Numa quarta-feira, dia 28 de maio, o Atlético vencia a primeira partida da final do Brasileiro de 1980, no Mineirão, gol do Reinaldo aos quatro minutos do segundo tempo, diante de 90.028 pagantes. No dia seguinte fui mandado para o Rio, cobrir o Flamengo até o segundo jogo, no domingo seguinte, 1º de junho, no Maracanã, que receberia inacreditáveis 154.355 pagantes.
No aeroporto do Galeão um senhor com um largo sorriso me aguardava no desembarque:
__ Bem vindo à Cidade Maravilhosa garoto!
Era o Elísio Mauro Neto, repórter já famoso no rádio esportivo brasileiro, que me aguardava. Entramos em um Fiat-147, com a inscrição na porta: Rádio Capital – Rio. A partir dali ele era meu “tutor”, já que cobria o Flamengo e estava incumbido de levar o colega da rádio coirmã de Minas Gerais para o hotel e aos treinos na Gávea.
Mineiro de Poços de Caldas, Mauro Neto fez fama no rádio mineiro, em São Paulo e passava pela sua experiência carioca. Sempre gentil com todo mundo, dos porteiros ao presidente Márcio Braga, todos o recebiam de braços abertos no Flamengo e por onde passava no Rio.
Aquela final monopolizou as atenções do Brasil. Eram dois times fantásticos. O placar que o Galo fez no Mineirão era magro e não espelhou o que foi a partida. O árbitro Romulado Arpi Filho era conhecido como “coluna do meio”, por causa da maioria dos jogos que dirigia terminar empatados. Amarrava demais o andamento da partida, marcando faltas ao mínimo choque. Mas o Atlético era um time ofensivo em qualquer estádio e com Palhinha, Reinaldo e Éder, mais Cerezo “imarcável”, o otimismo em retornar campeão para Belo Horizonte era grande. Principalmente porque Zico tinha poucas chances de jogar. Tomara tanta pancada na competição que uma das pernas estava aos frangalhos. Fazia tratamento no Rio, sumido, para ficar sob cuidados médicos intensivos até na hora do segundo jogo, incomunicável. Na Gávea, nem pensar. Eram muitos os chutes dos colegas sobre em qual clínica ou hospital ele estaria “escondido”.
Depois do treino da sexta-feira à tarde, Mauro Neto ocupou o banco do passageiro do Fiat-147 e mandou o motorista tocar pra rádio. Eu, lá trás. Alguns quarteirões depois da Gávea o carro parou num sinal ao lado de um ônibus coletivo que tinha como destino a Barra da Tijuca. Da janela um rapaz gritou:
__ E aí “seu” Mauro? Tem carona aí?
Perguntei quem era o Mauro respondeu que era o “Serginho”, um dos massagistas do Flamengo.
Uai, num ônibus indo pra Barra? Emendei outra pergunta, já com o carro em movimento e o ônibus também:
__ Onde o Zico mora?
__ Na Barra!
Ora, ora, o massagista desceu no primeiro ponto seguinte e ganhou a carona.
Papo vai, papo vem, o danado do Serginho não falava onde estava indo de jeito nenhum; nem fazer o quê. Uma hora depois mandou parar o carro em frente a um conjunto de prédios de três andares numa área nobre da Barra da Tijuca. Agradeceu, desceu correndo e subiu pelas escadas. As portarias não eram fortalezas como hoje. Fui atrás e disse ao porteiro que o Serginho tinha esquecido a carteira no carro. No terceiro andar do prédio, estava a cobertura, calorão danado, porta aberta e lá estava o Zico. Sentado, vendo TV, perna esticada, fazendo tratamento com um outro massagista do Flamengo. Não dei nem tempo pra ele pensar que fosse um ladrão e já fui me apresentando. Ele franziu a testa, olhou pro assustado Serginho e falou alto:
__ Porra Serginho, você trouxe a imprensa, e ainda por cima de Belo Horizonte, caralho!
O massagista se desculpou com o “Galinho”, contou o que aconteceu e começou a chorar. Zico disse que estava tudo bem, que eu estava fazendo o meu trabalho e que falaria para mim, sob a condição de que eu não dissesse a ninguém onde ele estava e nem que tratamento estava fazendo.
Foram quase 10 minutos de entrevista, exclusiva. No domingo, o “Galinho” seria decisivo nos 3 a 2 sobre o Atlético, mesmo apanhando demais novamente. Depois que parou, contou em entrevistas que foi o único jogo da vida dele em que aceitou tomar infiltrações, já que aquele título seria importante demais para o Flamengo. Como realmente foi!
Esta foi a minha primeira experiência trabalhando com o Mauro Neto e graças a ele fiz este trabalho, importantíssimo para o meu crescimento profissional, em que eu comecei a ficar conhecido como um repórter “atrevido”.
Anos depois trabalhamos juntos na Rádio Capital em Belo Horizonte. Com o fim dela, ele foi para Itatiaia. Eu fui para a Rádio América e três meses depois para a Inconfidência.
Com alzheimer e outros problemas sérios de saúde, passou por maus momentos em seus últimos anos de vida. Porém, contando com o apoio da esposa, da filha Daniela e de companheiros de trabalho que surgiram como “anjos” na vida dele, como a Úrsula Nogueira, Emanuel Carneiro, Michel Ângelo, Bruno Azevedo, Carlos Sevidanis, João Vitor Xavier, Milton Naves, Álvaro Damião, Thiago Reis, Mário Henrique Caixa, Samuel Venâncio, Alberto Rodrigues, Ênio Lima, a Bia da Cantina, Fabrício Calazans, Suellen Versiane, Daniele Rodrigues, Cláudio Rezende.
O portal da Rádio Itatiaia falou mais sobre ele no dia 26 de julho:
“Ex-setorista do América na Itatiaia, radialista Mauro Neto morre, aos 78 anos, em BH”
O jornalismo esportivo de Minas Gerais perdeu um de seus expoentes. Morreu nesta quinta-feira (26), em Belo Horizonte, o radialista Mauro Neto, aos 78 anos de idade. Há algum tempo, Mauro vinha sofrendo com problemas de saúde.
http://www.itatiaia.com.br/noticia/ex-setorista-do-america-na-itatiaia-jornalist