A nova forma de colozanição
Foto: Eugênio Sávio – Durante jogo dos EUA na Copa 2010
No esporte, especialmente futebol, não é diferente.
Recebi uma mensagem no blog que é sintomática:
“Não posso concordar com aquilo que a midia vem fazendo com o futebol europeu. Acabamos de ver o clássico da Espanha como se fosse dois times de outro planeta, quando na verdade, não passam de times comuns com poucas exceções. De um lado vc tem Valdez, Puyol, Keita, Villa, Pedro, Busquets e do outro, Sergio Ramos, o louco do Pepe, Arbeloa, Ozil, Di Maria, Adebhaior … Pra quem já viu grandes craques como João Leite, Luizinho, Cerezo, Eder e Reinaldo e do outro lado Raul, Leandro, Jr., Adilio, Andrade, Zico pra citar só um exemplo, não pode admitir esta onda toda como se fosse algo extraordinário. Isto é apenas a força da midia. Um abraço.
Ekton Medeiros – Engenheiro Coelho SP.”
Só faço um reparo: força da grana, caro Ekton!
Quando trabalhava na Rede TV! e participava do programa Bola na Rede, do Fernando Vanucci, em rede nacional, vi de perto como funciona. Fica alguém no estúdio com uma maquininha que mede a audiência instantaneamente. Um aparelho que parece um termômetro ou velocímetro. Quando o assunto era o Corinthians, o ponteiro subia, e o cara ordenava ao Vanucci: “continua no Timão, continua no Timão…”.
Se o ponteiro baixava, ele mandava mudar de assunto até encontrar um novo tem que pudesse alavancar o índice eletrônico.
Às vezes o sujeito entrava de novo e dizia: “volta pro Corinthians, volta pro Corinthians…”
Audiência em São Paulo! Se fosse no Rio, certamente seria o Flamengo!
E as redes nacionais espalham isso pelo país, assim como as europeias espalham pelo mundo.
Aí é feita uma lavagem cerebral, que começa pequena e depois toma conta, como está ocorrendo agora com os clubes do “Velho Mundo”.
Você vê tanta camisa dos times europeus em nossas cidades, vilas e favelas, que parece que estamos na Espanha, Inglaterra ou Itália.
Mas, a recíproca não é verdadeira. Só se vê camisas de times brasileiros lá fora, quando se trata de Copa ou Olimpíadas, e só nos estádios, vestidas por brasileiros.
Nas lojas, que são o objetivo final, nada! Raridade!
Nem do Flamengo que tem a maior torcida do Brasil.
Com isso, a insignificância assumida de Rio/SP no exterior, desconta no resto do Brasil. As grandes redes de TV e rádio, cujas matrizes são lá, empurram guela abaixo qualquer pelada deles, em detrimento dos grandes clubes de cada estado.
A lavagem cerebral passa até pelas novelas, o produto que mais faz a cabeça de homens, mulheres e crianças brasileiros.
É comum ver diálogos entre os atores discutindo Flamengo, Corinthians, Botafogo, Palmeiras…
O desrespeito é absoluto e só há um estado no país que peita esta situação: o Rio Grande do Sul.
Lá a RBS, parceira da Globo, põe no ar os programas que interessam a ela e tem programação mais independente.
Em Minas, a Globo foi a primeira emissora própria do Roberto Marinho, fora do Rio de Janeiro, no início da formação do seu império televisivo, nos anos 1970. Não se trata de uma afiliada. É a antiga TV Belo Horizonte, adquirida pela matriz carioca.
Tem alguns programas exclusivos, voltados apenas a Minas Gerais e alguns que até prevalecem na Globo Internacional, como o Terra de Minas, o Bom Dia Minas e o MG TV.
Fiquei muito orgulhoso de ver um Bom Dia Minas, dentro da Casa Brasil, do COB, em Athenas, durante os Jogos de 2004.
Assim como me emocionei quando vi o Terra de Minas, em 2009, durante a Copa das Confederações, em Johanesburgo, ou o MG TV, ano passado, durante a Copa da África do Sul.
Mas a própria Globo Minas, com sede em BH, reclama que ela não tem poder sobre todo o nosso estado. Suas imagens são substituídas pelas da Globo RJ ou SP em determinadas regiões.
O assunto é muito sério, mexe com a nossa cultura, com o nosso passado. Minas Gerais é muito mais importante para o Brasil, em todas as áreas, em todos os aspectos, do que muitos mineiros imaginam.
É lamentável quando vejo tanta gente limitando este tipo de debate à rivalidade entre Atlético e Cruzeiro, que perto da seriedade do assunto, é uma grande bobagem.
É a nossa cultura que está em jogo, sendo subjugada por cariocas e paulistas.
No passado, uns povos dominavam outros através das armas, hoje é através do dinheiro.
É preciso resistir, e acima de tudo reagir, assim como os gaúchos resistem e reagem.
Nossas autoridades são omissas, fingem que não é com elas.
Nunca vi um deputado ou um governador entrando neste assunto. E o medo que eles têm de ser alvo de uma manchete do Jornal Nacional, do Fantástico ou tema de um Globo Repórter?
Mas as gordas verbas de publicidade vão, em primeiro lugar, para lá. E este é um argumento que poderia ser usado com os executivos da Globo e demais redes, para amenizar um pouco este desrespeito com as nossas mais caras tradições.
E temos uma forte moeda de troca. Ou não somos o segundo PIB do Brasil?
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