Senhoras e senhores,
uma pausa no mundo da bola para uma dica de leitura, imperdível, que fala do drama humano, de situações que poderiam ser a minha, a sua, de qualquer pessoa, Brasil e mundo afora. A frase “cada um com os seus problemas” se encaixa bem nesta reportagem espetacular do Fernando de Barros e Silva, para a revista Piauí, com e sobre ninguém menos que Chico Buarque de Holanda, que descobriu que tinha um irmão alemão, fruto de um namoro do pai dele, quando foi correspondente de um dos jornais do Assis Chateubriand, na Alemanha pré-nazismo. A história virou livro, mas o assunto era um tabu familiar e Chico só pode escrever depois que a mãe dele, D. Maria Amélia, morreu, aos 100 anos de idade, em 2010. Aliás, ela era neta do ex-governador de Minas por duas vezes, Cesário Alvim, um dos “Barões do Café”, nascido em Piranga. O nome do Chico Buarque foi uma homenagem dela e do marido Sérgio Buarque ao pai dela, Francisco, filho de Cesário Alvim. Daí a homenagem do compositor às raízes mineiras dele na música Paratodos:
* “Sergio Günther foi o filho que o historiador Sérgio Buarque de Holanda nunca chegou a conhecer — e de cuja existência Chico Buarque só soube, acidentalmente, já em adulto. A tentativa de descobrir o irmão alemão inspirou o seu novo romance, que chega às livrarias portuguesas a 16 de Fevereiro. E levou o jornalista da revista piauí Fernando de Barros e Silva, autor de um livro sobre o cantor, a acompanhá-lo numa visita à família do outro lado do Atlântico.”
Chico com o pai, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, que viveu em Berlim entre 1929 e 1930, ano em que nasceu o seu filho
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* “Meu pai disse ter procurado na lista telefônica por Sergio Ernst. Mas não quis ir fundo nisso. E eu entendo. O que é que vai falar? Vai encontrar o filho e agora? Ele procurava sem querer encontrar.”
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“Meu irmão foi criado sob o nazismo. É possível que tenha sido da juventude hitlerista… Ele não conheceu a democracia, não sabia o que era isso, nunca soube. Passou do regime nazista para o regime comunista sem intervalo.”
Chico com Monika Knebel (viúva de Sergio Günther), Josepha Prügel (sobrinha-neta de Chico, filha de Kerstin) e o casal Michael e Kerstin Prügel
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A reportagem é longa, mas vale demais a pena e pode ser acessada neste link da revista Piauí, que aliás, foi a melhor novidade da imprensa brasileira nos últimos anos neste segmento:
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/a-busca-de-chico-buarque-em-berlim-1683044