Excelente artigo da ex-deputada Sandra Starling, hoje no jornal O Tempo, sobre o Cruzeiro:
* “Cruzeiro Esporte Clube: “supermercado de atletas”?”
Morando em Brasília, já andava cansada de responder a reiterados gozadores que o Cruzeiro não é, como insinuavam, um “supermercado de atletas”. Dizia que era um time sério, bonito de se ver jogar, cheio de garra e coberto de glórias. Depois da vexatória derrota para o Once Caldas, na Libertadores, comecei a dar ouvidos às críticas e ficar preocupada com a política que a direção do clube vinha impondo.
Explico-me: olhando para os times que estão à frente da equipe celeste no Brasileirão, aqui e acolá dá para reconhecer um craque que já foi do Cruzeiro. Para não falar nos que brilham na Europa. E o que é pior: em muitas das últimas derrotas, foram alguns desses craques que fizeram os gols que estão nos deixando nesta vergonhosa situação de fortes candidatos à Série B no próximo ano. Os gols que nos faltaram no último domingo sobraram nos pés de Fred na goleada que o Fluminense aplicou ao Figueirense. E, apesar da situação sofrida do América, não há como deixar de assinalar a injeção de ânimo que um antigo cruzeirense, Fábio Júnior, veio dando aos seus companheiros.
Invoco aqui entrevista que dei para que ninguém possa dizer que só estou me queixando agora, depois que o time caiu na tabela: já em 2010, respondendo a pergunta de estudantes na revista “Ponto & Vírgula”, da Fumec, não titubeei em dizer que deixaria numa ilha deserta, com muito gosto, o Zezé Perrella.
Alguns times, nos saudosos tempos de antigamente, eram celeiros de craques. O Cruzeiro virou mesmo “supermercado de atletas”, com a mania de vender todo jogador que se mostre um craque, em qualquer posição. Nem sei explicar como o pobre Fábio restou para passar tanto vexame ultimamente. A mania dos dirigentes vinha sendo jogar peso na eventual conquista da Libertadores (que nunca vinha), em detrimento da consistência do plantel, a partir da promoção conjunta dos jogadores nas mais diversas categorias. Suspeito que essa ênfase na Libertadores era apenas uma estratégia para valorizar ainda mais a venda das mercadorias disponíveis.
Ninguém aguenta mais tal tipo de postura. E aí não adianta pedir para a torcida incentivar. Eu não consigo incentivar um time que não sei mais escalar de cor. Não sei quanto tempo faz que não consigo escalar, nem mesmo saber o nome da maioria dos jogadores do meu time de coração. Mal sei reconhecer um ou outro.
Dia desses, no aeroporto da Pampulha, aguardando voo para Diamantina, dei de cara com uma garotada de azul, o azul que eu tanto amo e que tantas glórias trouxe ao futebol brasileiro. Quase saí correndo para pedir autógrafos… até que me dei conta de que não sabia o nome de praticamente ninguém.
Graças a Deus, Zezé Perrella foi-se embora. Que Deus o tenha lá no Senado por um bom tempo e que nos livre de quem ele pôs no seu lugar. E que juntos, nós, torcedores, que tanto estamos sofrendo, humilhados, tomemos vergonha e não deixemos mais que o dinheiro em caixa, no caixa do time, valha mais que as muitas alegrias que o Cruzeiro nos deu anos e anos afora.
* http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=17047
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