Vejam que beleza de narração do Elismar Santos, do prazer de se curtir o grande clássico, em paz, mesmo com a tradicional tensão e paixão entre os adversários. Repetindo: adversários, e não inimigos, como tantos idiotas querem enxergar o futebol.
À moda antiga, no interior.
Lá em Coração de Jesus, Norte de Minas, a 650 Km de Belo Horizonte; 72 Km de Montes Claros.
Aliás, todos os textos do Elismar são da melhor qualidade e vale a pena acessar do blog dele:
http://www.elismarsantoss.blogspot.com.br/
* “DIA DE CLÁSSICO”
ELISMAR SANTOS
Ontem foi dia de Clássico na capital. As torcidas em polvorosa, os jogadores em ritmo de concentração, a imprensa correndo para um lado e para outro. No interior também tinha Clássico, mas numa toada diferente, sem alarde, sem pressa, sem exageros, porque tudo isso faz mal ao sertanejo.
Primeiro tinha o almoço com a família, porque, antes de tudo, vêm as coisas de Deus. Um franguinho caipira, com quiabo; arroz de forno, feijão tropeiro e uma cachacinha para abrir o apetite. Depois, uma caminhadinha pela praça da matriz, que é para fazer o quilo e colocar as conversas em dia. Daí sim, vai-se ao grande clássico.
O jogo é pela televisão e a reunião em um dos barezinhos da cidade. Não há torcida única ou demarcação de território. Sentam-se todos juntos pelas mesas espelhadas. Um, mais apressado, levanta a mão e chama o garçom; pede uma cerveja e o papo começa. Os palpites são muitos e os resultados vários. A balbúrdia é intensa, mas se finda com o apito inicial.
Jogo tenso, intenso. Os torcedores com o coração acelerado e garrafa passando de mão em mão. O tira-gosto do lado, que e para não faltarem as forças. Os gols saem rápidos, rasteiros, empolgantes. Não tem brigas, apenas provocações, gozações, gritos de gol. A polícia passa, apenas para garantir a ordem; a ambulância desce a rua, sem correria, sem sirene, numa ronda rotineira. O tempo voa e a vida passa.
Finda-se o clássico. Não há vencedores nem vencidos, apenas a impressão de que aquele foi um jogo bom, como os clássicos de outras épocas. Um pequeno grupo se reúne junto à porta, para fazer a resenha final; conversam alto, alterados pela loirinha, enquanto outros seguem para casa. Ainda tem a missa; o jantar e, depois, dormir, porque não é todo dia que a cidade passa por tanta badalação.
* http://www.elismarsantoss.blogspot.com.br/
Informações sobre Coração de Jesus, enviadas pelo próprio Elismar, a quem agradeço:
* “Coração de Jesus é uma cidadezinha no Norte de Minas, distando 72 quilômetros de Montes Claros, cidade polo da região e uns 650 quilômetros, mais ou menos, da capital mineira.
A cidade possui aproximadamente 26 mil habitantes e sobrevive da agricultura familiar e do comércio. Tem como grande atração a vaquejada, que acontece no início de Junho, data do aníversário da cidade (01 – 06- 1912), sendo que a mesma completa neste ano o seu centenário.
Aqui também foi encontrado o maior fóssil de dinossauro da América Latina, que está exposto na UFMG.”
Igreja Matriz
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