Texto dramático do José Sana, jornalista e diretor da Revista De Fato, de Itabira, sobre a situação do Valeriodoce Esporte Clube:
* Salvem o Valério ou afundem Itabira!
Amigos, não quero saber quem tem razão, se a Vale é culpada ou não; se a Prefeitura tem a sua parcela de má vontade ou não; se a comunidade está omissa ou não e se a diretoria do clube é incompetente ou não. Seja qualquer for a verdade, com voz ou entalado, dou meu grito particular, que registro para a história: salvem o Valério ou afundem Itabira!
A mãe do Valério todos conhecem: é a Vale, ninguém mais. Durante o governo de Olímpio Pires Guerra (1993-1996), a empresa doou à Prefeitura esse presente de grego e nós, da revista DeFato, noticiamos e denunciamos a entrega do futuro elefante branco. Por que presente de grego? Porque a doadora não deu condições para manutenção do clube. Minto. Ela chegou a planejar, estudar e criar o Valério S.A., mas tudo, como muitos projetos que vemos por aí, no Brasil e no mundo, ficou apenas no papel.
A comunidade não gostava, com desraigado amor, do Valério nos tempos em que a mineradora impunha, com dedo de ditadora, os seus presidentes. A torcida vaiava os jogadores, os chamava de “come-quieto”, porque os via receber da empresa um salário de supervisor, ficar por conta da bola, e nem sempre retribuir a confiança depositada com vitórias ou vontade de vencer. Quando o Valério começou a andar com as próprias pernas, aí, sim, os seus apaixonados adeptos cresceram e somaram-se a Ceomar Santos, Joaquim Cinédia, André de Caux, Joaquim Matheus, entre outras centenas de fiéis valerianos. É um paradoxo que poderia ser a justificativa do afastamento da mãe, que abandonou o filho e o deixou à mingua.
A Prefeitura é a dona das instalações do Centro Esportivo Israel Pinheiro. Também a municipalidade tem o dever de zelar pelo nome da instituição. Aliás, Prefeitura e Vale andaram subvencionando jogos do clube durante algum tempo, enquanto o barco afundava por falta de planejamento estratégico, sequer a médio prazo. É verdade que, de inadimplência em inadimplência, caminhou a proibição do poder público de manter as ajudas ou esmolas. Esta a saída para que não chegue ao clube um socorro financeiro direcionado à sua manutenção.
O secretário de Governo, Oldeni José dos Santos, teve e tem uma explicação inquestionável: todo o dinheiro que a Prefeitura depositar na conta do Valeriodoce Esporte Clube seria ilegal e, mesmo se fosse permitido, os valores seriam abocanhados pela Justiça, que já penhorou até as cuecas e os telhados do tradicional clube itabirano. Reginaldo Sá, em contraposição à palavra de Oldeni, diz que falta vontade política. Sem entrar no mérito da questão, não sabendo com profundidade até aonde vai o buraco, tenho o dever cristão e humano de concordar com o Nanaldo. Falta, sim, vontade política. Ou falta amor. Ou falta consciência. Ou sempre falta alguma coisa.
Abro um parênteses para dizer que o secretário de Esportes, Geraldo Martins da Costa, o Lado de Dona Dudu, não estava presente à coletiva desta terça-feira. Por quê? Qual o problema? Quando se trata de resolver as questões ligadas ao Sada/Cruzeiro, sempre o Lado caminha na frente. E por que não quando o abacaxi é duro de ser descascado?
Fecho o parênteses. Alguém está na UTI e esse alguém é importante para nós. É nosso irmão, patrimônio itabirano e a hora é esta de salvar a sua vida. O doente sofre de uma infinidade de males, está atacado de dores em todas as partes do corpo, os médicos dizem que somente um milagre pode salvá-lo. Mas nós, ao enfermo ligados, que o amamos fervorosamente, acreditamos no milagre porque o quase defunto ainda respira e respira forte.
Ao fazer as minhas colocações neste espaço em que posso exprimir o meu próprio pensamento independentemente até do conselho de meu pai que há 21 anos se foi, quero reafirmar que, pelo que sinto, a situação é grave. São dívidas acumuladas que estariam impedindo o clube de prosseguir a vida normal. Mas falta vontade política, concordo com Nanaldo, por culpa da falta de liderança à altura, falta alguém forte gritar com voz de trombone a necessidade de uma união geral em torno do objetivo único e inalienável: salvar o clube itabirano, tradicional, representativo de nossa vida, um símbolo da capital brasileira do minério de ferro.
Há quem pense, mas sem meditar e refletir convenientemente, que tanto faz o VEC resistir quanto ele morrer. Mas, eu digo não. E repito: não. Não, porque tudo reflete em nossa vida. A vida comunitária é um conjunto de lugares, objetos, pessoas, costumes, enfim, cultura, e ela permanece, continua, estabelece-se. Cria-se motivação ou o contrário, a paralisia e a depressão coletivas. O Valério faz parte de nosso sentimento, de nossa vida, de nossa respiração e precisamos tirá-lo dessa situação mesmo que seja morrendo por ele e com ele. Sem demagogia, porque não sou mais político e jamais voltarei a sê-lo: morro com ele porque amo Itabira.
Alô, Vale, Prefeitura, entidades comunitárias, religiosas, filantrópicas, educacionais, clubes de serviço, o povo todo, incluindo da região: vamos salvar o Valério? Ou vamos afundar Itabira? Escolham já e urgente porque o oxigênio do doente está acabando.
P.S.: Minha definição exata de vontade política: todos juntos motivados em busca de um ideal, porque na democracia quem faz não são os representantes do poder público, mas a comunidade civil organizada. Um dia a Fachi estava acabando, mas a vontade política do povo de Itabira criou a Funcesi, hoje um exemplo para nós. Que assim seja feito com o Valeriodoce Esporte Clube.
* http://www.defatoonline.com.br/colunas/?IdColuna=2