O ano futebolístico começa com os mesmos questionamentos de sempre: nossos times estão se preparando bem para a temporada?
Entendo que a pergunta deveria ser outra: o que os nossos dirigentes pensaram de diferente para melhorar o futebol mineiro e voltar a torná-lo competitivo em termos nacionais?
Com a diferença econômica se acentuando a partir deste ano, é cada vez mais urgente que os comandantes dos principais clubes e da Federação Mineira de Futebol se mexam e busquem alternativas. Não vejo nem uns e nem o outro se movimentando neste sentido. Atlético, Cruzeiro e América acham que vão conseguir contratar jogadores e montar times que briguem na cabeça com os muito mais endinheirados do Rio, São Paulo e até o Rio Grande do Sul. Sim, porque os gaúchos já nos puseram no chinelo há tempos, e os números estão aí para mostrar.
Os sucessivos presidentes da FMF ficam em sua zona de conforto e fingem que o assunto não é com eles. Em tese, a entidade pertence aos clubes e deveria apenas gerenciar os seus interesses comuns, das categorias de base ao profissional.
Na verdade, cada um pensa em seu próprio interesse e pouco a pouco Minas vai ficando para trás também no futebol, pois na política, já perdemos a hegemonia a bastante tempo.
A solução para voltarmos a ter times fortes seria a volta ao passado, por mais estranho que soe essa expressão. Mais precisamente aos anos 1960/70, quando os dirigentes tinham consciência que jamais o futebol mineiro poderia competir em termos financeiros e disputar títulos com cariocas e paulistas. Sabiam que teríamos que “fabricar” em casa e buscar alguma peça importante que já não tivesse tanto valor no Rio ou SP, mas que poderia ser estratégica por aqui.
Ou seja: na época, homens como Nelson Campos e Felício Brandi sabiam das limitações de seus cofres e apostavam no interior de Minas e em seus “dentes de leite”, infantis e juvenis os jogadores que poderiam resultar em grandes times.
Não vou nem citar exemplos porque já escrevi muito sobre isso e a história está aí. Os comandantes de hoje não precisam nem recorrer aos livros; basta ir ao Google e ver como surgiram os Piazzas, Dirceu, Tostão, Joãozinhos e Palhinhas.
Ou Renatos, Grapetes, Oldair, Darios, Reinaldo, Cerezo e similares.
Agora, “descobrimos a roda” e só se fala no “modelo Barcelona”, de fazer em casa e bla, bla, bla…
Pois é, mas será que a memória fraca mineira não recorda que em meados dos anos 1970, o Atlético montou um dos melhores times da história do nosso futebol, com quase 100% da sua própria base? E o mais interessante e lamentável: só o fez porque o clube estava quebrado, e o então presidente Walmir Pereira concedeu uma entrevista coletiva abrindo esse jogo, dizendo claramente para a torcida: “vamos apostar tudo nos nossos, feitos em casa”. Obviamente que a torcida chiou e a imprensa bateu forte. Jogadores emprestados para clubes de todo o país foram “repatriados”, outros foram promovidos ao profissional e o Brasil conheceu João Leite, Getúlio, Alves, Cerezo, Paulo Isidoro, Marcelo, Reinaldo, Marinho…
O torcedor chegava mais cedo ao Mineirão para ver as preliminares, sempre entre juvenis ou juniores do seu time. A meninada aprendia cedo a conviver com a pressão e não sentia tanto o peso da camisa quando chegava ao profissional. Estranhamente estes campeonatos da base passaram a ser “fantasmas”, com jogos marcados para horários e locais inacessíveis ao torcedor e até à imprensa.
A Federação é rica, tem muito dinheiro; Atlético e Cruzeiro, enchem os cofres no Campeonato Mineiro com o dinheiro da Rede Globo, mas os clubes do interior morrem à míngua. Com a Lei Pelé, então; aí é que foram fulminados mesmo.
Clubes tradicionais que sempre forneceram grandes jogadores ao futebol brasileiro, acabaram, estão quase mortos ou vivem nas mãos de empresários. Eram “galinhas de ovos de ouro” que abasteciam os três grandes da capital.
O futebol mineiro precisa ser repensado no atacado, mas os clubes e a FMF pensam só no varejo.
Acham que sabem tudo; o passado não existe, o futuro é hoje e enquanto isso vamos continuar marcando passo, discutindo miudezas, brigando para ver quem ficará na frente do outro no Brasileiro; quem vai ser rebaixado ou quem será campeão mineiro.
SIGA O CHICO MAIA NO TWITTER E NO FACEBOOK:
Deixe um comentário para orlando Augusto Cancelar resposta