Blog do Chico Maia

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A Argentina e o exemplo italiano

Torcedores argentinos dentro do metrô, na ida para o estádio em São Petesburgo, antes do jogo decisivo contra a Nigéria. Apreensivos e cabisbaixos, totalmente diferente do normal deles, que fazem grandes festas antes de todos os jogos.

Toda vez que vejo uma seleção em crise dentro e fora de campo, em apuro absoluto, pressão total, de todos os lados, me lembro da seleção da Itália em 1982. Briga entre jogadores, comissão técnica, dirigentes e principalmente imprensa, além de estar jogando mal.

Foi enfrentar o Brasil, maior favorito ao título pela bola que estava jogando. Eram “favas contadas”, e deu no que deu. A Itália se uniu na hora dos vamos ver e foi campeã do mundo naquela Copa.

Caso a Argentina passe às oitavas, hoje, contra a Nigéria, o time e o país vão se unir. Aí, tudo poderá acontecer.


Acabou aquela história de “escola sul-americana”, “escola europeia”. Misturou tudo!

A diferença agora é somente na qualidade individual de cada jogador e o que ele tem de diferencial, como um chute desses do Quaresma, por exemplo, no gol de Portugal contra o Iran.

O estilo de jogo se globalizou há muito tempo, mais intensamente a partir da Copa de 1990, na Itália, quando o “futebol de resultados” entrou em campo de forma definitiva, com a importação de brasileiros e craques do mundo inteiro por clubes da Europa. Antes eles levavam os nossos times para os famosos “torneios de verão” na pré-temporada deles. Foram assimilando nossas formas de jogar e depois passaram a levar os nossos melhores jogadores, às pencas. Atualmente é como se levassem os ovos das aves mais atrativas para chocarem nos viveiros deles. Lionel Messi é o melhor exemplo. Levado aos 12 anos pelo Barcelona. Com quem o Messi tem mais afinidade? Com o futebol sul-americano ou europeu?

Acabou aquela história de “escola brasileira, “escola argentina”, “escola uruguaia”, “escola europeia”. Misturou tudo, e aí cabe a frase do Tim Maia, em que “tudo é tudo e nada é nada”. Peguem as 32 seleções que estão aqui. Em qualquer jogo (com exceções, de países que não figuram no mapa competitivo do futebol) a quase totalidade dos dois times em campo e seus respectivos bancos, jogam em algum clube europeu.


A consagração do estilo Mano Menezes na Copa da Rússia

Paulo Galvão (Estado de Minas), Josias Pereira (O Tempo/SuperFC) e este que vos “fala”, no Estádio Luzhniki em Moscou. Muricy Ramalho, que está aqui comentando para o Sportv, diz a mesma coisa que a maioria da imprensa. E o que escrevemos aqui esta semana: o negócio hoje é apostar numa bola, num erro do adversário e “golear” por 1 a 0. Não é o bom espetáculo, mas é o que garante o emprego dos treinadores e os três pontos, que acabam gerando títulos. O jornalista Josias Pereira, do O Tempo, observou que esta Copa está consagrando as opções táticas do Mano Menezes, para o alcance de objetivos. Muita gente não gosta, mas a realidade é essa. Paulo Galvão, que cobre o Cruzeiro, para o Estado de Minas, também vê assim. Tem sido assunto de nossas resenhas durante o trabalho aqui.


 “Arrascaeta entrou, e pouco fez, o que diminui a possibilidade de ser vendido e parar de perturbar o Atlético”

Cristiano Ronaldo deu a Alireza Safar Beiranvand, goleiro do Irã, a glória de poder contar aos futuros netos e bisnetos que defendeu em Copa do Mundo um pênalti do Gênio de Funchal.

Imperdível a ótima coluna do Marcos Caldeira, do Trem Itabirano:

* “(A copa vista do meu sofá)”

ERA UM CRUZEIRENSE QUE ESTAVA NAQUELA ESQUINA, MAS TORCI PARA SER GOL OLÍMPICO

Uruguai, 3; Rússia, 0. Único sul-americano a ganhar os três jogos da primeira fase, o bicampeão mundial Uruguai vai indo, com Suárez, Cavani, Muslera e Godín. Nem gol tomou. O cruzeirense Arrascaeta entrou no segundo tempo e pouco fez, o que diminui a possibilidade de ser vendido e parar de perturbar o Atlético, contra quem sempre deixa o dele. Mas quase assinou um gol olímpico, o que não ocorre em copas há 56 anos. O único já visto no mundial de seleções foi feito pelo colombiano Marcos Coll no Chile, em 1962, contra a União Soviética. Se Arrascaeta tivesse tido sucesso hoje na Rússia, seria uma desforra para seu país, que deu nome ao lance por um fato negativo. Em 1924, o campeão olímpico Uruguai sofreu um gol de escanteio contra a Argentina, marcado por Cesárco Onzari, e foi aí que a raríssima jogada ganhou nome.

ESCUTE AQUI, Ó CRISTIANO RONALDO: “DEUS AO MAR O

PERIGO E O ABISMO DEU. MAS NELE É QUE ESPELHOU O CÉU”

Portugal, classificado, 1; Irã, eliminado, 1, com chance no finalzinho para desempatar e ficar com a vaga dos lusófonos. Mal, Cristiano Ronaldo deu a Alireza Safar Beiranvand, goleiro do Irã, a glória de poder contar aos futuros netos e bisnetos que defendeu em Copa do Mundo um pênalti do Gênio de Funchal. No segundo tempo, o craque soltou o braço num iraniano. A turma reivindicou expulsão, o árbitro aceitou a sugestão de conferir o lance na televisão e viu agressão do português. Expectativa, um cartão vermelho tira-o do jogo em disputa e do próximo, pode acabar ali a copa para o maior nome do futebol atual (“Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal!”). Cristiano Ronaldo observa o árbitro correndo em sua direção, a essa altura possivelmente já arrependido do que fez (“Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena”). O apitador se aproxima com gravidade (“Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor”). Enfia a mão no bolso para retirar um cartão – é verme…, o objeto movimenta em seu bolso, é verme…, desliza no apertado pano, é verme…, o braço da autoridade se ergue à altura do nariz do ídolo. É verme, é verme, é verme… Não, é amarelo – ufa, o mundo respira. Cristiano Ronaldo pode continuar a exercer seu ofício na relva de Mordovia: “Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu”.

COMO MULHER EM MÁGICA DE CAIXOTE

Na área demarcada do banco de reservas do Uruguai, o treinador Óscar Tabárez, com limitante problema na coluna, andava apoiado em muleta para instruir seu time. Lento, fisicamente frágil, dificuldade no equilíbrio, fazendo lembrar vovôs e vovós. À sua frente, jogadores saltavam como pumas, rolavam como acrobatas do Cirque du Soleil, corriam como animais do hipódromo, se chocavam como bodes e se contorciam como mulher em mágica de caixote.

CRUZEIRO VENCE O TROFÉU ODEBRECHT, O TROFÉU

EDUARDO CUNHA, O TROFÉU SÉRGIO CABRAL (FILHO)

“O quê??? Quer dizer que o Cruzeiro não demitiu Benecy Queiroz?”, soliloquiei, incrédulo, ao assistir a uma série de reportagens sobre a história azul do craque Ronaldo Nazário, feita para o Globo Esporte pelo jornalista itabirano Rodrigo Franco. Deu entrevista, como funcionário do clube, ele que em 2016 assumiu, durante entrevista ao programa Meio de Campo, da “Rede Minas”, ter subornado um árbitro, na condição de supervisor de futebol do Cruzeiro, para favorecer em campo o time das estrelinhas azuis cheias de vaidade. Narra o fato sorrindo, dando uma de malandrão, de esperto. Só faltou dizer: “Isto aqui é Brasil, né? É tudo no jeitinho”. O corrupto confesso representou o segundo maior time de Minas no sorteio para a próxima fase da Copa Libertadores, em Luque, no Paraguai. Benecy Queiroz, informou-me um colega da imprensa de Belo Horizonte, é agora supervisor administrativo do Cruzeiro: “Ainda tem muita influência lá. É uma entidade do tamanho da mancha que criou com aquela história”. Lamentável essa postura do clube, a mensagem que passa a seus torcedores e a todo o Brasil é: pode ser desonesto, sim, não há problema nenhum. O Cruzeiro merece o troféu Eduardo Cunha, o troféu Sérgio Cabral (filho), o troféu Marcos Valério, o troféu Joesley Batista, o troféu Odebrecht. Se o que se quer é um Brasil decente, é preciso combater a desonestidade em todas as áreas. Não sei se Tostão escreveu sobre o assunto, vou procurar no arquivo de crônicas dele na “Folha de São Paulo”.

O PESSOAL DO ARQUIVO X DEVIA INVESTIGAR

O futebol tem umas coisas muito, muito estranhas. Zico, Reinaldo, Sócrates, Falcão, Cruyff e Puskas nunca foram campeões da Copa do Mundo. Mauro Silva e Dunga foram.

LÍNGUA ESPANHOLA

Espanha, classificada, 2; Marrocos, fora, 2. Aspas fez um gol de letra.

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO E A FERROVIÁRIA DE ARARAQUARA

Por falar em letra, o escritor Ignácio de Loyola Brandão mandou e-mails comentando minhas crônicas da copa, falando de mulher e narrando um caso delicioso que disse ter vivido num jogo da Ferroviária de Araraquara, cidade paulista onde nasceu. Não reproduzo aqui para evitar o cabotinismo e a quebra do segredo epistolar.

Por Marcos Caldeira – O TREM ITABIRANO


“Um jogador chamado Fidel Escobar está na copa apenas para nos lembrar que toda ditadura é uma droga”

Fidel Escobar jogou no Sporting de Lisboa até ano passado e agora pertence ao New York Red Bulls.

A coluna do Marcos Caldeira, no Trem Itabirano. Boa demais da conta:

* “TENHO DIFICULDADE DE ACREDITAR NO HOMEM QE VÊ

UMA BOLA VINDO GOSTOSAMENTE EM SUA DIREÇÃO E

NÃO SENTE VONTADE DOIDA DE CABECEÁ-LA, CHUTÁ-LA

DE PRIMEIRA OU DOMINÁ-LA E FAZER EMBAIXADINHAS”

Japão, 2; Senegal, 2. Um senegalês chutou a gol, a bola subiu e foi ao encontro da arquibancada. Uma moça virou de lado para proteger os seios, mas não precisava, pois um torcedor perto dela deu esplêndida cabeçada na bola, de primeira, aplicado como se tivesse num zero a zero de final de campeonato, e a desviou para longe. Espetacular, divertida, antológica, essa cena só não entrará no vídeo oficial da Fifa, após o mundial, se o responsável pelo trabalho for insensível. Já fiz algo parecido no estádio do Valério, em jogo do time itabirano contra o Cruzeiro, mas não fui bem-sucedido como o torcedor na Rússia hoje. Errei o cabeceio – não era lance fácil – e morri de vergonha, pensando que todo o público reparara no meu fracasso. Por isso, comemoro muito o que fez hoje o cabeceador de Ecaterimburgo. Nunca o vi, nunca o verei, pode até ser que algum dia, em algum lugar, eu passe ao lado dele, talvez até pergunte quantas horas são ou onde fica o museu tal, sem saber de quem se trata. Que vontade de conversar com esse moço, tomar uma cerveja com ele, falar do meu Atlético, ouvir o que tem a dizer do clube para o qual torce. Ele é meu irmão de amor ao futebol. Tenho muita dificuldade de acreditar no homem que vê uma bola vindo gostosamente em sua direção e não sente uma vontade doida de cabeceá-la, chutá-la de primeira ou dominá-la e dar algumas embaixadinhas.

HAVIA UMA PEDRA NO MEIO DO CAMINHO PANAMENHO

Inglaterra, 6; Panamá, 1. Stones marcou logo aos oito minutos do primeiro tempo, anunciando que haveria uma pedra no meio do caminho do Panamá. Depois, fez outro. Mais gols ainda, três, assinalou Harry Kane, apelidado em seu país de Hurricane e que por isso está condenado a, quando ficar velhinho, jogar no Atlético Paranaense. Baloy, ex-atleta do Grêmio, assinou o primeiro gol do Panamá na história das copas. Comovente ver uma torcida cujo time tomava de meia dúzia vibrar efusivamente, gerando imagens que também só não entrarão no vídeo oficial da copa se a Fifa vacilar.

PANAMÁ EMPATARIA COM O GUARANI DE CAMPINAS

O Panamá é tão fraquinho na bola que se jogasse contra o Guarani de Campinas, no máximo, empataria. Por falar no Guarani, o Campeonato Brasileiro da segunda divisão não parou. Bateu no peito e disse que tem condições de rivalizar com a Copa do Mundo, coitado. Ninguém sabe de nenhum resultado, mas os jogos estão sendo disputados. Aproveitando a citação ao time paulista, devo esclarecer um assunto. Quando o Guarani tinha boas equipes e enfrentava, ombro a ombro, qualquer grande do país, eu pensava: tantos times de capitais do Nordeste fora da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, mas essezinho do interior firme na elite do nosso futebol. Torcia para vir um tempo em que tudo desse errado na vida do Bugre e caísse para a segunda divisão ou, ainda melhor, para a terceira, o que ocorreu. Hoje, vejo-o pastando capim seco sem azeite, há uma década longe dos principais campos do país, e sinto saudade do tempo em que o G da verde camisa campineira circulava com vitalidade pelo Mineirão, Maracanã e Morumbi, desafiando – e, muitas vezes, derrotando – gigantes. A vida, Maria Imaculada, é mesmo engraçada.

MOMENTO-CABOTINO: ALDIR BLANC

O compositor e escritor Aldir Blanc, glória da MPB, me avisa que citou meu trabalho (estas crônicas da copa) em sua coluna no jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro, neste domingo. Escutando “O Bêbado e a Equilibrista”, com Elis Regina, fui tentar achar o jornal em Itabira, mas nenhuma das três bancas da cidade recebe o periódico da família Marinho. Aliás, nem o “Estadão”, nem a “Folha de São Paulo” e, absurdo ainda maior, nem o “Estado de Minas”. É daquelas tristezas de morar no interior.

EGOS DOMADOS EM FAVOR DO COLETIVO

Colômbia, 3; Polônia, 0. Primeira grande vitória de sul-americano sobre europeu. Chamou-me atenção a comemoração do segundo gol, feito por Falcao García. Efusiva, alegria sincera, lá do fundo, denotando união. Pareceu-me time mesmo, uno, despido da vaidade insalubre, que leva ao fracasso. Egos controlados em favor do coletivo. Numa comemoração, a TV mostrou Valderrama e Higuita, históricos ex-jogadores colombianos – cabelos longos, bigodes e escamas.

NEGO NÃO, BATE UMA DEPRESSÃOZINHA

A partir de amanhã serão dois jogos televisionados por dia, não mais três. Como as partidas decidem tudo na primeira fase, são disputadas simultaneamente, para que seleção nenhuma entre em campo sabendo o resultado da outra. Mudar de três para dois causa certa melancolia, deixa um vazio, decreta uma saudade.

TODA DITADURA É UMA DROGA

Atuou hoje pelo Panamá um jogador chamado Fidel Escobar, que está na copa apenas para nos lembrar que toda ditadura é uma droga.

Por Marcos Caldeira – O TREM ITABIRANO


Verdades verdadeiras do Duke e do Arrigo Sacchi

Esta charge do genial Duke no O Tempo e Super Notícia está sendo replicada mundo afora pelas redes sociais, e óbvio, repercutindo aqui na Rússia. Me fez lembrar a célebre frase do técnico da seleção italiana na Copa de 1994, Arrigo Sacchi, considerado por muitos jornalistas o melhor treinador da história da Itália e um dos melhores do futebol mundial: “O futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes das nossas vidas”.


Idioma é complicado, mas comunicação visual facilita tudo na Rússia

Se é impossível a comunicação em russo para a maioria, a sinalização é farta também em inglês, além de placas e fotos indicativas. . .

… nas ruas, metrô, estádios, restaurantes e pontos turísticos.

Assim como no Brasil, pouca gente aqui fala inglês, mas no fim todos se entendem e tudo dá certo.


Até baterias antiaéreas protegem as instalações da Copa

Estão montadas perto dos estádios.

Camufladas ou ostensivas, como essas, perto do estádio de Rostov.


Segurança é um dos pontos altos na Rússia

Segurança, perfeita. Todo mundo é observado o tempo todo, em todos os lugares, por “olhos” atentos como estes, leitores digitais, detectores de metal . . .

… policiais fardados, em trajes civis e infiltrados na multidão, nas ruas, trens, metrô, enfim…


Os russos estão realizando uma das melhores copas da história

Nos estádios, em todo jogo, aparece este aviso no telão, em russo e em inglês, informando que os torcedores têm wi-fi à sua disposição, livre, sem dificuldades.

No post anterior, o Marcos Caldeira comentou que Alemanha 2 x 1 Suécia foi o melhor jogo da Copa até agora. Concordo. Superou Portugal 3 x 3 Espanha da primeira rodada, em qualidade técnica e emoção.

O nível das partidas é quase sempre assim em todas as Copas, principalmente na primeira fase. E o estilo “aposta numa bola” ou “num erro do adversário”, vai se firmando cada vez mais. Primeiro, pensar em tomar tomar gols; se der, “golear” por 1 a 0 e estamos conversados.

Se dentro de campo a Copa da Rússia está sendo parecida com as anteriores, fora, os russos estão realizando uma das melhores da história. Tudo funciona muitíssimo bem, para quem está trabalhando e para quem veio torcer.