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Paula Rangel se aposenta e volta a morar em Belo Horizonte

Foto: arquivo pessoal

Comemorando seu retorno às montanhas de Minas, Paula Rangel (centro) recebendo as boas vindas dos jornalistas Régis Souto (esquerda) com a esposa Jane, e Marcos Guiotti, com a esposa Vera, no restaurante República da Esbórnia, Av. Professor Mário Werneck – Estoril.

Não se trata de nenhuma jogadora de futebol nem presidente de nenhum clube. É a grande jornalista que passou os últimos 13 anos em São Paulo, mandando de lá as informações para os noticiários da Rádio Itatiaia.

Depois de 33 anos de profissão, Paula Rangel, uma das melhores do rádio brasileiro se cansou da correria da capital paulista e resolveu voltar a residir em Belo Horizonte de que tanto gosta.

Era uma das mais animadas lideranças da GaloSampa lá, e não deixará a torcida, mas agora, representando-a por aqui.  

Óbvio que na excelente forma em que se encontra não vai parar de trabalhar. Vai encarar trabalhos específicos, dar consultorias e já já soltará livros falando sobre jornalismo e de sua trajetória.

Com ela na foto, dois grandes companheiros da imprensa futebolística: Marcos Guiotti, que comandou durante muito tempo o esporte das rádios Globo/CBN e Régis Souto, ex-Sportv, que faz uma falta danada à nossa imprensa. Um dos melhores comentaristas do país, mas que trocou os microfones pelo marketing político. Foi Secretario de Comunicação da PBH nas duas gestões do Márcio Lacerda. Mas está com saudade do rádio e TV e breve deveremos tê-lo de volta.

Grande frasista e dono de sacadas geniais. Por exemplo, quando a imprensa informa com pompa que um clube contratou mais um “reforço”. Ora, ora, reforço mesmo e só mais uma contratação?

Achei em meus “alfarrábios” (ave Kafunga!) um artigo dele sobre isso e compartilho com as senhoras e senhores:

* “REFORÇO OU CONTRATAÇÃO?”

Hoje, vou contar para vocês uma das minhas criações na crônica esportiva. Não me lembro o ano, mas eu já estava com uma “moralzinha” na TV Horizonte, deve ter sido em 2005 ou 2006. Já tinha algum tempo de casa. Cheguei lá no final de 2002. Participava da bancada do programa Jogada de Classe, comandado pelo apresentador Orlando Augusto e que também tinha dois monstros do jornalismo esportivo do país: os saudosos Fernando Sasso e Willy Gonser, narradores que fizeram história.

Foto: divulgação

A situação ocorreu no início do ano, quando se concentra a maioria das transações de jogadores no futebol brasileiro. Em uma das manchetes de abertura do programa, Orlando falou com entusiasmo. “Time tal contrata mais um reforço para a temporada”. Meu lado publicitário até que gostou da valorização que ele deu ao jogador que estava chegando ao futebol mineiro. Mas meu espírito jornalístico falou mais alto.

Quando terminou a vinheta de abertura e o programa começou pra valer, minha primeira participação foi questionar a manchete do Orlando. Argumentei que ele havia exagerado ao chamar aquele jogador de reforço. Para mim, o currículo do cara não dava a menor pista que ele realmente iria reforçar a equipe. Aquilo estava mais para uma simples contratação.

Orlando gostou da ponderação. E passou fazer a seguinte pergunta sempre quando chegava gente nova no pedaço. E aí? Para você, Régis, é reforço ou contratação? Depois disso, alguns profissionais da crônica passaram a adotar a pergunta. Orlando sempre disse que foi criação minha. Até prova em contrário, tenho o dever de acreditar.

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Eu me lembrei desse episódio porque chegou a tal da janela de contratações no futebol brasileiro. Aliás, não sei porque chamam de janela. Poderiam chamar de período de contratações, temporada de contratações, intervalo de contratações. Mas, não. O futebolês do mundo atual tem como obsessão sempre dificultar a comunicação com o povo.

Tenho dúvidas se realmente fui o criador da diferenciação entre reforço e contratação. Mas uma certeza eu tenho: não fiz escola. Continuo ouvindo muito jogador “marrumeno” ser chamado de reforço. Essa geração mais nova tem uma enorme dificuldade em escutar os mais experientes. E para que o nosso torcedor e a nossa torcedora sejam melhor informados e tenham a real dimensão de quem está chegando ao seu time, vou dar aqui algumas dicas para que todos saibam quem é reforço e quem é contratação.

O ANÚNCIO

Quando anunciam a chegada de um jogador e você tem que ir no Google para saber quem é o cara, pode crer, não passa de uma mera contratação. Quando a novidade já agregou alguma identificação ao nome, aí a situação já muda de figura. Fulano do time tal. O cara já tem uma folhinha corrida, serviços prestados. Já é lembrado por algo positivo que fez na carreira. Com exceção para aquele centroavante argentino, o Palermo. Sempre será conhecido pelos três pênaltis que perdeu em um único jogo.

A CHEGADA

Você já deve ter ouvido a seguinte expressão: “esse aí é de pegar no aeroporto”. Se na chegada do jogador você ouvir isso, pode cravar que é reforço. E com R maiúsculo. Torcida organizada marca presença para receber, a chegada do sujeito chama a atenção do aeroporto inteiro, imprensa vai lá naquela lonjura que é Confins. Já no caso da contratação, a expressão é só “pegar no aeroporto”. Um motorista do clube chega lá com aquelas plaquinhas com o nome de quem ele está esperando. Antes de sair da sede, o motorista dá uma conferida numa fotinha do jogador para não dar muito na cara que o sujeito é um ilustre desconhecido. Se brincar, o time nem manda o motorista. Contrata um Uber para fazer o carreto. Existe até mesmo a possibilidade de alguém ligar pro cara, pedir pra ele tomar um taxi e pegar a nota. O tradicional depois a gente acerta.

APRESENTAÇÃO

Esta é diferença quilométrica. Geralmente, quem apresenta o reforço é o Presidente do Clube. Antigamente, já tacava no sujeito uma camisa de 1 a 11 pra mostrar que ele chegou para ser titular absoluto. Já há algum tempo inventaram esse negócio de numeração até 99. Mais uma das covardias que fazem com o torcedor. Antes, o torcedor sabia que o 2 é o lateral direito, o 6 o esquerdo, o 9 o centroavante. Agora, não. Quem não acompanha de perto o time, fica completamente perdido. Por sua vez, a contratação é apresentada pelo diretor de futebol. No máximo. Alguns microfones pingados na coletiva. A maioria da imprensa vai nas redes sociais do clube para ver o que o camarada disse. Pega imagens e fotos por lá mesmo. E a contratação chega humilde. Fala que veio pra somar. Literalmente, se entrega que é só mais um.

ESTRÉIA

Com raras exceções, o reforço estreia como titular. Estão nele depositadas as fichas para a conquista de títulos na temporada. Se joga bem, já sobe o primeiro degrau para subir da categoria de reforço para ídolo. Se joga mal, a imprensa pede paciência para a torcida. “Ele ainda está em período de adaptação”. “Ainda não está entrosado com o restante da equipe”. “Os companheiros estão descobrindo a sua maneira de jogar”. Inventaram agora uma tal de minutagem. Parece até que instalam um velocímetro nos jogadores. Para o reforço, é um tal de passar pano… Já no caso da contratação é bem diferente. Quase nunca estreia no primeiro tempo. Se joga do meio para trás, só entra se alguém machucar. Se a posição é do meio pra frente, entra geralmente em uma situação rabo de foguete, quando o leite já está praticamente derramado.

TORCIDA

No comportamento da torcida a diferença também é gritante. Logo no primeiro jogo o reforço é recebido com musiquinha na arquibancada. Se não der tempo de inventar uma original, vai o batido “olelê, olalá, fulano vem aí e o bicho vai pegar”. Se o reforço der sinal que vai chegar a ídolo, em pouco tempo surge uma saudação personalizada. Nesse quesito, a chance de uma contratação ser homenageada com musiquinha na arquibancada é a mesma que você tem de ler textos curtos aqui neste espaço.

Portanto, estão aí boas dicas para você ter a noção de quem está chegando. Vai por mim. Margem de erro próxima de zero, menor que qualquer pesquisa eleitoral. Se ainda tiver alguma dúvida, pode perguntar aqui. Trago a sua resposta em menos de três dias. E não cobro nada.

Você pode estar se perguntando se não existe nada em comum entre o reforço e a contratação. Claro que tem. Pode ser reforço, contratação, craque ou perna de pau, todos adoram a declaração de amor mais falsa que eu conheço: beijar o escudo.


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