Renato Maurício Prado, na coluna dele de ontem, no O Globo, antes do clássico:
* “Metamorfose”
Com razão, os rubro-negros andam inconformados com a enorme diferença de rendimento entre o Ronaldinho Gaúcho do Atlético Mineiro e o do Flamengo. Realmente, ele mudou da água pro vinho. No caso, talvez fosse mais adequado dizer o contrário: mudou do vinho pra água… Afinal, no Rio, ele brilhou muito mais fora de campo (leia-se, na noite carioca) do que dentro dele.
É verdade que chegou a fazer alguns grandes jogos com a camisa rubro-negra — e aquela memorável vitória de 5 a 4, de virada sobre o Santos, na Vila, foi o mais emblemático deles. Mas na maioria das vezes foi peça praticamente nula, limitando-se a ficar paradão na ponta-esquerda, ou avançado e perdido entre os beques.
Esta questão tática, aliás, pode e deve ser vista como um dos fatores que influíram decisivamente na sua metamorfose. Ao contrário de Cuca, que lhe dá toda a liberdade para criar e se deslocar pelo gramado inteiro, a partir do meio-campo, Vanderlei cismava que Ronaldinho deveria ficar bem adiantado, muitas vezes até como centroavante. Um erro crasso, contra o qual cansei de esbravejar.
A maior diferença, porém, é de postura. No Fla, como se sentia o dono do time e, por que não dizer, do clube, diante da tibieza dos dirigentes, o Dentuço pouco se empenhava. Some-se a isso o problema dos salários e das luvas, que começaram a atrasar, e vai-se entendendo os motivos que agravaram o desleixo profissional, que chegou a levar o jogador a chegar para um treino, diretamente de uma noitada, sem a menor condição de se exercitar.
No Galo mineiro, ao contrário, Ronaldinho se deu conta de que aquela podia ser a sua última chance profissional. Passou a receber um terço do que ganhava no Fla, mas o pagamento é em dia.
E as cobranças também. Ficou famosa a tremenda bronca que Kalil deu no elenco em geral, e em Ronaldinho em particular, no dia seguinte a uma festança em Belo Horizonte. Depois do puxão de orelhas, o Galo embalou e embora tenha perdido o campeonato brasileiro para o Fluminense, fez uma bela campanha, afiando a base desse supertime que agora encanta na Libertadores.
A grande diferença do Ronaldinho do Flamengo para o do Atlético, portanto, está na seriedade e no comportamento profissional. Dos dirigentes e dele.
Patrícia Amorim, por incompetência, transformou aquela que parecia ser a sua maior vitória (a contratatação do craque) numa frustrante e dispendiosa derrota. Fico imaginando o que ela e seus antigos pares de diretoria sentem cada vez que assistem a novo show do Galo e de Ronaldinho…