De tudo que tenho lido e ouvido sobre a Copa do Mundo de 2014, o que mais me chamou a atenção foi essa reportagem da Folha de S. Paulo, sábado, com consultores alemães, que estiveram da capital paulista e estarão em outras cidades sedes, inclusive Belo Horizonte.
Na opinião geral de jornalistas e turistas que estiveram em Copas, a Alemanha realizou a melhor até hoje, em termos de organização, infra-estrutura e receptividade, além de tirar o melhor proveito do tal “legado”, inclusive no aumento anual de visitantes.
Baseado nas sete copas que já cobri, penso o mesmo que eles: a FIFA precisa ser peitada em muitas das exigências que faz ao país organizador, mas no Brasil, estão dando até mais que ela pede, como se fôssemos um país rico.
No nosso caso específico, cito um exemplo, sobre o qual até já falei há tempos: o Mineirão jamais deveria ter sido demolido para ser reconstruído, como estão fazendo.
Uma boa reforma, gastando infinitamente menos, o deixaria perfeito para a Copa.
Essa fortuna poderia ter sido usada para necessidades reais da maioria da população, como um metrô, por exemplo.
Mas…
Confira a reportagem, que certamente os senhores não verão na Globo e nem como manchete dos principais veículos de comunicação do país, por questões óbvias:
“Para consultores alemães, Fifa deve incluir até ambulantes na Copa-2014”
BERNARDO ITRI
DO PAINEL FC
Nos dois dias em que se encontraram com o comitê paulista da Copa-14, três consultores alemães defenderam que o governo tenha posição firme perante a Fifa quanto às exigências que a entidade faz às cidades-sedes.
Disseram que o Brasil precisa colocar sua cultura local acima das vontades da Fifa. E que nem o comércio informal deve ser preterido pelo governo, mesmo que ele vá contra os acordos comerciais da federação internacional.
Gerd Kolbe, Helmut Hausmann e Thomas Jedlitschka, consultores de cidades-sedes que participaram das Copas de 2006 e 2010, estiveram com os organizadores do Mundial em São Paulo e alertaram as autoridades sobre possíveis abusos da Fifa.
“A Copa precisa de aceitação popular para ser bem-sucedida na cidade. Para isso, a população não pode ser excluída. Tem que participar do evento”, afirmou Thomas.
“Apenas 40 mil pessoas comuns vão participar dos jogos na Copa. Mas o restante do povo precisa estar presente, senão a Copa não dá certo”, completou o consultor.
Até mesmo a provável exclusão de vendedores ambulantes no entorno dos estádios durante o Mundial é criticada pelos alemães.
Eles argumentam que esse comércio, por mais que seja irregular, deve ser tratado com a Fifa para que os ambulantes não fiquem ociosos.
“Se a população for integrada à Copa do Mundo, 90% da população vai aprová-la”, afirmou Kolbe.
Em visita ao Itaquerão, ontem, eles argumentaram que apenas com uma união das 12 cidades-sedes o Brasil conseguirá se impor à Fifa.
“A Fifa apenas realiza conversas bilaterais. Ou seja, não adianta conversarem todas as cidades separadas. É necessário haver uma união entre elas”, declarou Kolbe.
Ele lembrou que, dessa maneira, em 2006, Dortmund, uma das sedes da Copa, obteve grande vitória.
“A Fifa exigia que só fosse comercializada a Budweiser, mas isso foi revertido. Depois de uma negociação acirrada, ela autorizou a ser vendida a cerveja local, a Dortmund.”
Kolbe explicou que o Brasil tem que ter como referência a Alemanha, que endureceu nas concessões para a entidade, ao contrário do que a África do Sul fez em 2010.
E apontou que, pelo que pôde perceber no Brasil, o governo federal e São Paulo estão liderando essa “briga”.
Para visitar o Itaquerão, ontem, os alemães usaram transporte público. Saíram do centro de São Paulo de trem e voltaram de metrô.
Após fazerem a viagem fora da hora do “rush” -ida e volta em cerca de 30 minutos cada uma-, disseram ter ficado satisfeitos com o que presenciaram na cidade.
Em Itaquera, eles foram recebidos pelo diretor da Odebrecht Antonio Gavioli, que lhes apresentou imagens do estádio e os acompanhou em uma volta pelo terreno.
Os alemães ainda deverão ir a outras cidades do Brasil, entre elas, Belo Horizonte.
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