Entrevista à Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo de domingo:
* Banho de loja
Com contratos de R$ 400 mil em publicidade, Paulo Henrique Ganso revela que é vaidoso (depila e passa creme importado no corpo) e diz que não quer jogar no Corinthians
Paulo Henrique Ganso chega à Arena Barueri em um Vectra alugado. Atrás, em outro veículo idêntico, vêm o segurança e Jean Neto, do grupo DIS, que tem 45% de seu passe. Não é dia de jogo.
Foto Rodrigo Capote/FolhapressO meia Ganso grava comercial
O estádio foi alugado para a gravação de um comercial. Ele já desce do carro com uma camiseta repleta de marcas do patrocinador, a Gillette, e vai para um camarim, onde o aguarda um bufê com pães, bolos, sucos e latas de Coca light. “Ele tem contrato com a Pepsi”, avisa o assessor Diogo Kotscho. Ganso acaba bebendo suco de laranja e água.
A maquiadora Anna van Steen passa um corretivo em seu rosto. “Ele tem a pele perfeita. Com certeza, usa protetor solar para treinar”, diz ela ao repórter Diógenes Campanha. Um papel orienta a equipe: “Não fotografar Ganso durante a maquiagem.”
“É meio estranho, né?”, explica o craque. “Maquiagem não tá… como é que eu posso falar? Não é coisa de jogador. Eu não gosto muito, não.” O comercial exigia que ele deixasse crescer a barba, mas Ganso, 21, exibe pouco mais que um bigode ralo.
Tira a camisa para gravar no chuveiro. Quase não há pelos no corpo. “Eu depilo, tem que depilar. Tenho poucos pelos, mas sou um cara muito vaidoso.” Não dispensa cremes para o corpo (“Victoria’s Secret mesmo”) e perfume, “para ficar bem cheiroso”.
Ganso fatura hoje “muito, muito mais” com publicidade do que com o salário do Santos. O contracheque é de R$ 130 mil e os ganhos mensais com patrocínios, estimados em R$ 400 mil. Além de Gillette e Pepsi, tem contratos com Nike e Samsung. Evangélico desde os 15 anos (“Gosto de estar sempre ouvindo louvor, lendo a Bíblia, indo à casa do Senhor”), recusou propostas para anunciar cerveja. “Esse é o meu jeito de ser.”
Também abriu mão do mercado de presenças VIP. No ano passado, durante a Copa, ele chegou a assistir a um jogo em uma loja ganhando cachê. Agora, só vai a eventos dos patrocinadores. “Por mais que paguem, acaba fechando a porta para outras marcas”, diz Kotscho.
“O que você consegue fazer?”, pergunta o diretor Rogério Velloso, que vai filmá-lo em campo, com a bola. “Só não posso correr. Tem que ser uma coisa mais parada.” Ganso está sem jogar desde 8 de maio, com uma lesão na coxa direita. Ele espera voltar ao Peixe no segundo jogo da final da Taça Libertadores e depois disputar a Copa América pelo Brasil.
Além de levantar uma taça com a seleção, Ganso diz ter outro sonho: “Construir a minha própria casa. Isso ainda está faltando. Uma casa belíssima, com bastante quartos, piscina, churrasqueira e campinho de futebol, tem que ter. Lá no Pará.” Ganso nasceu em Ananindeua, na região metropolitana de Belém.
Já comprou dois apartamentos em Belém. Deu um para Bel, 33, mais velha de seus três irmãos e a única casada. Um para o resto da família. E o terceiro para si mesmo, em Santos. “A gente sabe que imóvel é um investimento muito bom, então estou procurando aprender um pouco desse ramo.”
O segurança Francisco Carlos Ferreira, o Chico, observa a gravação. Ele trabalha no Santos há quatro anos e começou a acompanhar Ganso neste semestre. “Com o tempo, ele foi precisando, porque as coisas mudaram para ele”, diz. Chico fez curso para “segurança VIP”. “Você não pode ser agressivo, para não causar problemas para a imagem dele. Tem que saber a hora de chegar, de sair, de conversar, de bater…”
“E aí, ele vai mesmo para o Corinthians?” é a pergunta que a reportagem ouve mais de uma vez, de técnicos da equipe de gravação, durante o comercial. A possibilidade de trocar de camisa surgiu durante a negociação contratual de Ganso com o Santos, que se arrasta desde 2010. Como ele planeja jogar na Europa e o Peixe não quer diminuir a multa para a transferência internacional, surgiu a possibilidade de o grupo DIS colocá-lo em outro clube brasileiro, e depois negociá-lo para o exterior. A coluna tentou checar:
Folha – E o Corinthians?
Paulo Henrique Ganso – [Risos] Não, não. É complicado você sair do Santos para o maior rival. Tenho uma história bonita no clube e quero ganhar muitos títulos aqui, especialmente a Libertadores, que está próxima.
Então você não iria?
Difícil. Não iria, não.
Quer jogar na Europa?
Olha, eu tenho vontade de jogar na Europa. Só não posso te dizer quando, né? Se é neste ano, no ano que vem, em três anos. É uma coisa natural que tem que acontecer. Se forçar, não vai dar certo.
No segundo semestre, sua vontade é estar no Santos ou na Europa?
Olha, [risos], essa pergunta é complicada. Pô, a minha vontade, lógico, é sempre jogar pelo Santos, sempre que estiver jogando pelo Santos, honrar essa camisa. Mas, lógico, eu tenho um sonho de criança de poder jogar um dia na Europa. Não sei quando, mas espero realizar.
Sentiu-se desvalorizado em relação ao Neymar [que renovou contrato antes e com salário maior]? Não que seja… não sei se a palavra certa é desvalorizado, mas acho que demorou um pouquinho ali para resolver esse negócio de contrato entre Paulo Henrique Ganso e o Santos. A coisa boa é manter esse relacionamento, não ter briga, deixar as coisas acontecerem naturalmente.
Acha que te deixaram de lado para priorizar o Neymar?
Não sei. Se priorizaram, eles achavam que estavam fazendo a coisa certa, e eu achava que não era o jeito certo de fazer.
Milan e Inter de Milão já manifestaram interesse em você. Qual dos dois prefere?
Tenho a preferência de jogar num grande clube da Europa. E eu posso dizer que os dois são grandes clubes.
Depois da gravação, Ganso recebe 14 camisas, entre uniformes do Santos e da seleção, do marketing do patrocinador. Deve assiná-las para parceiros e promoções da empresa. Outros funcionários entram na fila. “Não tem camisa do Milan?”, brinca um deles. No camarim, ao trocar de roupa, exibe um colar com a inscrição “I will never stop love you” [“Não pararei de te amar’]. Foi um presente para a estudante Giovanna, 18, sua namorada há um ano e meio. Ele não conta o sobrenome dela. “Procuro blindar. Estamos começando aí uma história. Sonho em ter filhos também.”
Neymar será pai no fim do ano. “Tem que cuidar agora desse garotão que vai vir.” É menino? “Eu estou torcendo para que seja. Mas, se for menina, vai ser muito abençoada por Deus. Independente disso, vou ser tio. A gente costuma brincar [com a gravidez inesperada do amigo]. Só deixo bem claro: na hora em que ele precisar, pode contar comigo.”