Lamentável que os árbitros mineiros sejam barrados novamente da final do Campeonato Mineiro. Atlético e Cruzeiro não querem; não confiam uns nos outros e duvidam, também, dos apitadores e da FMF.
Não sei se algum dia será diferente, mas há um lugar onde a rivalidade é tão grande e em certas situações até pior, onde os dirigentes agem diferente e valorizam a todos, fazendo com que o futebol do estado seja forte demais, dentro e fora das quatro linhas: o Rio Grande do Sul.
Mesmo com as polêmicas que envolvem o meio, tradicionalmente respeitam os apitadores gaúchos.
Peço licença aos companheiros Luis Benfica e Leandro Behs, do blog Dupla Explosiva, do jornal Zero Hora, para transcrever trechos de entrevistas do Alexandre Ernst com Leandro Vuaden e Márcio Chagas, os árbitros de ponta do futebol gaúcho na atualidade.
O primeiro apitou a virada do Inter domingo na Arena do Grêmio, no jogo de ida. O segundo apitará a volta, no Beira-Rio.
A conversa com o Vuaden foi antes do Gre-Nal, o nono que ele apitou. Vejam o clima de pressão, envolvendo inclusive racismo:
* “… Foi sorteado para ser o árbitro do Gre-Nal 400. . .”

Acredita que o clássico requer a mesma concentração e atenção que os jogadores nos clubes, enxerga o confronto como a Copa do Mundo do Estado e antecipa intolerância contra qualquer cântico de cunho racista ou que, ao ser juízo, seja visto como ofensa deste teor.
— Poderíamos usar o bom senso e não se cantar músicas deste tipo — disse o árbitro sobre a canção “chora macaco imundo”, entoada pela torcida gremista.
Zero Hora — O clássico histórico também mexe com a arbitragem?
Leandro Vuaden — É evidente. O Gre-Nal é a nossa Copa do Mundo. Tudo aquilo que é protocolo, pré-jogo, reunião e planejamento, concentração, da mesma forma que as equipes fazem, nós também faremos. Queremos que seja um grande espetáculo. Sabemos da responsabilidade que temos.
ZH — Já começou a pressão por ambos os lados?
Vuaden — Já fui indagado por torcedor, hoje. As pessoas, mesmo pedindo para ajudar o time, não fazem com desrespeito. O futebol é assim, apaixonante. Teria de lamentar se fosse desrespeitoso, grosseiro. E eu respeito, respondo sempre com educação.
ZH — O vice presidente do Inter, Marcelo Medeiros, avaliou a arbitragem do Gauchão como ruim.
Vuaden — É uma opinião de dirigente. Eu, Leandro, poderia falar de arbitragem, sei do dia a dia e sei como as coisas funcionam. É opinião dele e não cabe a mim falar sobre isso.
ZH — No último Gre-Nal que você apitou, houve uma polêmica com o Paulão. Você interpretou como pênalti e os colorados reclamaram muito, alegando bola na mão.
Vuaden — Todo lance de interpretação é complicado. Ouço muito sobre movimento natural do braço, braço estendido, braço encolhido. Eu prefiro usar a seguinte pergunta: o que é mais fácil explicar, a decisão de marcar ou não marcar? E daí se joga para a opinião pública e ela que julgue. Não vamos apitar conforme a opinião publica, claro, mas criamos uma linha de tomada de decisão. É dificil. Para o árbitro, não é interessante polêmica. Ele pode acertar 99 vezes e errar erra que vira polêmica. E você não lembra mais das 99 que ele acertou. É coisa da vida. Em qualquer setor, a credibilidade é importante.
ZH — Será o primeiro Gre-Nal após a questão envolvendo o Márcio Chagas da Silva em Bento Gonçalves. Qual será tua atitude em relação a possíveis cânticos de cunho racista?
Vuaden — O momento atual é delicado. Esse cântico não é um fato novo, é antigo. E nunca se teve repressão a isso. Ele sempre foi entendido como cântico do jogo. Nunca racista. Mas o momento atual é delicado. Poderíamos usar o bom senso e não se cantar nada que dê margem à interpretação de racismo. Se eu entender que isso interfere e é um ato ofensivo vou repreender e, se for o caso, parar o jogo. Acredito no bom senso e na educação das pessoas. Eu não sou só contra o racismo dentro do campo. Eu sou contra o racismo 24h do meu dia. Isso o que está acontecendo é uma injustiça.
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* “Márcio Chagas apitará a final do campeonato: “O árbitro tem que rezar para que não aconteçam lances de mão na bola””

ZH – Bola na mão, mão na bola… Tem sido a polêmica do Gauchão. Haverá um cuidado a mais com esse tipo de lance?
Márcio – É sempre um lance complicado. Se você marca, haverá reclamação. Se não marca, haverá reclamação. Sem dúvida haverá uma maior preocupação da Comissão de Arbitragem e recomendações de atenção máxima ao lance. O perigo é o árbitro estar encoberto em um lance desses. Por isso, contarei demais com os auxiliares para me ajudarem a monitorar essas jogadas.
ZH – Quais os critérios levados em conta por um árbitro para analisar em segundos um lance de mão na bola?
Márcio – Se leva em consideração, sobretudo, a distância de quem chutou e a do adversário, a velocidade da bola e o posicionamento das mãos. É o lance mais complicado que tem. O Leonardo Gaciba sofreu anos com isso, virou case da arbitragem por causa daquele lance do Ronaldinho (em 2000, no Beira-Rio, Ronaldinho conduziu a bola com a mão, Gaciba mandou o lance seguir, o camisa 10 venceu o zagueiro Fernando Cardoso, fez o gol e empatou o clássico pelo Gauchão). A verdade mesmo é que o árbitro tem que rezar para que não aconteça um lance de mão em uma final. Ainda mais em um Gre-Nal.
Zero Hora – Você entende como uma deferência apitar o último jogo do Gauchão?
Márcio Chagas – Acho que prevaleceu o trabalho que foi feito durante a competição. Não sabia da escala, obrigado pela notícia. No levantei bandeira alguma, só relatei uma coisa que aconteceu comigo. Penso que, além de medidas punitivas, devemos começar a nos preocupar com a educação das pessoas, para que atos racistas não se repitam. Gostaria muito que as pessoas se conscientizassem e que essas manifestações realmente diminuíssem. O futebol é o esporte que agrega o maior número de etnias, espero que as pessoas se respeitem mais. Quem sabe se pensarmos em uma forte política de educação no combate ao racismo, em vez de punições, as coisas não evoluam?
* http://wp.clicrbs.com.br/duplaexplosiva/?s=M%C3%A1rcio+Chagas&topo=13%2C1%2C1%2C%2C10%2C13