Senhoras e senhores,
recebi e agradeço o importante relato do Eliezer Felipe, que pela escrita, parece morar no exterior, mais provavelmente no Chile, atleticano, que foi ver o jogo contra o Colo-Colo, quarta-feira, e presenciou cenas lamentáveis, provocadas justamente por atleticanos.
Destaco o texto dele, na íntegra, porque mostra o quanto a irracionalidade cresce no mundo do futebol, desvirtuando a finalidade do esporte, e que as pessoas de bem precisam reagir contra isso, independentemente do time para qual torça. Essa ignorância inclui ricos, pobres, remediados, pretos, brancos, amarelos e pseudos bem educados boas famílias. A primeira vez que me assustei com isso foi na Copa dos Estados Unidos, 1994, num hotel chique de Detroit, quando quatro corinthianos, também hospedados nele, cercaram a mesa onde o Juca Kfouri tomava café e o insultaram, pelo fato de ele, mesmo sendo assumidamente torcedor do Corinthians, não abre mão de ser imparcial e honesto no trabalho dele. E o pior: o Juca sozinho, já que esse tipo de covarde, normalmente age desse jeito, em bandos, contra quem está em desvantagem numérica ou desarmado.
De lá para cá cenas como essa que presenciei em 1994, só aumentaram mundo afora, em quantidade, intensidade, violência e em países como o Brasil, impunidade.
Confira o relato do Eliezer Felipe:
* “Vergonha alheia”
Na tarde de sexta feira dia 20 de fevereiro de 2015, meu filho de 13 anos descobriu depois de uma improvável visita ao Valle Nevado “nevando” em pleno verão chileno e ainda deslumbrado com a espetáculo que a natureza havia nos proporcionado chocou-se com o comportamento de um grupo de “brasilianos” na saída do Parque Arauco. O grupo (quatro jovens torcedores do Atlético Mineiro, a companheira de um deles e um bebezinho) muito exaltados (o bebê não muito) impediram a saída de um ônibus usando de força, desrespeito e de um sentimento confuso de retribuição à hostilidade de poucos torcedores do Colo Colo por ocasião do jogo da última miercules. Estive no monumental na quarta e assisti constrangido a derrota do meu Galo e a hostilidade de uns poucos torcedores com atitudes que nem de longe lembram a hospitalidade e simpatia do povo chileno. Mais minha maior “vergonha” foi assistir um grupo de torcedores do meu time agredir com palavras e ameaças de agressão física a turistas dentro de um ônibus impedindo sua saída entendendo eles que ali estavam torcedores do Colo Colo e “Marias”, o comportamento ridículo com palavras como aqui é Galo porra, estamos cansados de ser tratados assim no Chile e as “Marias” ai dentro do ônibus que desçam para resolvermos na porrada, até que invadiram o ônibus( com exceção da mãe e do bebê) de braços em punho até que meu filho mostrou a eles através da tela do celular dele imagens alusivas ao clube Atlético Mineiro e por alguns segundos a motivação a agressão cessou e enfim o grupo determinado resolveu desistir de sua resiliência planejada e permitiram que ônibus fosse então levar turistas brasileiros, coreanos, ingleses… aos seus hotéis. De pedagógico para meu filho ficou o aprendizado de que gente, principalmente ligado a torcidas de time de futebol, babacas, ignorantes e ridículos existem em todas as torcidas e países, incluso ai no nosso time de coração. Estou deixando Santiago hoje com o sentimento de duas derrotas, há do colo colo e do Patio Arauco pelo sentimento de vergonha dos meus conterrâneos e Atleticanos que de forma desrespeitosa discutiam com os empregados da Cia de turismo em Inglês como instrumento para humilhar os trabalhadores chilenos ( alguns só falavam casteliano). Para concluir minha indignação pessoas de bom nível sócio cultural brasileiros estão há construir uma imagem negativa dos brasileiros na América Latina e o pior expondo de forma negativa instituições como o Glorioso Galo. Como retribuição há hospitalidade do povo Chileno combinei hoje trocar minha camisa do Galo ( dez do Ronaldinho) com um torcedor do Colo Colo que conhecemos ontem pouco antes da confusão.
Eu e meu filho aprendemos muito no dia de ontem, mais ao final o que ficou mesmo gravado nas nossas memórias foi a surpreendente neve em pleno verão chileno.
Nota: o vídeo com as imagens de toda discussão podem ser obtidas junto à empresa Turistik uma vez que os ônibus desta empresa são equipadas por câmara e a discussão se passou por 40 minutos na porta do ônibus.
Eliezer Felipe
Ilustração extraíida do blog Volume Máximo