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E lá se foi César Luis Menotti, o técnico argentino que quase veio para Minas em 1984

Como diretor de seleções da AFA, César Luis Menotti foi
importante para a confirmação de Lionel Scaloni (esq.) como técnico principal
da Argentina, campeã do mundo na Copa do Catar em 2022 (Foto: AFA)

Quem teve o privilégio de conviver ou trabalhar
com ele diz que era um grande ser humano. Como jogador, os mais velhos dizem
que foi um ótimo atacante. Como treinador, eu era muito novo, começava minha
vida de repórter, mas o tinha na conta como um dos melhores do mundo naqueles
fins dos anos 1970, início dos anos 1980. Foi o técnico da Argentina no
primeiro título mundial deles, em 1978. Em 1983 deixou a seleção e foi comandar
o Barcelona, onde ficou apenas um ano.

Em 1984 o então presidente do Atlético, Elias Kalil tentou contratá-lo. Na
época boa parte da imprensa mineira e nacional dizia que se tratava de mais um
“arroubo megalomaníaco” do Kalil, pois nenhum clube brasileiro teria dinheiro
para trazer um dos treinadores mais cobiçados do mundo.

Eu era repórter setorista do Atlético e todos os dias passava na sede do Galo,
Av. Olegário Maciel 1.516, antes de ir cobrir o treino na Vila Olímpica. Sempre
havia um diretor na sede, sempre aberto a bater papo com a imprensa, sem
necessidade de marcação prévia e essas frescuras da atualidade. O próprio
presidente Elias Kalil (pai do Alexandre) adorava bater papo conosco. Chegava
lá pontualmente às 14 horas. Raramente ia embora antes das 20.

Ele estava montando um grande time, visando o
título brasileiro de 1984. Menotti tinha acabado de sair do Barcelona, de
Maradona, e se tornou o sonho do Kalil para comandar o Atlético. Incomodado com
a imprensa que zombava da sua tentativa de contratá-lo, me passou o telefone da
casa do Menotti em Buenos Aires.

As negociações estavam adiantadas e a expetativa era positiva.
Liguei. Do outro lado, a voz inconfundível do próprio treinador:
__ Habla Menotti!
Não acreditei. Mas era o próprio, super gentil.
Em quase cinco minutos de conversa, disse que ficou feliz com o interesse do
Atlético e com a possibilidade de voltar a trabalhar no Brasil, agora como
técnico de futebol. Tinha jogado no Santos.

Falou também que financeiramente não haveria
problema, pois a proposta do Galo era "altamente" interessante.
Entretanto, tinha problemas a resolver na Argentina e que estava pensando em
“dar um tempo” na carreira e ficar um tempo sem trabalhar. Daria a resposta ao
Atlético dentro de três dias, depois de decidir com a família.
Três dias depois ligou para Elias Kalil agradecendo o convite, mas que passaria
um “período sabático”. E assim foi feito.

O Galo contratou Rubens Minelli, que era o técnico mais badalado do Brasil,
tri-campeão brasileiro, com o São Paulo e Internacional.
César Luiz Menotti só voltou a trabalhar dois anos depois, no Boca Juniors.

A CONMEBOL lamentou em suas redes: “La CONMEBOL lamenta el fallecimiento de César Luis Menotti, leyenda del fútbol y campeón del mundo como entrenador de @Argentina en 1978. Condolencias a los familiares y amigos.” (Foto: @CONMEBOL)


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Comentários:
2
  • Fred disse:

    Sobre o Menotti, no início de 1994 ele estava no Barcelona e Maradona havia acabado de cumprir suspensão por doping. Contam que, nos bastidores, ele foi consultado por dirigentes da AFA sobre a ideia de convocar el Pibe pra Copa’94 (o cara estava uma bola, praticamente um ex-jogador).
    Menotti ligou pro Maradona, perguntou se ele jogaria e o atleta topou, garantindo que iria se cuidar. Menotti então avalizou sua convocação pela AFA. Montaram um plano de recuperação pro jogador, que se manteve limpo, emagreceu, voltou a jogar em seis meses. Foi pra Copa, novamente pego no antidoping naquela fatídica partida contra a Nigéria, a última vez em que vestiu a camisa argentina. Menotti foi um dos poucos dirigentes argentinos que acreditou publicamente no Maradona, quando ele jurou que não tinha se dopado em 1994.

  • Alisson Sol disse:

    Não podemos esquecer de que participou da patotada no jogo Argentina 6-0 Peru na Copa de 1978. Não é candidato a santo. Descanse em paz.