Blog do Chico Maia

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Nos tempos das saudáveis e saudosas torcidas uniformizadas, que não voltam mais!

Tive o privilegio de conviver e entrevistar torcedores uniformizados de Atlético, Cruzeiro, América, Flamengo, Vasco, Palmeiras e etecetera e tal, no início dos anos 1980.

Era confraternização, festa, onde todos se misturavam e apenas “zoavam” os adversários.

Mas, espertalhões viram no então saudável movimento uma grande oportunidade de ganhar dinheiro.

Aí nasceram as “Organizadas” e ou “Remuneradas”, que deturparam o espírito amistoso e solidário, dando início a essas verdadeiras milícias que existem hoje, com honrosas exceções, porém, cada vez mais difíceis de ser distinguidas.

Veja que ótima crônica do Ruy Castro, ontem, na Folha de S. Paulo:

* RUY CASTRO

Torcidas em paz

RIO DE JANEIRO – Eu não estava lá, nem em qualquer lugar, mas os veteranos me contaram. A primeira torcida organizada do Brasil nasceu em outubro de 1942, quando um cidadão chamado Jayme, 31 anos, baiano, Flamengo doente, porteiro da Polícia Federal e morador das Laranjeiras, sugeriu a seu vizinho Manuel, idade e profissão não sabidas, português, mas também Flamengo, pintarem uma faixa de morim com os dizeres “Avante Flamengo” e a abrirem na arquibancada do Fluminense, no Fla-Flu daquela semana.
O que eles fizeram, no meio do jogo. O pessoal do Fluminense cochichou alguma coisa, mas deixou estar. Ao fim da partida, que terminou em empate, Jayme e Manuel, cada qual numa ponta, saíram correndo com a faixa pelo gramado. Nunca se vira aquilo. A polícia fez menção de abotoá-los, mas os jogadores do Flamengo se juntaram à volta olímpica. E, então, surpresa: as sociais do Fluminense aplaudiram.
Nos jogos seguintes, mais faixas e adesões. Laura, 23, mulher de Jayme, também portuguesa e também Flamengo, passou a costurar bandeiras para o grupo que só fazia crescer. Para os jogos no subúrbio, fretavam bondes e saíam, embandeirados e cantando, do largo da Carioca. Uma banda militar se incorporou para tocar marchinhas -Ary Barroso ouviu-a e reduziu-a a uma charanga desafinada. Pois ali se chamou Charanga, com monograma bordado na camisa.
O “Jornal dos Sports”, do idem rubro-negro Mario Filho, a promoveu. O Flamengo foi campeão em 1942-43-44 e todo ano havia Carnaval fora de época. Os outros clubes foram atrás com suas organizadas, comandadas por amigos de Jayme, que lhes emprestou know-how – as torcidas eram famílias, não podia haver fogos nem palavrões. E assim, por muitos anos, elas conviveram em paz.
Jayme de Carvalho morreu em 1976. É nome de rua em Realengo.


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Comentários:
5
  • J.B.CRUZ disse:

    DEPOIMENTO;
    Lá pelos idos de 1.959, eu com meus 10 anos e frequentador assíduo dos campos de então: Estádio J.K,(Barro Preto)(Alameda doAmérica e Indepedência do Sete setembro) sempre em companhia de meus queridos Avô e Pai (falecidos) e meu querido tio GIGGIO, galista extraviado, nunca tinha passado pela minha cabeça presenciar momentos tão tristes no futebol em um futuro naquela época, distantes..
    Vi o começo das obras do Mineirão(1.959) a inauração em 1.965 onde a separação das torcidas foi idéia de Felício Brandi de furletti(Presidente e Diretor) do CRUZEIRO ESPORTE CLUBE na anti-véspera dos jogos inaugurais do novo estádio (03/09/1.965) estenderam a faixa com os dizeres: ¨¨AQUI TORCIDA DO CRUZEIRO¨¨¨ao lado das cabines de emissôras de rádio e T.V, justamente por ficar a sombra e relegando o lado ensolarado a torcida do galo,surgindo aí as gozações de cachorrada e refrigerados..Brincadeiras que as vezes os ánimos se exaltavam até a alguns empurrões, mas não passava disso…Em 15/10/1.980, quando as ¨famosas¨torcidas organizadas começava a ganhar corpo nos estádios,já não se podia levar a família em jogos a noite,porquê já havia focos de brigas de facções contra facções..E foi neste dia(quarta-feira á noite) em uma rodada dupla pelo campeonato mineiro, CRUZEIRO E GUARANI de DIVINÓPOLIS, jogaram na preliminar de galo e democrata valadares, quando ao término da partida do CRUZEIRO, saí á frente de meus parentes e amigos e fui até onde estava o carro estacionado na subida da Av. Abrão carann e dei de cara com uma dessas facções das organizadas do galo..como estava com a camisa do CRUZEIRO, uma relíquia presenteada pelo grande CAPITÃO PIAZZA, fui violentamente atacado com chutes,socos e pontapés pela corja que além de rasgar e queimar a camisa ainda roubaram a minha carteira…RESULTADO: Há trinta e um (31) anos não ponho mais os pés em qualquer campo de futebol..Agora fico na comodidade do lar com a pipoca o refri, ligo a T.V e o RÁDIO na ITATIAIA, coloco o som da T.V. em MUTE e ligo na jornada esportiva da Rádio para ouvir o mais vibrante;ALBERTO RODRIGUES… Agora os tempos são outros…Antes eram adversários, depois que vestem uniformes com as cores dos clubes, tornam-se inimigos, eu Hein!!!

  • Rodrigo "La Brigada" Resende disse:

    Maravilha de texto, Chico. Seu filtro continua ótimo. juntando às suas sempre pertinentes e equilibradas informações e observações, este é o melhor blog esportivo do país. Um abraço do ausente como comentarista, mas sempre presente leitor e admirador. Rodrigo.

  • audisio disse:

    Acabou o jogo Atlético 2 x 0 Avaí.
    Uma brilhante atuação do A. Creio que foi a melhor exibição do Galo este ano. O Daniel Carvalho em uma exibição provou porque foi uma das maiores sensações do Internacional de Porto Alegre nos últimos anos. Pode ser uma das maiores recuperações do futebol brasileiro.
    A dispensa do Cuca pelo Cruzeiro foi uma das maiores injustiças com treinadores no futebol brasileiro. Ele iniciou o seu trabalho assumindo o time do Cruzeiro nas últimas posições e colocou o Cruzeiro como vice-campeão brasileiro. Foi considerado, o Cruzeiro de Cuca, o Barcelona das Américas até a derrota para o Once Caldas, num daqueles dias onde as coisas não deram certo. Fatal para as pretensões cruzeirenses na Libertadores. A eliminação custou uma insegurança nas rodadas iniciais do brasileiro e a falta de resultados absolutamente imediatos provocou a dispensa do Cuca. O resultado desta injustiça o Cruzeiro pagou com seus resultados negativos. Contrariando tudo isso, Cuca começa a mostrar porque deixou o Cruzeiro como atual vice-campeão brasileiro posição que a própria torcida do cruzeiro parece não valorizar.
    A exibição do Atlético diante do Avaí que vinha de uma vitória diante do Flamengo, vice-líder e de Ronaldinho Gaúcho, com um futebol vibrante e positivo, como desde a muito não jogava o Atlético e pode ser o Goiás de 2008 ou o Cruzeiro de 2011.

  • tom vital disse:

    Antes era a Força Viva e a Charanga do Júlio e os jogos do Galo eram animados e sem violência de torcidas.

  • Oi Chico Maia. Leio, diariamente, seus comentarios, e os do meu amado GALLLLLLLOOOO tambem. Viu o que ‘e a paixao? E estou intrigada, e se voce puder me falar, agradeco. O ”nosso” blog, com o querido Munaier, saiu do ar…. Sei que ele saiu, mas o blog tambem…. Muito grata, e gosto do seu trabalho, jornalista inteligente e antenado….Aurea A Kogar, cheia de saudades do nosso Brasil.