Daniel Alves chutou a lata da CBF e da cambada que a domina há décadas, em entrevista ao ESPN ontem à noite, e que está dando o que falar mundo afora. Nascido no interior da Bahia, morando na Europa há muitos anos, ele atualmente o idioma dele é o “portunhol” e jeitão dele faz com às vezes alguém pense que ele está bêbado, por embolar a língua e ter dificuldade de encontrar a palavra certa em português. E ainda bem que não tem papas na língua. De cara, disse:
– Eu pago por ser linguarudo, mas não conto mentira.
E emendou: “antes da Copa, o Pep (Guardiola) queria treinar a seleção brasileira e não quiseram. O Pep falou que queria fazer a gente campeão do mundo e tinha toda a estratégia e não quiseram. Falaram que não sabiam se o Brasil ia aceitar. Se não aceitamos o melhor do mundo, que pode nos fazer melhores, você não se preocupa com a seleção brasileira. O Pep é o melhor treinador do mundo, o cara mais gestor esportivo que eu já vi. Um cara que revolucionou o futebol, um time, uma equipe. Tivemos a chance de ter o cara sem gastar, se o problema é dinheiro. A intenção dele era só receber se tivesse o resultado esperado pelo povo brasileiro. Você deixa passar uma oportunidade dessa?”
Depois falou do monte de erros que se comete no dia a dia dos clubes e da seleção, que fazem parte do nosso atraso em relação à gestão esportiva na Europa. Apontou inclusive erros relacionados nas relações com a imprensa:
__ Essa hiper exposição que existe no Brasil, não existe na Europa. Nos treinos, vocês têm 15 minutos para assistir e depois o ambiente interno é só nosso, jogadores, comissão técnica e funcionário do clube. O que acontece internamente faz parte da nossa preparação e quando muita coisa vai para o público vai dar problema lá na frente.
Ele contou que o goleiro Bravo, do Chile, seu colega no Barcelona, disse depois da Copa: “puxa vida, fomos enfrentar vocês e já sabíamos tudo o que vocês faziam, pois a televisão mostrava os treinos de vocês o dia inteiro, todo dia.”
Mas, importante mesmo é que o Daniel Alves foi nas questões fundamentais, que poucos profissionais do futebol têm coragem e acima de tudo independência para falar. Em outras palavras, disse: a CBF é uma ação entre amigos, uma bagunça, envolvendo dirigentes e treinadores, que só pensam no interesse e ganhos deles. Os jogadores são meros coadjuvantes, muitas vezes nas mãos de incompetentes ou ultrapassados e quando o time toma de 7 a 1, por exemplo, os cartolas e técnicos põe a culpa no grupo ou em um ou outro jogador, como foi feito ano passado depois do Mundial e agora, quando o Marco Polo Del Nero culpou o Thiago Silva pela eliminação da Copa América.
Quando tiraram o Mano Menezes, que fazia um bom trabalho de renovação, voltaram com os ultrapassados Felipão e Parreira, que pertencem ao “Século XVIII”. Aí, dá vexame da Copa em casa e quando todo mundo pensa que haveria uma mudança positiva, voltam com o Dunga, para dirigir a seleção.
O lateral falou verdades que vão repercutir, poderão significar o fim dele na seleção, porém, que precisavam ser ditas por alguém que conhece o futebol dentro e fora de campo. O problema todo é que tudo ficará “…como dantes, no quartel de d’Abrantes”.
E vale a pena saber a origem dessa expressão:
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/tudo-como-dantes-quartel-d-abrantes-433893.shtml