Eu estava no ar, na BHNews TV, e não ouvi a homenagem que o Emanuel Carneiro fez ao agora saudoso Paulo Roberto Pinto Coelho, o “Repórter que sabe de tudo”, que morreu na manhã de hoje, aos 71 anos de idade.
Um recado na caixa de mensagens, do sempre amigo, prestativo e solidário da nossa categoria, Luiz Carlos Alves, informou-me do triste acontecimento.
Às voltas com uma diabates e outros problemas de saúde, lá se foi o grande Paulo Roberto, com quem tive o privilégio de trabalhar e aprender demais. Da profissão e da vida; o que fazer e o que não fazer!
Foi meu chefe na Rádio Capital.
Dentre tantas histórias vividas com ele, uma que sempre conto a futuros colegas ou a turma mais nova que está no jornalismo:
Procópio Cardozo era o técnico do grande time do Atlético no início dos anos 1980.
O Galo se concentrava no “Casarão do Planalto”, na Avenida Portugal.
Era uma quarta-feira, dia um grande jogo pelo Brasileiro, desses que as emissoras punham repórteres de plantão desde cedo nas portas das concentrações dos times.
A Rádio Capital travava uma guerra impressionante pela audiência com a Itatiaia, em todos os horários, mas principalmente no esporte e transmissões esportivas.
Procópio Cardozo proibiu a entrada da imprensa na concentração.
Paulo Roberto fez contato com o nosso carro de reportagem, pelo rádio, já que não existia telefone celular, e disse:
__ Chico, quero a fala do maior número possível de jogadores, para rodarmos no programa das 11 horas, na Resenha e durante a programação da rádio.
Argumentei que ninguém entrava e ninguém saia do “Casarão” naquele dia; que era ordem do Procópio. E o Paulo berrou do outro lado:
__Não quero nem saber; estou mandando você entrevistar os jogadores!
Com 18 anos de idade, recém chegado da Rádio Cultura de Sete Lagoas, tentei argumentar com o chefe que era impossível, e que o portão estava trancado, com seguranças na porta.
__PQP! Você quer ser repórter da Rádio Capital ou quer voltar para Sete Lagoas? Resolva aí do seu jeito e quando você voltar nós conversamos! A escolha é sua!
Ora, ora! Cumpria a ordem ou perdia o emprego. Com a ajuda do motorista do fusca da Rádio, Geraldo Tito Pereira, o “Tatu”, demos a volta no quarteirão, consegui ajuda para escalar o muro, pulei para dentro, para perto de onde os jogadores sempre tomavam café. Com o gravador e um microfone com fio da “unidade móvel” da Capital. Entrevistei Chicão, Fernando Roberto, Palhinha, Heleno, Orlando, Eder e o então supervisor Mussula, que me alertou:
__ Se o Procópio te pega aqui dentro você está ferrado, hein!?
Mal fechou a boca e a fera apareceu gritando, perguntando quem havia autorizado a minha entrada, que eu tinha que respeitar as normas, que aquilo era um desrespeito, que reclamaria com a minha chefia, e…
Não fiquei para ouvir o resto porque joguei o microfone pelo muro, passei o gravador por debaixo do portão e foi a conta de saltar para o lado de fora, correndo do Procópio.
E eu que cobri o América durante três meses, a partir daquele dia fui efetivado na cobertura do Galo.
O Luiz Carlos Alves tem muito mais histórias que eu, principalmente com o Paulo Roberto, seu contemporâneo.
Ele enviou-me cópia de e-mail que mandou hoje para o Carlos Eduardo, um dos filhos do Paulo, e com a autorização dele, repasso aos amigos do blog, nessa homenagem ao saudoso companheiro:
“Carlos,
Muita gente vai lembrar histórias do seu pai. Eu mesmo tenho dezenas delas.
Mas, de todas, a mais importante é que ele está na história do rádio mineiro e brasileiro.
E nada, nem ninguém, vai tirá-lo de lá.
Fui seu colega, chefe e amigo.
Com ele aprendi muito e sempre digo que foi um dos melhores entrevistadores do rádio brasileiro.
Verdadeiro repórter, que perguntava sem receio da reação do entrevistado.
Nunca “perguntava respondendo”, subservientemente, pelo entrevistado, essa coisa pusilânime que muitos fazem em detrimento do interesse do ouvinte ou daquilo que a audiência quer mesmo saber.
Paulo Roberto, um talento natural, veio pronto para o rádio e honrou seus microfones.
Seguem as fotos que lhe prometi e aqui a identificação que a memória me permitiu quanto àquela do Méxio, em 70. Estou mandando para o Chico Maia e para o Kleyton Borges também.
Esses é que fazem e elevam a audiência. Como os que estão na foto de 1970, na sede da Rádio Comerciales de Guadalajara.
Da esquerda para a direita, em pé:
Vilibaldo Alves (Itatiaia), Jorge Marins (operador da Mauá, Rio), Luís Orlando (Mauá), Paulo Roberto (Itatiaia), João Saldanha (Globo), um mexicano, atrás dele Jorge Curi (Globo), na frente Valdir Amaral (Globo), o grande árbitro, escritor e jornalista Pedro Escartin (Fifa), Orlando Batista (Mauá), um mexicano, Flávio Araújo (Bandeirantes) Joseval Peixoto (Pan), Denys Menezes (Globo), Osvaldo Faria (Itatiaia), Roberto Silva (Bandeirantes) e Luiz Carlos Alves. (Itatiaia).
Agachados: Luís Mendes (Globo), Flávio Alcaraz Gomes (Coordenador Geral), Ademir Marques de Menezes (Mauá), um mexicano, outro mexicano e Januário de Oliveria (Mauá).
Essa turma – perdoe-me a falta de modéstia – está na história do melhor rádio brasileiro.”
Obrigado,
LUIZ CARLOS ALVES
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