Dois dos maiores algozes do Ronaldinho Gaúcho na imprensa se renderam à volta por cima do craque, e justos que são, reconhecem novamente a diferença que ele faz.
Juca Kfouri e Renato Maurício Prado, que também criticaram duramente o Atlético pela contratação, escreveram colunas memoráveis, enaltecedoras ao sucesso do R49 em Belo Horizonte.
O Juca inclusive criou um apelido muito legal para ele: “Galucho”.
Importante ressaltar que, quando estes jornalistas deram porrada no jogador, ele estava fazendo por merecer.
Essa é a vida e assim é a atividade jornalística séria.
Veja as colunas, publicadas, segunda-feira, na Folha de S. Paulo, do Juca; e ontem, no Globo, pelo Renato:
* Juca Kfouri
“Galucho em estado de graça”
Tudo começa a se encaixar. Kaká está de volta ao futebol depois de um longo e tenebroso inverno e Ronaldinho Galucho recupera seu protagonismo em grande escala.
Na vitória sobre o Fluminense, num clássico simplesmente enlouquecedor para o mundo todo ver de joelhos, Camp Nou e Santiago Bernabeu incluídos, o craque gaúcho mostrou todas as suas armas, com passes decisivos, dois deles que culminaram em dois gols, e com uma cobrança de falta magistral, anulada pelo corajoso apitador baiano que, sem medo do que vão dizer, interpretou como falta o empurrão de Leonardo Silva na barreira tricolor.
Questão da velha falta de critérios porque, contra o Vasco, o Flu fez gol igual e valeu. Mas o apitador, de forte personalidade, e desapego à vida, enfrentou o Independência lotado e em clima de protesto contra as arbitragens, para fazer valer o que viu, mesmo com a bola não passando no buraco aberto pelo zagueiro atleticano.
Que, aliás, mostrou como o futebol é maravilhoso.
Leo Silva deixou também passar por suas pernas o segundo gol carioca e poderia ter saído como vilão do jogo que acabou por dar mais graça ao Brasileirão. Só que foi dele o gol salvador, o que deixou o Galo a seis pontos do Flu, no momento derradeiro do melhor jogo do ano.
Jogo que poderia ter terminado com um placar pornográfico, algo como 8 a 2 para os mineiros, não fossem três bolas nas traves cariocas, quatro senhoras defesas de Diego Cavalieri, além de um gol salvo por Gum na linha da pequena área.
Felizmente a vitória atleticana permitirá que se fale da excelência do jogo e não do apito, assim como será possível falar da exuberante atuação de Vágner Love na vitória do Flamengo sobre o São Paulo, por 1 a 0, e que poderia ter o resultado invertido caso Luis Fabiano convertesse um pênalti inexistente ainda no primeiro tempo. Uai, mas os esquemas não protegem o Flamengo?
Volto a Ronaldinho Galucho. Sim, se Cavalieri merece ser convocado para a seleção, RG ainda não, embora esteja jogando para ser titular dela. Que fique, no entanto, assim, matando um leão por atuação até que a Copa do Mundo se aproxime.
O que ele fez ontem é coisa de antologia, assim como o que fizeram o goleiro tricolor, sem esquecer que Pierre pôs Deco no bolso e que Bernard é outro que faz jus a qualquer chamamento, revelação de 2012.
Está dito lá em cima que tudo começa a se encaixar. Por sorte ou por cálculo, pelo acaso ou por paciência, fato é que só está faltando Paulo Henrique Ganso ficar 100% para termos outra vez uma seleção brasileira digna de suas glórias e que possa olhar com igualdade de condições para as demais.
Porque o jogador brasileiro é assim –atenção, o jogador!
Quando menos se espera, renasce. Como o inesquecível jogo de Belo Horizonte provou.
* http://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/1172900-galucho-em-estado-de-graca.shtml
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* Renato Maurício Prado
“Soberbo maestro”
Foi impressionante a exibição do Ronaldinho Gaúcho contra o Fluminense. Na minha opinião, a melhor desde que voltou ao Brasil. Acho que ele jogou mais até do que naquele espetacular Flamengo 5 a 4 no Santos, na Vila Belmiro, e também, recentemente, na goleada de 6 a 0 do Atlético Mineiro sobre o Figueirense. E olhe que nestas duas partidas ele fez três gols em cada…
Desta vez, o Dentuço não marcou, mas encantou por ter sido um autêntico maestro em campo. E o recital apresentado no grande duelo entre o líder e o vice-líder do campeonato foi soberbo.
A assustadora superioridade do Galo sobre o Flu (no primeiro tempo, um autêntico massacre!) deveu-se, acima de tudo, à magistral performance de Ronaldo. De seus pés saíram quase todos os grandes lances do jogo — e não faltaram lindas jogadas do Atlético na tarde de domingo passado.
Não fosse mais uma grande atuação de Diego Cavalieri, os mineiros poderiam ter liquidado a fatura já na primeira etapa, quando acertaram duas vezes a trave e obrigaram o goleiro tricolor a realizar um punhado de intervenções difíceis. O zero a zero dos 45 minutos iniciais foi de uma injustiça ímpar diante do que se viu em campo.
Quando Wellinton Nem abriu o placar, na segunda etapa, parecia até que a velha máxima do “quem não faz leva” iria se confirmar de novo — principalmente por se tratar do Fluminense, que neste torneio se tornou especialista na arte de sofrer pressão dos adversários mas ganhar por 1 a 0.
Só que Ronaldinho estava tão encantado que o susto se mostrou incapaz de desanimá-lo. E foi justamente de mais uma grande jogada dele que nasceu o gol de empate, feito por Jô, que voltaria a marcar colocando o time do Cuca na frente.
E nem mesmo quando o Fluminense voltou a igualar o placar, deixou de brilhar a estrela do Gaúcho. O longo e precisamente milimétrico lançamento que fez na cabeça de Leonardo Silva, na jogada que originou o gol da vitória, foi primoroso.
Como primorosa, como um todo, foi a tarde de Ronaldinho Gaúcho. Se continuar jogando assim, sem dúvida, tem todas as condições de voltar a vestir camisa 10 da seleção para comandar o Brasil na Copa das Confederações e até no Mundial de 2014.
A grande questão é saber se conseguirá manter o foco e a forma até lá. E essa já é uma outra história. Ainda muito complicada…
* http://oglobo2.globo.com/esportes/rmp/posts/2012/10/23/soberbo-maestro-471529.asp