Foi numa longa entrevista em ótimo trabalho da turma do Superesportes. Através dela é possível entender várias situações tanto do Galo quanto do Cruzeiro, apesar de o Marcelo se utilizar de muitas mensagens cifradas e não descer do muro para responder de forma mais objetiva e corajosa a várias questões. Vale a pena conferir:
* “Marcelo Oliveira abre o jogo: Atlético, Cruzeiro, críticas, feitos, polêmicas e futuro”
Em conversa com o Estado de Minas/Superesportes, técnico fala sobre vários assuntos polêmicos e revela sua pretensão profissional para o futuro
Roger Dias /Estado de Minas , Bruno Furtado /Superesportes , Renan Damasceno /Estado de Minas
Com dois títulos brasileiros pelo Cruzeiro e uma Copa do Brasil pelo Palmeiras, o técnico Marcelo Oliveira entrou para a galeria dos técnicos mais vencedores do país recentemente. Apesar disso, o mineiro de 62 anos está longe do futebol há sete meses, desde que foi dispensado pelo Atlético antes da finalíssima da Copa do Brasil, contra o Grêmio. Nesse período, teve propostas de clubes, mas não aceitou. Ele não descarta investir no mercado alternativo (Oriente Médio, China ou Japão) ou mesmo voltar a trabalhar no país. “O técnico não se pode dar ao luxo de escolher mercados. Vou trabalhar em algo que me chame a atenção, desperte a chance de fazer algo produtivo”, afirma Marcelo, que revelou ter tido problemas com Dagoberto na Raposa, há três anos, e o afastou do grupo. O treinador também disse não ter mágoas pela demissão no Galo, clube do qual foi ídolo nos anos 1970 e 1980. Na entrevista ao Estado de Minas/Superesportes, o treinador fala sobre as ambições para a continuidade da carreira e conta sobre os bastidores do sucesso no Cruzeiro.
Como estão sendo estes sete meses acompanhando o futebol mais à distância? Como tem sido essa reciclagem e busca por novos conhecimentos?
Tudo o que você faz que pode agregar ao trabalho feito é importante. Uma das formas que penso de reciclar é avaliar o próprio trabalho. Fiz três reuniões com minha comissão técnica para discutir nossos últimos trabalhos, o que foi bom e deu muito certo e o que pode ser melhorado. Essa comissão trabalha comigo há seis anos, quando conquistamos muita coisa. É sempre possível agregar e melhorar o trabalho. Vejo e analiso muitos jogos, gosto também de ler. A princípio, tive o interesse de sair do país para fazer cursos. Mas, ou eu fazia um curso curto, que não aproveitasse tanto, seria mais para dizer que eu fiz, ou muito longo, que confrontaria com meus interesses no momento. Precisava de tempo com minha família, para ficar mais em casa e fazer coisas que não vinha fazendo. Esses seis anos foram intensos, com finais de Copa do Brasil, disputa de Brasileiro, campeonatos estaduais e Libertadores. Estava ausente de casa e precisava desse tempo. Mas não voltei por iniciativa própria, porque tive propostas que achei não ser interessantes no momento.
Qual será o Marcelo Oliveira que vai voltar ao mercado? Renovado, com novas visões, ideias, ou o mesmo que teve o auge?
Não terá diferenças substanciais, até porque esses seis últimos anos foram muito bons. Conquistamos seis títulos, fomos a seis finais de Copa do Brasil, sempre trabalhando na ponta com clubes diferentes, Coritiba, Cruzeiro, Palmeiras e finalmente o Atlético. Por tudo o que aconteceu, essa última passagem no Atlético criou uma expectativa imensa em todos para conquistar o título nacional, mas infelizmente não conseguimos por uma série de dificuldades. Mesmo assim, conseguimos o quarto lugar, que valia uma vaga na Libertadores, colocação que o Atlético não tem hoje. E também a decisão da Copa do Brasil. Claro que uma ou outra coisa a gente muda. A postura dos times que treinei sempre foi ofensiva, com times técnicos. Conseguimos isso bem no Coritiba, Cruzeiro e em algum momento no Palmeiras. O time jogava muito para a frente, sendo um dos melhores ataques do país. Em relação à postura profissional, vou seguir sendo honesto, correto, leal, intenso e tratando os jogadores com muito respeito e criando bons ambientes, porque isso é um fator básico para chegar às conquistas.
Depois do trabalho no Palmeiras, a mídia passou a criticá-lo duramente em relação ao esquema tático previsível, à proposta de jogo sempre igual, aos chutões e cruzamentos. Isso te atrapalhou no Atlético e na sua recolocação no mercado?
Seria pouco inteligente da minha parte se eu mudasse a postura em relação aos meus dois trabalhos anteriores. No Coritiba, foram dois anos com um dos melhores ataques do Brasil, jogando com toques, rapidez e envolvimento, sendo um time altamente ofensivo. Tanto é que goleamos todos os clubes que foram a Curitiba nos enfrentar. Posteriormente, no Cruzeiro, éramos considerados um time que atacava muito, que mais finalizava, conquistando título brasileiro de forma antecipada. Então, por que eu mudaria minha postura? Será que enjoei de ser um técnico que faz o time jogar e gosta do futebol bem jogado? Claro que não. Não foi possível fazer da mesma forma, pela característica dos jogadores e pelo número de contusões no Palmeiras e no Atlético. Isso atrapalha muito o trabalho. Nunca você tem a mesma escalação frequente, que gera um entrosamento maior. As críticas têm sido assim mesmo. Não tenho interesse e tempo para ver todas. Não sei se eu tenho debatido com um ou outro comentarista, falado de alguma coisa que não soou bem, que foi assumido ou absorvido por outros colegas. Os trabalhos foram normais. Ninguém consegue resultados em sete meses, num grupo que você não montou, o que é importante. Por isso, os técnicos europeus têm uma cota para investir e buscam os jogadores que querem para montar um grupo e um time. No Brasil, ficamos pouco tempo, rodamos em clubes sem montar elenco, sem escolher faixa etária, característica técnica e física. Tudo isso implica para se conseguir um bom trabalho. Tive quatro propostas de fato e uma especulação. Internacional, São Paulo e Santos especularam meu nome, o que não se concretizou. Também deixei de trabalhar por vontade própria. Não sei o que isso pode significar na avaliação dos dirigentes, que trabalham muito com opinião de imprensa e rede social. De repente, num projeto bom, vou ter condição de mostrar tudo o que fizemos. (mais…)