Foto: @Atletico/Pedro Souza
O bate-papo na Rádio CBN na tarde desta quinta-feira era sobre a rodada internacional da quarta e a do Brasileiro do fim de semana. Mas, bastou um dos comentaristas informar que o Corinthians tinha acabado de contratar o técnico Cuca, que a conversa mudou radicalmente. Parecia que tinha começado o noticiário policial. Começando pela âncora do programa, que desceu o cacete, chamando de hipócrita a diretoria do clube, que tem abraçado campanhas em defesa dos direitos da mulher e agora contrata um condenado por estupro na Suíça, crime cometido em 1987, durante uma excursão do Grêmio à Europa.
Ao mínimo esboço de tentativa de defesa do hoje avô, por qualquer participante do programa, a âncora e outros partiam pra cima, com argumentos firmes e palavras fortes; verdadeiros, para a infelicidade de Cuca.
Mais tarde, e hoje, em todos os meios de comunicação onde sai a notícia sobre o “novo técnico do Corinthians”, o foco principal é o “estupro coletivo” de uma menina de 13 anos em Berna, na Suíça, e o caso relembrado. Fazer o quê?
Quem comete qualquer crime, de maior ou menor relevância, tem que pagar. Na maioria dos países evoluídos, paga.
Daniel Alves está comendo o pão que o diabo amassou na Espanha, preso desde o fim do passado, acusado de estupro numa boate em Barcelona. Famoso, rico, poderoso, protegido, blindado e privilegiado no Brasil, está lá, atrás das grades, tratado como qualquer cidadão que tem contas a prestar à justiça espanhola. No Brasil é diferente; aqui ele estaria curtindo uma praia e as baladas, como se nada tivesse acontecido.
O mundo mudou, e mesmo em passos de tartaruga, o nosso país também está mudando. Se a justiça por aqui enxerga quando quer; os olhos e a voz das ruas têm sido implacáveis. A imprensa e as redes sociais não dão trégua e quem fica em débito, por alguma violação grave, está pagando, e caro. A vida do sujeito ou da sujeita vira um inferno, sem direito a sair de casa, pois será xingado, execrado e em muitos casos até agredido fisicamente. Se algum veículo de imprensa tenta proteger um “queridinho” ou “queridinha”, por algum intere$$e, as redes sociais denunciam e a situação dos envolvidos piora. Outros veículos, concorrentes ou não, entram na parada e esmiúçam a vida das figuras e de todo mundo à sua volta. Antes da existência das redes sociais havia uma espécie de pacto de silêncio entre os grandes jornais, rádios e revistas. Poderosos raramente se tornavam manchetes pelos delitos que cometiam.
Neste aspecto, a chegada da internet foi uma bênção. Pena que é incontrolável e todo tipo de absurdo é postado, impunemente. Essa é a grande diferença entre as redes e a imprensa formal. Enquanto na internet é muito difícil alguém ser condenado pelo que posta, os veículos formais, que têm CNPJ, têm de se virar para enfrentar as consequências pelo que publicam. Pagar advogados, gastar tempo e muito dinheiro, comparecer diante de um juiz, enfrentar audiências intermináveis, enfim…
No caso do Cuca, a condenação na Suíca foi para ele e mais três colegas de time, mas só ele está purgando publicamente, pois é o único que ficou mais famoso e ganhou mais dinheiro depois que parou de jogar bola. Ele tinha 24 anos na época. O tempo passou, se tornou pai, avô e um dos futebolistas de maior sucesso do Brasil. Se imaginasse que, 36 anos depois, estaria pagando tão caro, teria topado enfrentar os 15 meses a que foi condenado pelos tribunais suíços em 1989.
Em 2021, quando foi campeão brasileiro pelo Atlético, o nome dele surgiu como sucessor natural do Tite na seleção brasileira, para depois da Copa do Catar. A imprensa do Brasil e de boa parte do mundo passou a desenvolver pautas sobre essa possibilidade com viés delicados para ele, tipo: ele comandará a seleção em um eventual amistoso na Suíça ou país que poderia extraditá-lo para lá? A CBF aguentaria a pressão por contratar um condenado por estupro? O “Fair Play” pregado pela FIFA, cuja sede é na Suíça, admitiria isso?
Pois então! Morreu quase que no nascedouro a possibilidade de Cuca se tornar comandante da seleção, sonho de todo treinador brasileiro.
O exemplo vale para Robinho. Deveria acatar a condenação que lhe foi imposta pelos tribunais italianos e cumprir a pena. Do contrário, terá de conviver com a execração pública e todo tipo de limitações de ir e vir, sem falar no fim de suas atividades profissionais no futebol.
E vida que segue!
Mais detalhes sobre a triste história do estupro e a pressão que a diretoria do Corinthians está sofrendo, no portal da ESPN:
* “Cuca condenado na Suíça: o que se sabe sobre o caso envolvendo o novo técnico do Corinthians”
Foto: @Atletico/Pedro Souza
Cuca, na época jogador do Grêmio, foi detido ao lado de Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, também atletas. Todos foram acusados de terem estuprado Sandra Pfäffli, que tinha apenas 13 anos, durante uma excursão do Tricolor Gaúcho na Europa.
Segundo a investigação da polícia local, a menina se dirigiu ao quarto de hotel dos jogadores gremistas com alguns amigos para pedir uma camisa do clube brasileiro. Os atletas, então, expulsaram os acompanhantes de Sandra e a abusaram sexualmente.
Após cerca de 30 dias presos em Berna, os jogadores foram liberados e retornaram ao Brasil.
Depois de dois anos, Cuca, Eduardo e Henrique foram condenados à revelia a 15 meses de prisão por atentado ao pudor com uso de violência, enquanto Fernando foi condenado por estar envolvido no ato de violência. Como o Brasil não extradita seus cidadãos, eles não chegaram a cumprir a pena.
“Não fui julgado e culpado. Fui julgado à revelia, não estava mais no Grêmio quando houve esse julgamento com os outros rapazes. É uma coisa que eu tenho uma lembrança muito vaga, até porque não houve nada. Não houve estupro como falam, como dizem as coisas. Houve uma condenação por ter uma menor adentrado o quarto. Simplesmente isso. Não houve abuso sexual, (não houve) tentativa de abuso ou coisa assim”, disse o treinador em entrevista ao portal UOL, em março de 2021.
Desde a última quinta, muitos torcedores do Corinthians, especialmente mulheres, se manifestaram de maneira veemente nas redes sociais contra a chegada de Cuca.
Algumas torcidas organizadas, como Camisa 12, Estopim e Pavilhão 9, publicaram notas de repúdio. A Gaviões da Fiel, maior uniformizada corintiana, não se manifestou.
Na manhã desta sexta-feira (21), por sua vez, os muros do Parque São Jorge apareceram pichados com protestos contra a contratação do técnico.
Essa é a primeira vez que Cuca dirige o Corinthians. Ao longo de sua carreira, o treinador de 59 anos já passou por clubes como São Paulo, Palmeiras, Botafogo, Atlético-MG, Grêmio, Flamengo, Fluminense, Cruzeiro e Santos.
Em sua carreira, o comandante já conquistou uma CONMEBOL Libertadores (2013), dois Campeonatos Brasileiros (2016 e 2021), uma Copa do Brasil (2021), quatro Campeonatos Mineiros (2011, 2012, 2013 e 2021) e um Campeonato Carioca (2009).
A estreia do treinador será no próximo domingo (23), contra o Goiás, pela 2ª rodada do Campeonato Brasileiro. A bola rola às 19h (de Brasília), no Estádio da Serrinha.
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