa tentativa de salvação do clube, a atual diretoria foi reunida e se dispôs a enfrentar o desafio de evitar a morte da instituição, sabedora da enorme dificuldade que enfrentaria. Tal desafio só seria aceito se o Poder Público ajudasse no, primeiro momento, com o repasse da subvenção nos moldes dos últimos anos.

Cônscios das dificuldades, eu, Bruno Sarti, Cláudio Horta e Tiago Tito, expusemos a situação ao prefeito, João Marcelo Dieguez Pereira, expondo, sem rodeios, o cenário real e atual do Villa.

Sempre foi exposto e discutido que o clube não tem as CND’s exigidas por lei e que as preatações de contas da última administração eram sombrias.

Exposto isso tudo e discutido a finco, na manhã do dia 2 de janeiro, tivemos a resposta, naquele momento, de que o Villa receberia a subvenção no ano de 2021.

O prefeito se comprometeu a aceitar as condições, assim como a diretoria postulante.

Na tarde do mesmo dia, a atual diretoria obteve exito e foi eleita e empossada.

Para surpresa geral, o cenário de sucateamento e abandono do clube foi muito maior do que o imaginado. Um passivo entre outubro de 2020 e a janeiro de 2021, em torno de 200 mil reais.

A atual diretoria propôs e colocou em prática um choque de gestão para profissionalizar realmente o clube.

Foi feito um trabalho de reorganização do departamento medico. O Núcleo Avançado de Reabilitação Esportiva (NARE) será ou seria, um centro de reabilitação esportiva de nivel mundial.

O passivo com a FMF foi negociado. Jogadores com contrato de 12 meses (um verdadeiro absurdo) foram negociados a fim de não trazer mais dívidas ao clube.

O departamento de futebol já está estruturado, com a contratação apalavrada do gerente da comissão técnica.

O Departamento de Marketing também já contratado e com patrocinador para bancá-lo.

Ou seja, tudo encaminhado para deixar o Villa apto a retornar ao Módulo I do Campeonato Mineiro.

Faltava apenas o repasse prometido da subvenção pela Prefeitura Municipal, que foi aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal.

Para a surpresa desta diretoria, fomos informados no dia 19 de março, ontem, em reunião no gabinete do senhor prefeito municipal, que o Poder Executivo não repassará a subvenção. Os motivos alegados são os já sabidos e relatados anteriormente. Mesmo conhecendo a realidade com antecedência, e após firmar o compromisso, o prefeiro mudou de ideia e preferiu não repassar a verba historicamente destinada ao clube.

Em nome do Villa Nova AC, informo à torcida alvirrubra, esta que nos elegeu e nos tem com grande estima, que este ato praticamente sepulta o nosso Leão do Bonfim.

Vários acordos trabalhistas e administrativos estão atrelados ao repasse prometido e que não virá mais.

O Villa Nova, o alvirrubro das mesmas cores, mesmo nome e distintivo, uma paixão de quase 113 anos, o mais tradicional clube do Estado de Minas Gerais, desde ontem está praticamente condenado à extinção.

À procura e espera de um milagre, tentaremos até o último momento contornar esta situação.

Mas como temos o compromisso de transparência e sensatez com a nossa torcida, o cenário é terrível e desanimador. Infelizmente, com dor no coração, pode-se dizer que o nosso maior amor está com os dias contatos.

Nova Lima (MG), 20 de março de 2021

BRUNO SARTI ALMEIDA

PRESIDENTE DA DIRETORIA EXECUTIVA DO

VILLA NOVA AC


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Comentários:
4
  • Raws disse:

    Lembrando de um “detalhe” muito significativo.
    Edson Arantes do Nascimento foi um protagonista da decadência dos clubes menores com a tal “lei Pelé”.
    Os vários atletas que esses clubes revelavam e se tornavam com a venda, parte do orçamento, hoje só percentual, pois o grosso fica com os empresários.
    Mas não vamos tocar nessa ferida né, estamos falando do Pelé, num é?

  • Luiz disse:

    Puxa vida!
    O Vila Nova, que agora é Villa , com dois “Ls” agoniza nessa avalanche maluca que o futebol proporciona, privilegiando apenas os grandes e médios clubes. Ninguém sobreviverá enquanto não houver uma mudança radical no futebol brasileiro, sobretudo nas divisões inferiores. Um clube centenário, quase morto. Penso que o campeonato mineiro, deveria ser o ano todo, disputado em regiões e ao final desse classificassem uns 8 times para a disputa no ano seguinte com times de BH. Que se encontre um patrocinador único para todas as equipes. assim a visibilidade será muito maior.
    Clubes como os Democratas ( SL e GV ) Uberaba, Araxá, Meridional, Formiga, Tupi, Tupinambás e alguns que precisam ressurgir como o Valério. Tarefa árdua, mas que precisa ser encarada para a própria sobrevivência do futebol mineiro, pelo surgimento de novos valores, por movimentar as cidades do interior. Vocês não imaginam como é gostoso ver um time de tradição chegar na cidade para disputar uma partida com a equipe local. Ou quando chega um Atlético no interior…É muito legal aquele frisson local, esperando o jogo. Dá saudades.
    Enfim há de se encontrar uma solução para essa turma que morre aos poucos. Incluo o querido Guaraní de Divinópolis que luta com alguns abnegados. Caso não haja uma nova forma de disputa e sobrevivência, todos estarão condenados à morte ou ao ostracismo.

  • João Paulo Cavalieri disse:

    Um pena, clubes tradicionais como Villa, Valerio, Democrata SL, Democrata GV vão dando espaço a camisas artificiais como Coimbra, Tombense, anos atrás o famigerado Ipatinga, cruz credo!

  • Raws disse:

    Eu até entendo a prefeitura de Nova Lima dar um subsídio ao clube da cidade. Pela tradição, pela possibilidade de formar atletas e os tirando de caminhos tortuosos e outros fatores que o Vila Nova possa retribuir. Só que isso tem de ser temporário. Prefeitura com tantos problemas a resolver, acaba por não ser certo.
    Lembro de quando a Vale encerrou o “apadrinhamento” ao Valeriodoce, o clube quase acabou. A verdade nua e crua é, ” quem não tem competência que não se estabeleça”.