Dirceu, ex-Vasco, Botafogo, Fluminense, Nápoli, Atlético de Madri e outros clubes. Disputou três Copas do Mundo e uma Olimpíada.
Morto em acidente no Rio de Janeiro, aos 43 anos, vítima de motoristas irresponsáveis que faziam um pega na Barra da Tijuca.
Não vou me acostumar nunca com a violência no Brasil e nem deixar de me indignar.
O país está se degradando de uns 15 anos para cá. Antes não era tanto assim!
Hoje temos que nos resignar com tantos absurdos que acontecem à nossa volta e usar a expressão “vida que segue!”
A primeira vez que a ouvi, foi numa conversa com o ex-ponta esquerda Dirceu, que fez sucesso como ponta-esquerda e depois como meia, ou “falso-ponta” criado pelo Telê Santana na Copa do Mundo de 1982.
Estávamos em Guadalajara, onde ele jogou e atuava na ocasião como empresário da produção de eventos e levou um Atlético para um torneio lá, em 1995. Uma figura agradável, ótimo papo, cheio de histórias.
Para qualquer notícia ruim, ele demonstrava a sua resignação com a frase, “tudo bem, vida que segue!”. Voltou a morar no Rio de Janeiro, naquele mesmo ano e alguns dias depois, após uma pelada com outros ex-jogadores, morreu em um acidente na Barra da Tijuca. Seu carro foi colhido por jovens bêbados que praticavam um pega.
No “Bom Dia Brasil” de hoje, a Globo destacou a compra de um helicóptero “ultra-moderno”, todo blindado, que será a nova estrela da Polícia do Rio de Janeiro “no combate á criminalidade”. Custou, oficialmente, US$ 8,5 milhões.
Daí a pouco mostrou imagens e deu detalhes do assassinato do meia William Morais, em Belo Horizonte.
Em seguida, mostrou um prédio de classe média alta do Morumbi, em São Paulo, que passou por um “assalto cinematográfico”, esta noite, quando bandidos entraram pela garagem, renderam o porteiro e foram assaltando os moradores que desciam pelos elevadores.
A Rádio Itatiaia informou quase ao mesmo tempo que seis marginais ligados a torcidas organizadas brigaram entre si dentro do Shopping Del Rey, ferindo uma senhora de 63 anos, uma criança de dois e um segurança que quebrou um dedo ao tentar apartar a briga.
Dois desses sujeitos estavam na lista dos 41 que foram indiciados pela polícia por participar do assassinato do rapaz em frente ao Chevrolett Hall, no fim do ano passado.
No Jornal Nacional, também de hoje, uma reportagem denunciou que, em Salvador, a bela capital baiana, os índices de homicídios, por 100 mil habitantes, estão batendo todos os recordes da ONU e do Brasil.
Sexta-feira resolvi arriscar um pouco mais a vida e passar pelo Anel Rodoviário, na descida assassina, onde uma semana antes cinco pessoas foram mortas devido à irresponsabilidade do motorista de uma carreta.
Um risco calculado porque eram 15h30 e sabemos que as tragédias ali acontecem normalmente depois das 17.
Além do mais, as últimas mortes no local foram há apenas uma semana, e no Brasil, a memória e civilidade das pessoas de modo geral dura pelo menos uns 15 dias, até tudo voltar ao normal e um de nós ser morto nas mesmas circunstâncias ou parecidas.
E, não deu outra: parecia que eu estava dirigindo em um país civilizado, onde a velocidade máxima era respeitada, havia fiscalização intensa, com radares, os caminhões trafegavam pelo lado direito e o risco de um acidente era quase zero.
Entrando em Sete Lagoas, pela Avenida Castelo Branco, vi, à minha frente, um caminhão baú dar seta para a esquerda e entrar, sem tomar conhecimento se havia alguém trafegando ao lado. Colheu um motociclista que foi jogado no canteiro central. Felizmente o sujeito conseguiu se levantar, porém, transportava ilegalmente, dois botijões de gás, que saíram rolando asfalto afora. Como não era o meu dia de morrer, os botijões passaram só perto dos carros que trafegavam nos dois lados da pista e não pegaram fogo.
Este é o Brasil, de Norte a Sul, Leste a Oeste. Eu ficaria horas relatando aqui barbáries que se repetem em nosso país diariamente. Os casos viram notícias espantosas, as pessoas passam a ser números nos índices oficiais e qualquer um está sujeito a tudo.
As leis não são cumpridas e quem as desrespeita não é punido devidamente. A legislação favorece aos bandidos de todos os calibres e o bom senso passa longe da maioria.
Um país onde deputados se dão aumento de 162% e o governo dá 7% de aumento para trabalhadores, aposentados e pensionistas.
As escolas públicas foram sucateadas, do ensino fundamental às universidades.
Um novo governo assumiu e as esperanças se renovaram. Porém, na semana passada, tomei conhecimento que a presidente da república cortou mais verbas da educação.
Vou parar por aqui porque a conclusão é uma só: essa é a sociedade brasileira, na qual todos estamos inseridos.
Já que a impunidade prevalece, com, ou sem culpa, todos pagamos.
Os assassinos do William Morais estão presos, mas daqui alguns dias estarão soltos, oferecendo novos riscos para a sociedade.
E vejam a entrevista do que puxou o gatilho, concedida à Tâmara Teixeira, do Super Notícia:
MINIENTREVISTA
“Antes ele do que eu”
Darisson Ferraz da Silva, 18 anos
Assassino confesso
Você conhecia o jogador?Não. Ontem foi a primeira e a última vez que o vi. Eu não sabia que ele era do América.
Você tentou roubar a corrente dele?Estão querendo empurrar um latrocínio para gente, mas não teve roubo. Eu passei e mexi com a mulher dele. Ele não gostou e veio tirar satisfação. Falei com ele que não estava escrito na testa dele que ela era mulher dele.
Você admite que atirou nele?Admito. Mas nós não queríamos roubar nada. Ele foi pular em mim. Saquei a arma e falei: perdeu. Não tem nada a ver com assalto. Foi um mau entendido. Depois que o cara estava morto, se a gente quisesse roubar, pegava tudo dele. Ninguém pegou nada.
Você está arrependido?
Não existe arrependimento. Já aconteceu. Agora eu vou fazer o que? É só eu pagar na cadeia mesmo. Pagar na Justiça. Lógico que pesa, mas fazer o que? Se ele toma a arma de mim, ele me matava. Antes ele do que eu. (TT)