É tanta gente tão próxima, de um mundo em que vivo desde criança, que o sentimento é de perda de parentes e amigos muito ligados. Em poucas vezes me senti tão deprimido na vida. Talvez só no dia em que perdi meu pai, em 2002.
Jogadores de futebol, treinadores, preparadores, médicos, jornalistas, radialistas, dirigentes, enfim, todos nós, lutamos muito para conseguir um espaço neste meio, na maioria absoluta dos casos. É muita batalha, renúncias, incompreensões, competição. O futebol é um dos maiores agentes de inserção social do Brasil, trampolim de onde gente simples de qualquer canto desse país desigual salta para o sucesso no mercado de trabalho. Muitos para melhorar a situação de suas famílias e comunidades.
Ainda mais quando se trata de um clube como a Chapecoense, de uma cidade de porte médio, vivendo um sonho, fruto de trabalho sério, modelo para coirmãos pequenos, médios e grandes.
A rotatividade no futebol é enorme e todo mundo se conhece, nem que seja apenas através de contatos rápidos. Quantas dessas vítimas já passaram pelo futebol mineiro? Caio Jr., jogador do Cruzeiro, Bruno Rangel e Kempes do América. Os caríssimos companheiros de imprensa, alguns com quem tive o prazer de trabalhar na mesma empresa, caso do Mário Sérgio na Band, ou nos tempos em que ele foi técnico do Atlético. Paulo Júlio Clement, de coberturas memoráveis de Pré-Olímpico, Copas América, Copas do Mundo, dos tempos dele como repórter do O Globo e agora na Fox Sports. Vitorino Chermont fez bons amigos em Belo Horizonte, principalmente durante a cobertura das últimas Libertadores da América, também pela Fox. Deva Pascovicci é um dos colegas mais elogiados pelo Mário Marra, mineiro que faz sucesso na imprensa de São Paulo. Conta que o Deva foi um dos principais apoiadores que ele teve em seu início na capital paulista, um ser humano muito especial. Ironia do destino, o Deva lutou bravamente contra um câncer bravo, durante três anos e venceu.
O filho do Caio Jr. contou em entrevistas não estava no voo porque esqueceu o passaporte em casa. Situação semelhante ocorrida comigo, e que me faz repensar a vida todo fim de ano, quando dezembro se aproxima. Vai fazer 30 anos, dia 1º, que três amigos queriam me dar uma carona para Sete Lagoas e eu agradeci. Passaram na Rua Paraíba, onde ficava a Rádio Inconfidência meu local de trabalho na época. Não fui porque era dia de prova na Faculdade de Direito e eu pensei que eles fossem se atrasar e me complicar. Optei por um dos ônibus especiais que levavam diariamente os estudantes para a Faculdade em Sete Lagoas. Chovia forte, os ônibus se atrasaram demais para sair do centro de Belo Horizonte e chegar à BR-040 que era de pista simples na época. No meio caminho o trânsito quase parou, na região de Andiroba/Esmeraldas. Acidente. Com o ônibus trafegando a 20 Km/h, em meia pista, me foi possível ver quase a metade do Ford Del Rey dentro da cabine de um caminhão Mercedes 1113. Me recusava a acreditar, mas eram eles: Zé Carlos ao volante e Marco Antônio Padrão no banco do carona. Mas faltava um, Éder, deixando uma ponta de esperança que não fossem os meus amigos. Mas, desfeita quando me informaram que ele foi retirado com vida do carro e levado ao Hospital de Sete Lagoas, onde morreu pouco depois da entrada. Foi como nascer de novo, mas nunca vou esquecer a imagem dos três caixões no velório no dia seguinte, além da falta que fazem até hoje!
Porém, como gostava sempre de repetir o saudoso Dirceu, o “falso ponta” do Telê Santana na Copa da Espanha, “vida que segue!”. Doída, mas que segue!