Os janeiros parecem estar pesando no lombo do Benecy Queiroz, que já era uma pessoa experiente e muito importante no futebol mineiro, especialmente como auxiliar de Felício Brandi, no Cruzeiro, quando comecei a minha vida de repórter, na Rádio Capital.
Custei acreditar que era mesmo o Benecy, em reprise em vários sites e TVs do país, dizendo que o Cruzeiro comprou “juiz”. E pior: envolvendo o nome do já falecido técnico Ênio Andrade, que não está mais entre nós para se defender. Citou o nome do Vitor Braga, que segundo ele era o goleiro da época. Também foi infeliz aí, já que o Vitor tinha parado com o futebol quatro anos antes, nunca jogou sob comando do Ênio, e na ocasião era treinador de goleiros no Qatar, trabalhando com o Dino Sani, o chefe da comissão técnica.
Liguei para o Vitor, que está muito chateado com a história. Disse:
__ Não é este o Cruzeiro que conheço. Jamais testemunhei ou tomei conhecimento de qualquer esquema extracampo para nos ajudar a vencer; tínhamos era um trauma pelo título que o Armando Marques nos tirou e deu para o Vasco no Maracanã em 1974.
Vitor acha que o Benecy teve um surto de excesso de vaidade nesta entrevista ao Orlando Augusto, Paulo Galvão, Eduardo Murta e Frederico Ribeiro, no programa Meio de Campo, domingo, na Rede Minas. “Parece que quis se mostrar importante na história do clube”, afirmou Vitor.
Eu estava voltando de viagem no domingo e não vi o programa, mas ontem o Brasil inteiro o repercutiu por causa dessa entrevista. Aliás, tem sido uma tônica do Meio de Campo, desde que o Orlando Augusto voltou a comandá-lo. O Orlando é de uma lealdade e dignidade profissional que muitos colegas não estão demonstrando ter com ele em momentos como este. Hoje, bem cedo, o Bom Dia Minas, da Globo, repetiu o trecho da entrevista, mas não disse que foi ao programa da Rede Minas. Ontem, o João Vitor Xavier, encheu da bola do Orlando e do programa, citando-os como a fonte da infelicidade do Benecy. Porém, não foi a mesma postura de outros colegas, comentaristas, que não citaram o nome nem do Orlando e nem dos demais companheiros. Dar créditos jornalísticos a quem faz jus, além de elegante, significa honestidade com o público que nos prestigia.
De tudo isso, só resta lamentar que o futebol vive contínuo processo de desmoralização, dentro e fora de campo. E me faz lembrar novamente do Walter Clark, o poderoso criador do “Padrão Globo de qualidade”, que escreveu no livro autobiográfico “O Campeão de Audiência”, de 1994 (relançado em 2015), onde, na página 356, escreveu que ele, como vice-presidente do Flamengo, cuidava, dentre outras coisas do acerto com árbitros para favorecer o time: “… as mumunhas da arbitragem, os acertos com os juízes, o suborno. Todo mundo jura de pé junto que não existe, que são fatos isolados, mas na verdade, acontece, quase às claras, para quem quiser ver.”
E confessa que havia apitador que fazia jogo duplo: “ia dar uma grana a esse juiz para ele amolecer as coisas para o nosso lado. Na apuração dos porquês, descobrimos que ele também estava a soldo do outro lado”. Porém, sem citar nomes.
Como diz o jornalista Fernando Rocha, de Ipatinga: “Fecha o pano!”.
No estúdio da Rede Minas, domingo, antes do programa Meio de Campo, Eduardo Murta, Orlando Augusto, Fred Ribeiro e Paulo Galvão.
Hoje marchand e empresário dos ramos imobiliário e de bebidas, o ex-goleiro Vitor Braga (direita), em foto ao lado do Marco Antônio Falcone, na sede da cerveja especial Falke Bier.
O livro autobiográfico do Walker Clark, relançado em setembro do ano passado, “O Campeão de Audiência”
Parte da entrevista do Benecy Queiroz ao Meio de Campo: