Blog do Chico Maia

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Johan Cruyff estaria completando 76 anos, hoje. Em 1984 ele viu o Atlético ser campeão do Torneio de Amsterdam, contra o Ajax, num show de raça do Galo  

Estádio Olímpico de Amsterdam, 26 de agosto de 1984. Meia hora antes de começar a final do Torneio de Amsterdam, entre Atlético e Ajax, eu estava à beira do gramado informando as escalações na transmissão da Rádio Capital. O narrador era o Celso Martinelli, que interrompeu a minha fala para me alertar:

__ Olha aí Chico, bem à sua frente, a poucos metros de você, um dos maiores jogadores de futebol da história, que encerrou recentemente a carreira, Johan Cruyff, o comandante da Laranja Mecânica holandesa, vice-campeã do Mundo na Copa da Alemanha. Boa oportunidade para você ouvi-lo com exclusividade para toda Minas Gerais.

 

Olhei, localizei, mas fiz sinal para o Celso, uma mímica, pondo a língua para fora, tipo, “não falo a língua dele”.

Com a experiência de tantos anos de rádio, o Celso voltou à carga e resolveu o problema:

__ Pois é, Maia, o Cruyff jogou por cinco anos no Barcelona e graças ao seu espanhol “escorreito” e o seu jeito atrevido de repórter, você dará show nessa entrevista exclusiva com o grande astro do futebol mundial.

 

Entre assustado e incrédulo com a missão que me foi dada, lá fui, com o meu “portunhol”. Atravessei a pequena e baixa cerca entre a pista e a tribuna onde estava Cruyff, amigos e familiares. À direita dele, o sogro.

Sem nenhum segurança para impedir, me aproximei já me dirigindo a ele, que me olhou atento ao que eu falava e numa gentileza impressionante falou durante 10 minutos sobre o que sabia do Atlético, do futebol brasileiro e da bola que rolaria dentro de instantes. Marco Van Basten, Frank Rijkaard e Ronald Koeman estariam em campo pelo Ajax; Reinaldo, Éder e Nelinho, pelo Galo. Ele os conhecia e achava que seria um belo jogo.

Ficou encantado com a seleção brasileira na Copa da Espanha de dois anos antes, admirava Telê Santana e a forma dele colocar seus times para jogar.

O jogo ia começar e tive que encerrar a entrevista, eternamente grato àquela figura gentil, sem estrelismo e paciente. Tornou-se treinador pouco tempo depois e torci para ele e para todos os times que dirigiu. Seu auge na nova profissão foi no Barcelona, onde até hoje é idolatrado.

Infelizmente um câncer de pulmão o levou no dia 24 de março de 2016, aos 68 anos de idade.

A opinião do alemão Franz Beckenbauer, sobre ele como jogador: “Com certeza foi o melhor jogador que a Europa já deu. Em um tempo em que jogadores como o [Gareth] Bale e o [Cristiano] Ronaldo valem perto de 100 milhões de euros, o Johan valeria bilhões!”

Opinião de Pep Guardiola sobre ele como técnico:

“O Johan Cruyff foi quem pintou a capela e, desde então, os técnicos do Barcelona só a restauram ou a aprimoram. Eu não sabia nada de futebol antes do Cruyff. Para mim, é o técnico mais influente de todos os tempos”.

Foto: twitter.com/SEFutbol

Sobre aquela final do Torneio de Amsterdam, foi 2 a 2 no tempo normal, depois de um grande jogo, com muita porrada de ambos os lados. O Atlético deu uma das maiores exibições de raça que já vi de um time de futebol na minha vida. Foi quando o Elzo começou a chamar a atenção do Brasil para o futebol dele. Notado por Telê Santana, dois anos depois seria titular da seleção na Copa do México, junto com o Edvaldo, ponta esquerda, que também jogou muito neste torneio e fez um dos gols nessa partida. Infelizmente, morreu aos 30 anos, no dia 13 de janeiro de 1993, de acidente de carro, dirigindo o seu Tempra Fiat, na Rodovia Castelo Branco/SP, perto da cidade de Boituva.

O Ajax começou vencendo por 2 a 0, gols de Van Basten e Koeman, de falta. Everton diminuiu e o “Pepe Legal”, Edvaldo empatou. Nos pênaltis foi 6 a 5 para o Galo.

O técnico do Atlético era o Procópio Cardozo, que dois dias antes tinha mandado embora da delegação o zagueiro Marinho (ex-Flamengo), Paulinho Kiss (atacante) e Roberto Biônico (atacante), que tinham exagerado numa farra e perderam o treino. Éder estava machucado e ficou no banco para compor e para bater pênalti, se precisasse. Precisou e ele marcou. O zagueiro Fred foi expulso logo no início por causa de uma entrada duríssima no Van Basten, que até hoje ostenta uma enorme cicatriz na coxa.

O time do Atlético:

João Leite, Nelinho, Oliveira, Fred e Elzo, Vitor, Toninho Carinha (Luiz Carlos) e Everton, Catatau (Eder), Reinaldo e Edvaldo.


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