Em foto que circulou muito na internet ano passado, “resenha” de mitos de verdade no apartamento do Marcelo Oliveira: Nelinho, entre Paulo Isidoro (esq.), Marcelo, Reinaldo, João Leite e Toninho Cerezzo.
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Quem viu, viu. Quem não viu, só por vídeos que, felizmente, lotam a internet. Vai demorar para o mundo ver em ação novamente um lateral direito e batedor de faltas como o Nelinho.
Tive o privilégio de vê-lo jogando, e privilégio maior ainda de conviver com ele, como repórter setorista. Dentro e fora de campo um ser humano espetacular. De personalidade ímpar, sincero, foi o primeiro jogador a ter coragem de contestar abertamente a imprensa, num tempo em que a palavra de determinados comentaristas soava como lei, para pressionar dirigentes e fazer a cabeça dos torcedores, contra ou a favor de quem não rezasse em suas cartilhas.
Apesar de ser um dos maiores astros do futebol brasileiro enquanto jogou, era de uma simplicidade impressionante, com todos que o abordavam.
Contador de histórias como poucos sabem contar, mantém o carisma dos tempos em que assombrava os adversários quando partia com a bola dominada ou corria para bater uma falta.
Sou fã do “Seu Manoel”, com quem aprendi muito para ser um bom repórter. Dos poucos jogadores que prestavam atenção em todas as perguntas que lhe faziam, palavra por palavra. Se o entrevistador não estivesse preparado, pagava mico, porque ele não perdia a chance de constrangê-lo. E de forma educada, didática, sem arrogância.
Fui procurar textos sobre ele para essa homenagem e fiquei o tempo quase todo em meu próprio blog, em que sempre escrevi demais sobre, sempre citando como referência positiva de alguma coisa.
Destaco a seguir, detalhes da ida dele do Cruzeiro para o Atlético; o exemplo dele de saber a hora de parar de jogar (grande dificuldade de incontáveis craques) e o dia em que ele, Sócrates e Raul, já ex-jogadores, bateram um papo sobre tudo, numa promoção do Jornal Diário de Pernambuco, em Recife. No fim, indico o link do Terceiro Tempo/Uol, do Milton Neves, que mostra vídeos e conta história sensacionais sobre ele:
Começo com o que escrevi no dia 11 de setembro de 2020, quando Victor estava em fim de carreira, teimava em continuar jogando, e o Galo acabava de contratar o Everson:
“A possível estreia do goleiro Everson e o grande exemplo do Nelinho na hora de parar”
… No futebol brasileiro imperam o paternalismo e saudosismo. E nem todo grande jogador sabe a hora certa de pendurar as chuteiras e partir para outra atividade profissional, no futebol ou fora dele. Nessas situações sempre me lembro do Nelinho, que aos 36 anos jogava muito e continuava sendo o maior cobrador de faltas do nosso futebol. Mas, marcou a data do jogo de despedida e não abriu mão. Mesmo com tantos apelos para que continuasse por mais um ano jogando no Atlético. Numa entrevista a mim, na Band, ele disse: “Vocês que hoje dizem que devo jogar mais um ano, serão os primeiros a me detonarem no primeiro lance em que eu não conseguir acompanhar o ponta e o Atlético tomar o gol”.
Claro que ele tinha razão. No mesmo ano de 1986, jogava e pedia votos para deputado estadual pelo PDT. Foi eleito e no inicio de 1987 fez o jogo de despedida no Mineirão. Um sucesso, casa cheia. Parou por cima…
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24 de dezembro de 2017
“Lembranças do dia em que Nelinho trocou a Toca da Raposa pela Vila Olímpica”
João Leite, Nelinho, Batista, Elzo, Heleno, João Paulo e o vice-presidente de futebol Ivo Melo (que convenceu ao presidente Elias Kalil a tirar Nelinho do Cruzeiro); Sérgio Araújo, Paulo Isidoro, Tita, Éverton e Edvaldo. Foto – CAM
Ontem pela manhã o Alexandre Simões escreveu uma ótima reportagem no portal do Hoje em Dia, reavivando a memória de todos nós contando a história da troca de lado por um jogador da prateleira de cima, que realmente mexeu com o nosso futebol. Nelinho saindo do Cruzeiro e indo para o Atlético.
Eu era repórter da Rádio Capital e tive o privilégio de cobrir o dia a dia do Galo naquela época. Só não concordo com a pergunta que o Alexandre faz no título da reportagem: “Fred no Cruzeiro: um troco depois de três décadas e meia?”.
Não dá pra comparar. Nelinho era, simplesmente, o maior lateral direito do país, um dos mais badalados do mundo.
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