De vez em quando o Rodrigo Araújo envia ótimos comentários sobre futebol e outros assuntos. Não o conheço pessoalmente, mas sei que é profissional liberal, da área da saúde, e amigos comuns já me disseram que trata-se de uma grande figura e brilhante no que faz.
Andava sumido e reapareceu anteontem para falar do tema do momento: Mineirão.
Mandou um desabafo, que está na garganta de muitos, inclusive termos mais pesados, que vi pela primeira vez em seus textos.
Penso como ele na maioria do que ele escreveu, só não chego a concordar com as expressões mais carregadas.
O problema maior desse tipo de situação no Brasil; em Minas principalmente, é que a população nunca é ouvida para nada. Só é chamada a participar para entrar com dinheiro, em forma de ingressos pagos, taxas ou impostos.
Para 2013 e 2014 ao invés de promover concursos públicos, a CBF e a FIFA impuseram as marcas, mascotes, nomes de bolas, cartazes de cada sede, fazendo questão de manter distância do povo, esse “nojo”. Peças feias ou questionáveis estão aí no mercado e vão se tornar bilhões de dólares no Brasil e no mundo em forma de camisetas, chaveiros, bonés, canetas e todo tipo de souvenir.
A maioria dos projetos de estádios foi feita sem concurso ou licitação, Mineirão inclusive. Tudo muito caro, milhões investidos, de dinheiro público, sem a participação de cidadãos comuns, sem padrinhos ou parentes políticos.
Graças a concursos públicos o mundo conheceu grandes arquitetos, designers, engenheiros, e tantos outros profissionais de várias áreas, muitos recém saídos das universidades, que se revelaram brilhantes.
A Copa do Mundo seria a oportunidade ideal para milhares de talentos brasileiros se apresentarem país afora e ganharem o mundo com o seu talento e trabalho.
Mas, não. Perdemos esta chance.
No Brasil é quase sempre na base do compadrio e interesses inconfessáveis; ações entre amigos!
Por isso entendo a revolta do Rodrigo, que é a indignação de todo mineiro e brasileiro que vice do seu trabalho e cumpre com as suas obrigações cidadãs.
Há também muita gente, incontáveis, que mistura isso com futebol, que vê conspiração a favor ou contra Atlético e Cruzeiro, em qualquer assunto que possa afetá-los. São os chamados “analfabetos políticos”, que podem ser chamados também de “analfabetos da cidadania” ou descamisados mentais.
Muitos desses me escrevem, xingando, exigindo que eu só fale de futebol, coitados!
Vamos ao desabafo do Rodrigo Araújo, de Belo Horizonte:
* “Oi Chico Maia. Começamos 2013 mal, na esfera futebolística. Fui ao “novo” “Mineirão” e tenho lido os comentários a respeito. Imagino que sua caixa postal está pipocando. Não iria escrever, mas como vc vai na TV Assembléia, talvez seja útil o que eu vou contar.
Bom, pra começar, vc é dos poucos jornalistas que afirma que o antigo Mineirão era melhor, oferecia melhores condições de tudo. Eu penso que por dentro, pra quem fica do meio pra baixo melhorou demais. A arquibancada superior não se sobrepõe à inferior, o que causava muita sombra e tornava a arquibancada inferior um local desagradável para se ver os jogos. Hoje a parte superior está muito abafada (fiquei lá no alto, num dos últimos lugares, na torcida do América), pela extensão da cobertura, que diminuiu demais a circulação de ar. No calor forte vai ter gente passando mal, se estiver cheio.
A tal de esplanada, que muitos elogiaram, na minha opinião foi um erro estúpido. Tirou a praticidade do estacionamento (conforto do torcedor), que deveria aumentar e não diminuir 50%. Aquilo é de uma falta de inteligência absurda. É tudo cercado. Um espaço daquele, que afunila em direção ao portão é perigosíssimo. Se houver um tumulto (o que não é pouco provável), vai ocorrer efeito manada e a coisa pode ser trágica. Quando havia o estacionamento, as pessoas saíam do estádio e andavam entre os carros, diluindo e desacelerando a multidão num grande espaço. Agora, não. O espaço da esplanada é amplo e longo, a multidão acelera, e, pior, afunila.
Em relação ao estacionamento na rua, falta de água e comida, acho que são fáceis de se resolver. A burrice não pode ter teimosia junto. E a vaidade e o orgulho dos integrantes da Minas Arena foram pro espaço, eles não vão querer repetir o vexame. O problema maior é a obra. Do lado de dentro, tudo bem, ficou legal, só precisam criar ventilação. Afinal, na Europa o clima é mais ameno e este modelo de estádio atende bem. No verão europeu não tem futebol. É férias. Então ninguém fica sufocado no alto de um estádio como o “nosso”. Mas a obra que foi feita do lado de fora, para agradar à antipática e corrupta FIFA, foi péssima para o povo. Parece que a FIFA vai bancar eventos por muitas décadas e que o povo mineiro é que só vai usar por um mês.
Pra finalizar, o tratamento que o público recebeu foi aquele dado ao penetra indesejado na festa. Pra nunca mais pensar em voltar. Eu, que não tenho compromisso com governador, nem com a Globo, nem com a Copa (sou contra), não preciso fingir que a obra foi boa e só a falta de água e comida foram problemas. Acho que, no geral, ficou uma merda. O estádio deveria ser “batizado” como Merdeirão ou Chacotão.
Tiraram um espaço que era amplo, dava sensação de liberdade, era do povo, era democrático pra caramba, onde as pessoas se igualavam nas arquibancadas. Impressionante como as coisas pioram. Os políticos, pela incompetência e despreparo, além do desleixo com o povo, só burocratizam tudo, só tornam tudo pior. Gostaria que algum dos envolvidos no projeto apontasse um ítem entre compra de ingresso, até o xixi do banheiro que foi facilitado para o uso do povo. Ficou muito mais caro e muito pior. Estou revoltado. Já estava com antipatia absurda dessa copa, vem o nosso governo querer fazer bonito pros outros, atrapalha a vida dos clubes, que ficaram sem estádio e depois entregam o Mineirão para uma empresa ridícula, que fez uma obra digna de se jogar na privada e dar descarga. Ah, e foi sem licitação. Em 2014 vou viajar pro exterior um mês e torcer pro Brasil dar um grande e campeoníssimo vexame, dentro e fora de campo. Eles merecem!”
Rodrigo Araújo