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Zagallo foi um dos mais inovadores técnicos do mundo, dentro e fora de campo

Foto: CBF – Minha coluna no BHAZ:

Zagallo foi um dos maiores exemplos de superação e volta por cima no futebol

O “velho Lobo” se foi ontem, aos 92 anos de idade. A vida dele era o futebol e a família. Durante muitos anos teve grande ligação com Belo Horizonte, trazendo o filho para tratar da visão, no Instituto Hilton Rocha, então referência no assunto na América do Sul.


Era uma pessoa simples, gentil, apesar de passar imagem diferente nas entrevistas, quando os embates com a imprensa exigiam. Não fugia dos debates, era duro nas respostas e questionamentos, porém, terminada a conversa ou a “briga”, voltava a tratar o debatedor de forma elegante. Na Copa de 1994, como coordenador técnico, foi fundamental para que o Carlos Alberto Parreira tocasse a seleção com tranquilidade dentro dos gramados, pois fora, ele cuidava de enfrentar a imprensa e resolver outros problemas, muitos. Parecia que ia sair na porrada com alguns colegas jornalistas e radialistas em determinados momentos, principalmente com os paulistas, que pegavam mais no pé das escalações do Parreira e o trabalho da CBF. Momentos depois, a mesma cordialidade com todos.


Tive o privilégio de ser colega de trabalho do Tostão, na Band, no Minas Esporte, nos anos 1990. Antes ou depois do programa, eu matava todas as curiosidades que tinha sobre os bastidores do futebol, principalmente sobre alguns ícones da história com quem o Tostão conviveu, em especial na Copa de 1970, no México. O grande ex-craque contava que Zagallo foi o técnico mais inovador que ele teve até então, tanto nas táticas, quanto nos treinamentos e até na forma de tratar os jogadores de futebol. Modernizou, democratizou, abriu o diálogo entre comandantes e comandados. Era da tese de que os melhores tinham que estar entre os 11 titulares, mesmo se tivesse que improvisar. E assim, transformou Piazza em zagueiro na Copa, adaptou o próprio Tostão para jogar com Pelé e inventou o “falso” ponta, com Rivelino jogando pela esquerda.

Zagallo com Ronaldo durante a Copa da França em 1998. Foto: cbf.com.br


Pessoalmente, tive mais contato com o Zagallo durante a Copa da Itália, em 1990, em que ele foi como comentarista da Rede Manchete. Participava de todas as “resenhas” conosco, repórteres e comentaristas, de quase todas as incontáveis festas e recepções que o comitê organizador da Copa e cidades sedes organizavam. Era tido por muitos como aposentado como técnico de futebol, já que tinha comandado a seleção brasileira pela última vez na Copa de 1974 e depois passou por vários clubes, até ser convidado pela Manchete (hoje Rede TV) para ser comentarista.

Mas, com a chegada do Ricardo Teixeira à presidência da CBF, ele voltou com tudo ao poder. O sogro e mentor do Teixeira, João Havelange, então presidente da FIFA, era fã do “Velho Lobo”. Tinha sido presidente da CBD (atual CBF), e confiou a ele a missão de substituir João Saldanha às vésperas da Copa do México de 1970, em momento delicadíssimo do país, que vivia o auge do regime militar.


Depois do fracasso do Sebastião Lazaroni na Copa da Itália, Ricardo Teixeira chamou para a Copa seguinte, dos Estados Unidos, a dupla Zagallo/Parreira, do tri de 1970. E aquele “aposentado” de 1990 dava as cartas novamente, agora como coordenador, da seleção que viria a conquistar o tetra em 1994.
Em 1998 foi o treinador na Copa da França, que perdeu a final para os donos da casa. Com a derrota, parecia que tinha chegado o fim da trajetória dele na seleção. Ledo engano. Em 2006, lá estava dele como coordenador novamente, integrando a comissão do Carlos Alberto Parreira, na Copa da Alemanha. Porém, com a saúde debilitada, fora de combate. Certamente, se estivesse inteiro, desempenharia o mesmo papel de 1994 e não deixaria o ambiente da seleção se tornar aquela zona que foi, fora de campo, na preparação na Suiça e durante o Mundial.
Descanse em paz, Velho Lobo! O futebol agradece a sua dedicação e competência.


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Comentários:
6
  • João Carlos disse:

    Não há nenhuma dúvida de que Zagallo é uma das maiores personagens do futebol brasileiro, mas a pesar dos 4 títulos mundiais, a verdade é que ele nunca passou de um esforçado coadjuvante e um dos responsáveis pela supervalorização do cabeça-de-bagre no futebol, tais como Parreira, Coutinho, Lazaroni e alguns outros menos famosos que ajudaram a plantar e adubar as sementes de nossa mediocridade atual, da qual seremos herdeiros por mais muitas décadas. Além do exposto, o pachequismo dele aliado ao carioquismo subserviente ao poder, bem como ao bairrismo que simplesmente o faziam “desconhecer o futebol que era jogado no restante do país” fizeram mais mal do que bem ao esporte. Ninguém diz isso abertamente, mas a verdade é que fora do Rio, ninguém suportava esse cara.

  • Júlio Soares disse:

    A-pesar dos “feitos”, era muito bairrista, valorizava demais o Eixo em detrimento aos boleiros de outras praças.

  • Silvio Torres disse:

    Não vou detonar totalmente a carreira e as conquistas do Zagallo mas, como acontece em muitas outras situações, a “imprensa atleticana” do Rio costuma esconder os fracassos de seus protegidos. Assim foi com o Velho Lobo, que treinou pouquíssimos times pra quem tinha um currículo tão “vitorioso”. Praticamente nenhum grande clube brasileiro o queria e os poucos que o contrataram foi por falta de opção melhor. Na seleção mesmo, com gerações brilhantes nas mãos, fracassou em três Copas. Em 74 penou na fase de grupos – quem viu nao esquece o sufoco contra o Zaire – avançou aos trancos e barrancos até topar com a Holanda. Em 98 nao dá pra esquecer nem perdoar a atitude covarde, medrosa de botar Ronaldo pra jogar a final. Em 2006 foi cúmplice do maior festival de palhaçadas de um selecionado tupiniquim. Peço licença ao Levir Culpi pra definir a carreira do Zagallo: foi um medíocre com sorte.

  • Juca da Floresta disse:

    Boa tarde ChicoMaia,
    Da maravilhosa costa de Alagoas, da praia de Barra de Santo Antônio eu falo: zagalo pegou a seleção de 70 montada pelo inesquecível João Saldanha, ele não teria a competência de escalar esse time. Fez fama com a cama pronta. Deus o tenha.

  • Alisson Sol disse:

    Definitivamente uma grande pessoa, que descanse em paz.

    Agora, eu vou apresentar um ponto-de-vista aqui: é difícil ser treinador com Pelé, Tostão, Rivelino, Guarrincha, etc.? Ou com Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo? Acho também que a má administração do caso do problema de saúde tido por Ronaldo na final de 1998 cai sob ele. Definitivamente, um grande “motivador”. Mas, como técnico, acho que conquistou títulos em eventos com menos dificuldades tendo times que jogariam sem técnico. Não olho apenas os títulos, e acho que em termos de esquema Telê Santana foi melhor, em termos de leitura de jogo Luxemburgo foi melhor, e em termos de “fazer um bando de cabeças de bagre” funcionar como um time, o Autuori foi melhor (e não é por evitar a queda do Cruzeiro: ele venceu o Campeonato Brasileiro e Libertadores com times absolutamente “esquecíveis”!).

  • Raul Pereira disse:

    Chico, não concordo com seu lead.

    Zagallo era um técnico comum. Retranqueiro.

    Deu sorte na vida como jogador (mediano, nota 6 no máximo) e como técnico que herdou de João Saldanha um time pronto e se sagrou campeão do mundo em 1970.

    Mesmo assim, que descanse em paz – seja lá o que isso signifique, estou apenas repetindo uma expressão padrão que as pessoas usam em situações como essa.