Dunga exagerou nas medidas restritivas à imprensa e a Fifa o colocou no devido lugar. Determinou à CBF que acabasse com essa história de treinos fechados à mídia, e que ela respeite as normas, que são cumpridas por todas as seleções que disputam a Copa.
O treinador então abriu o treino de sexta-feira durante os 20 minutos mínimos exigidos pela entidade maior do futebol mundial. Não fosse pela sua literal ignorância no trato com os jornalistas, até daria alguma razão ao Dunga. É gente demais falando e perguntando as mesmas coisas aos jogadores, que passam a repetir feito papagaios as mesmas respostas e impressões sobre isso ou aquilo.
Mas tudo poderia ser resolvido com civilidade e bom senso, pois o treinador da seleção não está lidando com nenhum idiota.
Luiz Felipe Scolari impunha suas restrições, mas sempre respeitou e foi respeitado pela imprensa. Tinha a exata noção de onde começa e onde termina o direito de cada um. Dunga é ignorante na forma e no conteúdo no relacionamento com a mídia. Fala pelos cotovelos, erra dados históricos e geográficos, no tempo e no espaço, e se acha um letrado.
Na plateia de uma entrevista de qualquer jogador, dirigente ou treinador da seleção brasileira numa Copa do Mundo, há pessoas como um Tostão, Luiz Fernando Veríssimo e até um professor Pasquale Cipro Neto, como é o caso aqui na África do Sul. Ou seja: gente letrada em futebol, literatura e até português, que por mais famosa e respeitada que seja pelo notório conhecimento, mantém a humildade, discrição e respeito a quem se dirige a eles.
Respeitam até um Dunga com suas tiradas de almanaque!
Sintomaticamente o Comitê Organizador e a Fifa cancelaram a permissão que tinham dado à CBF para que a seleção fizesse um treino de reconhecimento hoje no estádio Soccer City. E ainda determinou que o ritual de todo treinador cuja equipe jogue lá no dia seguinte, fosse cumprido. Dessa forma, Dunga foi obrigado a sair do local alternativo do treino da seleção para dar a entrevista coletiva obrigatória de véspera de jogo à imprensa.
Forte
A imprensa da África do Sul é muito forte e segue a linha britânica, em termos visuais e editoriais. Tem até um Daily Sun, tablóide, quase idêntico ao inspirador The Sun, londrino, que bota lenha em todas as fogueiras, e vende muito, ao preço de 2 rands, o equivalente a R$0,50.
A maioria é no formato standard à moda antiga, bem maior que os nossos da mesma referência, até difíceis de segurar para uma leitura cômoda. Custam, de 4 a 8 rands.
As rádios e TVs da África do Sul têm programação para todos os gostos, nos mais diversos idiomas. Três rádios transmitem ao vivo os jogos da Copa: uma em inglês e duas em uma das 11 línguas deles. Nas TVs, convidados ilustres, entre ex e atuais treinadores e jogadores. A maioria africana ou de origem. O mais famoso é o Edgar Davids, nascido no Suriname, que fez fama no Ajax, seleção da Holanda e clubes da Itália e Tottenham Hotspur, da Inglaterra.
Como sempre, o sistema Globo foi quem mais enviou profissionais à Copa, entre jornalistas, técnicos e coordenadores. São tantos, com canetas e microfones à mão, que rola até uma piada: estão com dificuldades em descobrir assuntos para as pautas, e um atravessa o samba do outro.
Dessa vez os globais não têm nenhum privilégio com o técnico da seleção. Alguns colegas até aplaudem o Dunga nisso. Para mim, demonstração ridícula de poder.