Falou-se demais em “legado” que a Copa do Mundo de 2014 deixaria para o Brasil. Em Minas, não deixou nada. Em Doha, sim. Por exemplo, este parque, Al Bidda”, quase no centro da cidade.
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Diz Nelson Rodrigues que “dinheiro compra até amor verdadeiro”. Pois, bem!
Não há a menor dúvida quanto aos métodos que o Catar usou para conseguir convencer os delegados da FIFA a votarem pela realização da Copa do Mundo aqui. A votação foi em 2010 e pouco mais de um ano depois, estourou o “FIFA Gate”, com a prisão de delegados e presidentes de federações das Américas do Sul e Central, África e Ásia. José Maria Marin, presidente da CBF foi um deles. Está tudo em muitos detalhes numa ótima série da Netflix, de apenas quatro episódios: “Esquemas da FIFA”. Vale demais a pena assistir.
Grana demais II
Por outro lado, valeu demais a pena também a Copa ter vindo para esta parte do planeta, onde os costumes e valores são completamente diferentes do nosso mundo. E só com a presença enorme da imprensa aqui para muita coisa inaceitável ser denunciada e obrigar aos governantes do Catar e países da região a começar a enxergar que o mundo mudou e que muita coisa que ocorre aqui não pode mais continuar. Sabemos que grandes mudanças acontecem devagar, mas a realização da Copa aqui, certamente vai dar um empurrão para que as coisas se desenvolvam mais rapidamente.
Pressão em movimento I
Algumas mudanças já aconteceram, como por exemplo, mulheres já podem frequentar um estádio de futebol. Em princípio, seria permitido só no período do Mundial, mas agora o governo já anunciou que deverá permitir permanentemente. Enquanto no mundo todo as mulheres ocupam posições cada vez mais importantes, por estes lados são tratadas como seres inferiores, sem direitos, só servem para procriar.
Pressão em movimento II
Com tantas mortes em acidentes de trabalho e péssimas condições aos trabalhadores, que a mídia denunciou, as organizações de defesa dos direitos humanos passaram a cobrar, e por causa de tanta pressão, finalmente o governo do Catar estipulou um salário mínimo de 250 dólares e diz que está fiscalizando para que as empreiteiras contratadas passem a dar condições de trabalho decentes aos operários da construção civil.
As jornadas de trabalho são malucas, em que o sujeito tem que trabalhar até 12 horas por dia, num calor que beira os 50 graus. O salário estipulado é uma mixaria para os padrões daqui, mas já é melhor do que antes, quando era similar a escravidão.
Onde a pressão não adianta
Algumas mudanças dificilmente vão acontecer, mas que não afetam a dignidade de um ser humano, como a proibição do consumo de bebidas alcóolicas e consumo da carne de porco. Por questões religiosas, isso é sagrado para eles e a população é acostumada desde o início da civilização. Estrangeiro é que reclama, mas todos são passageiros por aqui. Quem mora no Catar sabe que é assim e fim de papo.
Monarquia absolutista
O Catar é governado por uma monarquia absolutista, regime de governo que acabou no mundo ocidental nos séculos XVII e XVIII. É como se a família do Emir fosse a dona de tudo, já que o poder passa de pai para filho e eles controlam com mão de ferro, o governo e a justiça, sem parlamento para “incomodá-los”.
Bom demais da conta
O dia a dia no Catar está sendo ótimo para quem está cobrindo a Copa ou veio apenas para torcer e fazer turismo. País moderno, de tecnologia super avançada e que funciona de verdade. Melhor telefonia móvel que já vi na minha vida, onde 5G é 5G mesmo, ligação não cai nunca, fala-se de qualquer lugar, transmite-se mensagens de voz e vídeo com a mesma rapidez e qualidade.
Tem de tudo, e caro
Nas lojas, supermercados e serviços em geral, encontra-se de tudo. Neste mundo globalizado, os mesmos produtos que temos nas prateleiras das grandes e pequenas cidades do Brasil, são encontrados aqui, porém, a um custo muito maior. Quase o dobro na maioria das coisas.
“São QR Code”: tudo aqui é nessa base. Com o QR Code, tudo se resolve. Sem ele, você passa aperto
Quase 20 dias aqui e só tomei um copo de cerveja com álcool (a R$ 75,00). Já “desinchei” e perdi os quilos que meus queridos endocrinologistas, Dr. Jader Resende e Dra. Bruna Resende, viviam me cobrando a perder. Enviei esta foto para eles. Espero ganhar nota 10 nos próximos exames
Engana-se quem pensa que não há vendedores ambulantes dentro dos estádios da Copa. Como nos tempos do antigo Mineirão, eles passam com cerveja geladíssima e não perdi a oportunidade de experimentar a Budweiser sem álcool, a R$ 44,00
Parque, Al Bidda”, quase no centro da cidade. Espetacular. Enorme, com quadras de basquete, tênis, futebol. Pista de bike e outros atrativos
Os banheiros se parecem com templos
Com estação de metrô que não fica perto, fica dentro do parque. Incrível
Impressionante a torcida argentina, nunca vi nada que se compara, no Brasil e nem em lugar nenhum. Aqui, reforçada pelos indianos, que se dividem entre Brasil e eles
Metrô lotado de torcedores, mas todos abrem espaço para as mães que entram com suas crianças nos carrinhos e eles dormem o sono dos justos e inocentes, apesar do barulhão dos cânticos, cornetas e demais instrumentos musicais
Ecos do Passado
O grande repórter Afonso Alberto, com quem tive o prazer de trabalhar nas rádios Capital e Inconfidência, e com quem estou nessa foto, em frente ao Estádio Delli Alpi, em Turim, durante a Copa da Itália em 1990. Mais exatamente no dia em que o Brasil foi eliminado pela Argentina, nas oitavas de final, gol do Caniggia, passe do Maradona
* Esta é a minha coluna que estará amanhã nas páginas do jornal Sete Dias, de Sete Lagoas, que terça-feira, 29, completou 31 anos de existência
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