Muito bom ver a música mineira ganhando destaque positivo na mídia nacional, como na reportagem de capa, ontem no O Globo, da nossa nova geração que está fazendo sucesso e emergindo no país:
* “Os netos do Clube da Esquina”
RIO – Com leveza mineira, o violonista e compositor Thiago Delegado define:
– Não somos mais os filhos do Clube da Esquina, somos os netos, e neto tem sempre mais liberdade e regalia. Isso nos dá oportunidade de experimentar mais, ousar mais, sem o peso de ser a continuidade desse movimento tão vitorioso e importante.
Delegado fala da geração de músicos que floresceu ao longo da última década em Minas Gerais, sobretudo em Belo Horizonte, discretamente – como que reafirmando o mito mineiro da ação sem alarde. Artistas como ele próprio, Juliana Perdigão, Makely Ka, Graveola e o Lixo Polifônico, César Lacerda e Luiza Brina, que silenciosamente começam a conquistar espaço no Brasil e fora dele – apenas como exemplos, o Graveola lança seu CD na Europa (atualmente está em turnê lá) e, ao lado de Delegado e Makely Ka, integra uma noite mineira na Womex, uma das mais importantes feiras de música do mundo, realizada entre hoje e o dia 21.
A cena é ampla e inclui a crueza rock do Hell’s Kitchen Project e o rap positivo de Flávio Renegado. Mas a cena dentro da cena de que trata esta reportagem é a dos herdeiros da tradição harmônica tão desafiadora quanto bela, do olhar que vê o pop além de sua superfície – dos netos do Clube da Esquina, enfim. As características de cada um são bem marcadas, mas os artistas tratados aqui – e que representam outros tantos – se aproximam na forma como abordam a música popular. Respeitam os avós e mostram que aprenderam suas lições musicais, mas olham para frente com a consciência de que nada será como antes amanhã.
– Há um equilíbrio muito sutil entre vanguarda e tradição na engenharia de construção de uma canção. Apresentar alguma inovação e ainda assim dialogar com a tradição me parece muito mais arrojado do que simplesmente uma ousadia formal gratuita, sem referências – acredita Makely, que avalia o papel da beleza nessa nova música mineira. – Penso que há dois caminhos. Um deles é fácil, escorado em convenções universalmente aceitas como belas, melodias doces, harmonias funcionais, letras suaves. Essa beleza cansa rápido e não interessa. A outra é a beleza difícil, que causa estranhamento, que deixa uma dúvida, que você vai percebendo aos poucos, vai descobrindo em camadas, vai se surpreendendo. Essa é a beleza que interessa. Talvez seja esse o nosso caminho, do equilíbrio formal e da beleza difícil.”