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De volta ao Brasil. Catar: quem foi gostou, mas cada um com seus problemas

O país, minúsculo territorialmente, concentrado na capital Doha, que tem morando nela, 85% de seus 3 milhões de habitantes. Mesmo com milhares de visitantes retornando a seus países diariamente, Doha leva a vida normalmente, com o intenso comércio cheio de gente, comprando, fazendo negócios, movimentando a economia.

Até os anos 1960/70 o país viveu a rudimentar exploração e exportação de pérolas e as dificuldades financeiras eram enormes. O petróleo tomou conta, mas tem data de validade. O gás natural, terceira maior reserva mundial, valorizado mais ainda pela invasão da Rússia à Ucrânia, demorará mais a acabar, mas o Emir quer mais para o futuro. Receber a Copa do Mundo, mostrar ao planeta as vantagens de se visitar e investir no lugar é uma das estratégias do governo visando tornar o Catar um destino turístico preferencial e seguro. Até agora, tudo certo, tudo correndo muito bem. Quem parte, vai com a melhor das impressões.

Construindo sonhos

A estrutura geral beira a perfeição. Facilidades de transporte, comunicações, opções de diversões, infinitas. Um shopping tem réplica de parte de Veneza, com passeios de gôndolas e visual do casario idêntico, Até o céu da famosa cidade italiana, pintado de acordo.

Outro shopping se parece com Miami, outro tem brinquedos que se remetem à Disney.

Um condomínio residencial, para estrangeiros ricos, faz lembrar Boca Ratton, na Flórida, e outras até mais chiques nos Estados Unidos. Belos lagos de água salgada, cercadas por arranha céus, de gosto duvidoso, que também fazem lembrar Miami.

Uma ilha artificial, de 14 Km/2, construída em tempo recorde, com marina para iates de todos os portes, lembrando Mônaco. É The Pearl (Ilha das Pérolas), onde ficaram famílias de jogadores e dirigentes, além de turistas com muita grana.

Katara é uma região que mistura centro cultural, gastronômico e comercial, unindo o passado, presente e perspectivas de futuro do país, com edifícios/réplicas de monumentos de Paris, Atenas e Roma.

Com tanto dinheiro sobrando, eles compram e contratam tudo e todos, para levar o que há de melhor. Dos arquitetos mais renomados ao time do Paris Saint Germain, a patrocínios de grandes clubes de futebol e outros esportes mundo afora.

 

Os “poréns”

Enfim, o Catar quer atrair gente que tem preferência por todo tipo de gosto. Para isso, precisará se abrir a costumes ocidentais. A única reclamação de quem foi é que o ambiente de qualquer Copa ou grande evento mundial não pode ser fechado totalmente às bebidas alcóolicas, como lá.

As mulheres locais não podem ser obrigadas a cobrir o corpo inteiro, com suas taciturnas roupas pretas, em que só podem aparecer os olhos e o nariz.

 

O mundo mudou

E muda permanentemente, mas o Islã não muda. Os duros costumes religiosos por estes lados do planeta não se alteram. Alguns governantes que tentaram, se deram mal. O Xá do Iran, Reza Pahlevi, por exemplo, foi derrubado pelo Aiatolá Khomeini em 1979 e teve que fugir do país, sem nunca mais poder voltar.

Pior destino teve o presidente do Afeganistão, Mohammad Najibullah, derrubado em 1992. Se refugiou na sede da ONU em Cabul até ser retirado à força pelos talibãs, em 1996. Linchado e pendurado de cabeça para baixo, depois de castrado e arrastado por um jipe. O corpo dele e do irmão ficaram expostos como exemplo à quem quisesse contrariar às leis islâmicas.

A coisa por aqui funciona assim.

 

O que pode e precisa mudar

Outras mudanças podem e precisam ocorrer. A maioria esmagadora dos trabalhadores do Catar é estrangeira e enfrenta jornadas de trabalho desumanas. Isso é notado em nosso dia a dia aqui. Um porteiro de um prédio perto do apart-hotel onde fiquei hospedado, parece que mora na cadeira em que fica sentado durante o dia e a noite. Sempre sorridente, mas com a cara permanente de cansaço. Trabalha inacreditáveis 15 horas por dia. Sem direito a reclamar.

Às 9h30, passei numa casa de câmbio que fica entre o meu hotel e a estação de metrô (Jooan), para trocar dólares por rial. Mas, estava sem o passaporte e teria que voltar outra hora. O horário de funcionamento é até 22 horas. Voltando para casa, peguei o passaporte e voltei. Para o meu espanto, eram os mesmos atendentes que estavam lá de manhã.

 

A dor de quem fica

Você ver a infelicidade e o cansaço na fisionomia das pessoas com quem você convive no dia a dia dói. Mesmo com o corpo todo coberto, as mulheres baixam a cabeça ou viram o rosto quando sentem que uma câmera fotográfica ou de celular pode estar apontada para elas.

Muito diferente do Brasil, onde as pessoas ralam, passam aperto, mas vivem, sorriem, superam as dificuldades, se viram, acreditam em dias melhores e acabam mudando suas vidas para melhor. Ou não, mas, pelo menos há esperança e perspectivas. No Catar, dificilmente.

The Pearl, bairro/cidade principalmente para estrangeiros endinheirados


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Comentários:
4
  • Jerônimo disse:

    Chico,

    Trabalhar 15 horas, sem qualquer tipo de proteção ou segurança social é uma das “maravilhas” do capitalismo, implantada pelo neoliberalismo…mundo afora.

    Aqui no Bananil, depois do golpe de 2016, fizeram a deforma trabalhista e a deforma previdenciária, logo por causa delas foi elevado o número de desempregados e potencializada a precarização e a informalidade do trabalho. milhares de dezenas de trabalhadores perderam o pouco de segurança social que tinham. Resultado: brasileiros trabalhando de forma intermitente, em subempregos, sem reajuste salarial, sem direitos, sofrendo por meio de uma falsa premissa de trabalho autônomo, que viabiliza a exploração por meio de jornadas de trabalho extenuantes, baixos salários e desamparo legal…enfim, em condições bem piores do que antes do golpe.

    Que o novo governo, democraticamente eleito, consiga, a partir de 2023, reconstruir o Brasil do desastre que foi esse governo miliciano e corrupto que se abateu sobre o Brasil nos últimos 4 anos.

    • Eduardo Silva disse:

      Golpe de 2016????

      Governo miliciano???

      Conversa mole e ódio do bem de um esquerdopata temos aqui também!

      Calma, defensor dos pobres e oprimidos, a partir de janeiro todos comerão picanha, não haverá mais pobres, viveremos o pleno emprego, blá, blá, bla….O paraíso está chegando…kkk Esse capitalismo selvagem é o que faz as pessoas fugirem dos Estados Unidos em botes para Cuba e que pulam a cerca para o México?

      Eu conto ou alguém conta esse desavisado que já começaram a lotear os ministérios, que as raposas já estão brigando para assaltar o galinheiro?

      Venezuela é logo ali… Vc tem cachorro em casa? Esconde ele, será uma carne muito apreciada…kkk

  • Alisson Sol disse:

    Mas ao menos terminaram as obras. Já as da Copa de 2014…

    E o time da França? Estava no aeroporto? Por que no primeiro tempo da final, eles faltaram. Vamos aguadar se chegam para o segundo tempo.

  • João Brás disse:

    Enquanto Ronaldo está lá no Catar engordando mais às custas da Fifa, o crucru vai levando chapéus. Rato e Romero estão quase acertados com São Paulo e Inter. Se Rato não vier, Formiga já chegou. SEGUNDONA à vista!