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Leituras de fim de semana: “Para beber sem moderação!”

Esta saiu no O Globo, ontem:

* Para beber sem moderação

Por Gretchen Reynolds, do New York Times

Um novo estudo relata que a cerveja é uma bebida excelente para a recuperação de maratonistas. Mas não
comece a comemorar. A cerveja que apresentou resultado eficaz foi a não-alcoólica.

Correr uma maratona é quase uma punição para o corpo, pois esta atividade extenuante, além de causar dores musculares, enfraquece o sistema imunológico do corredor, fazendo com que ele fique suscetível a resfriados e outros males nas semanas após uma prova de 42km. Alguns atletas, especialmente os europeus, há muito tempo experimentam cerveja sem álcool durante o treinamento intenso, alegando que
os ajudava na recuperação. Mas não existiam estudos científicos para apoiar essa prática. Para estudar a questão, pesquisadores da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, perguntaram a corredores saudáveis do sexo masculino, a maioria na faixa dos 40 anos, que estavam treinando para a Maratona de Munique do ano passado, se eles estavam dispostos a, em nome da ciência, beber uma quantidade considerável de cerveja.

De 1 a 1,5 litro por dia

Duzentos e setenta e sete maratonistas concordaram, mesmo quando foi dito que a bebida seria a não-alcoólica. Metade do grupo recebeu a cerveja sem álcool, enquanto a outra, um placebo, mas ninguém sabia quem estava bebendo o quê. Todos os corredores tomaram de um litro a um litro e meio, a cada dia, começando três semanas antes da corrida de 2010 e continuando por duas semanas depois. Os cientistas coletaram amostras de sangue nas semanas que antecederam à prova, na largada, na linha de chegada e nos dias seguintes à maratona. Eles monitoraram os níveis de vários marcadores de inflamação no sangue dos atletas para ver se a cerveja ajudou a diminuir alguns danos imediatos de se correr uma maratona.

Nas duas semanas seguintes à prova, os corredores continuaram a tomar sua cerveja sem álcool ou o placebo. Eles também relataram sintomas de resfriados ou de outras doenças respiratórias superiores, que se desenvolveram durante este período. Os homens que beberam a cerveja sem álcool queixaram-se muito menos de problemas de saúde do que os corredores que tomaram o placebo. Segundo os pesquisadores,
a incidência de infecções do trato respiratório foi de 3,25 vezes menor naqueles que beberam cerveja sem álcool — relataram os cientistas na revista americana “Medicine & Science in Sports & Exercise”.

Os maratonistas que beberam a cerveja sem álcool também mostraram evidências, em menor grau, de inflamação e diminuição da contagem de células brancas do sangue, além de uma indicação melhor da saúde geral do sistema imunológico.

— Esses efeitos são importantes porque, se o corpo de um maratonista fica menos dolorido e inflamado depois de uma corrida, ele pode se recuperar e voltar a treinar mais rapidamente. Pode-se especular que a frequência de treinamento poderia ser maior (com intervalos mais curtos, após as sessões de treinamento
vigoroso) naqueles que bebem cerveja — afirmou Johannes Scherr, cientista responsável pelo estudo.

Ainda está sendo investigado como a cerveja sem álcool diminui a devastação de um treinamento extenuante para maratona e corridas menores. Mas Scherr afirma que certamente a resposta envolve o fato de a bebida ser rica em polifenóis, substâncias químicas encontradas em muitas plantas, que, dentre outras coisas, “suprime a replicação viral” e “influencia positivamente o sistema imune inato”, benefícios para se combater um resfriado.

— Cerveja alcoólica também é rica em polifenóis, até mais do que cerveja sem álcool. Mas tem a desvantagem de ser uma bebida alcoólica. Nós não sabemos se os efeitos colaterais da cerveja alcoólica cancela os efeitos positivos causados pelos polifenóis — disse Scherr. — Além disso, não é possível beber um litro e meio de cerveja alcoólica por dia, especialmente durante o treinamento árduo.

Outras substâncias com polifenóis se mostram promissoras no início mas depois, tiveram desempenho inferior, de acordo com estudos. A quercetina, por exemplo, é um polifenol encontrado na casca da maçã, sendo amplamente elogiado por atletas de longa distância. Estudos posteriores descobriram que, em doses grandes, a substância permitiria que ratos de laboratório, sem treinamento para correr, fizessem o exercício por muito mais tempo do que os animais que não receberam a substância. Mas o suplemento não conseguiu demonstrar benefícios em humanos. Uma análise de dez estudos da quercetina em humanos, apresentado na reunião anual da Academia Americana de Medicina do Esportes, em junho, concluiu que a suplementação de quercetina “não fornece uma vantagem no desempenho de resistência.”

Mas o experimento com a cerveja não estudou ratos e sim, maratonistas em provas. A pesquisa mostrou benefícios em termos de minimizar os danos pós-corrida. Tudo isso é uma boa notícia com a aproximação da estação das maratonas. Perguntado se recomendaria a maratonistas de elite adicionarem cerveja sem álcool às suas dietas, Sherr afirmou:

— Quando eu olho para os resultados do nosso estudo, eu responderia sim. De acordo com ele, é possível obter grandes quantidades de polifenóis em outros alimentos, como romãs e uvas. Mas nesses alimentos não se consome os minerais, líquidos e carboidratos. Então, cerveja sem álcool parece ser o ideal. Mas para a merecida comemoração após a corrida, a cerveja pode ser a com álcool.

Cerveja sem álcool x isotônicos

Exercícios físicos intensos podem debilitar o sistema imunológico, assim como uma situação de estresse a que o corpo é submetido. São comuns infecções de vias aéreas superiores em corredores de longas distâncias. A cerveja sem álcool pode ter associação com a recuperação destes corredores, apesar do estudo ainda não ser conclusivo.

A cerveja é boa fonte de polifenóis, provenientes tanto do malte quanto do lúpulo. Devido à capacidade antioxidante e teor alcoólico baixo, já foi atribuída a ela a capacidade de melhorar a atividade antioxidante no organismo. Em relação ao seu aspecto nutritivo, tem uma quantidade significativa de vitaminas do complexo B, além de ser fonte de ácido fólico e selênio.

Mas, em relação à hidratação, ao se comparar a constituição das bebidas esportivas e da cerveja sem álcool, vemos que esta última contém menor quantidade de carboidratos (3% em média, enquanto a bebida esportiva, de 6 a 8%), além de menor teor de sódio. Estas bebidas ajudam a repor as perdas de eletrólitos do suor, pois o sódio estimula a sede, favorece a retenção de líquidos, e os carboidratos fornecem energia. Bebidas contendo de 6% a 8% de carboidratos são recomendadas para mais de 1h de exercício.

A cerveja é feita pela fermentação alcoólica de mosto de cereal maltado, geralmente malte de cevada, podendo haver adição de fontes de carboidratos, como milho, arroz ou trigo, e possui em geral teor alcoólico entre 3% e 8%. De acordo com a Anvisa, ela é sem álcool, quando seu conteúdo em álcool for menor que meio por cento em volume, não sendo obrigatória a declaração do conteúdo alcoólico no rótulo do produto.

Patrícia Marques é nutricionista da NutriCorp

* http://oglobo.globo.com/blogs/pulso/


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