No Brasil as instituições públicas gostam de transferir responsabilidades para o cidadão. O Estado erra mas o cidadão paga o pato. Quem acompanha o meu trabalho desde o início em Belo Horizonte, na Rádio Capital, em 1979, sabe que sempre fui defensor da nossa Polícia Militar, mas sem abrir mão de criticá-la quando não havia dúvida de algum erro cometido por ela ou por algum de seus integrantes, de soldados a oficiais. A própria corporação sempre teve um departamento de comunicação exemplar, que era o primeiro a chamar a imprensa, esclarecer e assumir erros quando ocorriam, garantindo o respeito e a credibilidade da PM perante a população a qual ele serve.
Domingo me surpreendi ao tomar conhecimento que a Polícia Militar teria “invadido” residências perto do Estádio Independência na captura de torcedores. Mas como assim invadiu uma residência? Sem mandado judicial? Voltamos à ditadura e não estamos sabendo? Depois vi na imprensa, depoimentos de moradores que não só foram “invadidos” como tiveram prejuízo material e moral com essa ação.
No Brasil as instituições públicas gostam de transferir responsabilidades para o cidadão. O comandante do batalhão de choque, tenente-coronel Gianfranco Caiafa, procurou o Superesportes para defender a ação da PM e culpar a torcida do Atlético e ao presidente Daniel Nepomuceno. Ele deveria ter dado esta missão ao chefe da Sala de Imprensa da PMMG, Maj Gilmar Luciano Santos, que é excelente profissional e sabe se comunicar. É do ramo. Caso ele tivesse sido acionado para dar as explicações que a PMMG é obrigada a dar para esta confusão de domingo, certamente não estaria rolando um vídeo no YouTube que põe a nossa PM muito mal perante ao país.
“Polícia Militar de Minas Gerais erra e torcedores de Atlético e Corinthians pagam o preço”
https://www.youtube.com/watch?v=w3DMG9ZOZa8&feature=youtu.be
Um comentário que o blog recebeu do leitor João Paulo Cavalieri me fez pensar e ler com muita atenção à fala do tenente-coronel Caiafa ao Superesportes:
* “Boa tarde a todos!”
… tem 4 anos que o Galo joga no Horto, e nunca vi acontecer nada sequer parecido ao que vi no domingo. Fizeram a estratégia errada de levar a torcida do Corinthians pra Pitangui (o que já foi um absurdo sem precedentes) e a torcida que se concentra sempre de forma pacífica na Silviano Brandão acabou pagando o pato. Que o comandante de operações se explique!
O tenente-coronel Caiafa começa chamando o estádio do Horto de “estádio do Independência”, mesmo erro que muitos colegas da imprensa, principalmente dos outros estados cometem, como se o bairro onde ele se encontra se chamasse Independência ou se o clube dono da casa tive este nome. Depois diz que a torcida do Atlético foi a culpada, mas, mais adiante diz que houve um erro de informação por parte da torcida do Corinthians, obrigando a PM a mudar a rota de chegada ao estádio. No fim, se recusa a falar sobre o mais grave que foi a invasão de residências.
Ou seja: como ele próprio diz no início da conversa com o Superesportes: cada um na sua. Fosse o porta-voz oficial da comunicação da Polícia Militar a corporação estaria melhor representada e defendida.
Confira as informações e vídeos na sequência:
* “Depois de o presidente do Atlético responsabilizar a Polícia Militar pela violência no entorno do Independência, na partida do Galo contra o Corinthians, nesse domingo, o comandante do Batalhão de Choque, tenente-coronel Gianfranco Caiafa, procurou o Superesportes para responder o mandatário alvinegro. O representante da PM e responsável pela escolta da torcida do clube paulista em Belo Horizonte descartou erro de atuação da corporação e explicou que o Bairro Horto não “absorve a rivalidade de um grande jogo”. Caiafa também questionou o conhecimento de Nepomuceno sobre segurança pública.”
“Em momento algum nós falamos que o estádio do Independência não é seguro. O que não absorve uma demanda de um jogo com grande rivalidade é o Bairro Horto. Quando o presidente do Atlético culpa a Polícia Militar pela violência, digo que a culpa é da torcida do Atlético, que hostilizou a torcida do Corinthians o tempo todo”, explicou o comandante do batalhão de choque.
O representante da PM ainda retrucou o presidente do Atlético quanto à afirmação de que “a pancadaria foi culpa da polícia, que não soube conduzir os torcedores”. Caiafa respondeu: “Que ele não venha transferir responsabilidade para a Policia Militar. Ele entende tanto de estratégia de segurança quanto eu entendo de contrato de jogador. E se ele entende tanto de estratégia da Polícia Militar, que entre na PM e venha fazer a diferença aqui”, criticou.
Questionado sobre a rota feita para o transporte da torcida corintiana, o comandante do Batalhão de Choque da PM se defendeu. Historicamente, torcedores visitantes acessam o Independência pelas Ruas Córrego da Mata e Alexandre Tourinho (conhecida como beco), por onde chegam à Ismênia Tunes. No entanto, no jogo de domingo, a PM alterou a estratégia e conduziu os ônibus dos corintianos até a esquina das Ruas Nancy de Vasconcelos Gomes e Pitangui. Dali, os visitantes seriam conduzidos pela PM até a Rua Alexandre Tourinho (beco) e ao portal 8 na Ismênia Tunes.
Atleticanos que estavam nas proximidades da esquina e em bares da região se surpreenderam com a chegada dos ônibus dos visitantes naquele ponto e os mais exaltados atiraram objetos, latas e garrafas. Como resposta, policiais militares dispararam bombas de efeito moral e tiros com balas de borracha.
Na quinta-feira, dia 29 de outubro, o Corinthians adquiriu 1.800 ingressos para o jogo. Apesar desse volume de pessoas, a Polícia Militar tinha a informação de que apenas 12 ônibus chegariam a Belo Horizonte vindos da capital pauilsta trazendo corintianos. Segundo o tenente-coronel Gianfranco Caiafa, o maior volume do comboio fez a polícia mudar a estratégia nas cercanias do Independência.
“Por erro de informação do Corinthians, esperávamos 12 ônibus. Quando chegaram aqui na barreira de Betim eram 26 ônibus e 7 vans. Eram 1800 pessoas. Não poderia fazer o transporte deles caminhando, porque o risco de acontecer algo muito pior era muito grande. A Rua Nancy de Vasconcelos era o único lugar que eu poderia chegar com os ônibus. Não poderia entrar na Avenida dos Andradas porque passaria em todos os locais de concentração da torcida do Atlético”, justificou-se.
Nada a declarar sobre ação em residência
Ao procurar a reportagem, nesta quarta-feira, o tenente-coronel Gianfranco Caiafa não quis se manifestar sobre a ação dos policiais que trabalharam na ocorrência de invasão da residência da dona de casa Inês de Araújo Cardoso, de 69 anos, na Rua Alexandre Tourinho, ao lado do Independência. No domingo, a família dela viveu momentos de pânico quando dezenas de torcedores do Corinthians invadiram a casa enquanto eram perseguidos por militares. Segundo relato da moradora, integrantes do Batalhão de Choque entraram em sua casa atrás dos corintianos e começaram a jogar bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, destruindo portas e o banheiro.
No local havia mais de seis crianças. Uma sobrinha de Inês, grávida, precisou pular uma janela para escapar da confusão. O filho da dona de casa, o cabeleireiro Marcos Cardoso Pereira, de 37, se trancou no banheiro com mais seis torcedores e denuncia que a porta foi destruída a chutes pelos militares, que jogaram uma bomba de efeito moral dentro. O vaso sanitário foi arrancado. A banheira de um bebê foi partida ao meio.
Procurado pela reportagem do Estado de Minas, no domingo à noite, o tenente-coronel Gianfranco Caiafa informou que o caso será apurado. Ele disse ter sido informado que os militares entraram nas casas para proteger os moradores,. “Os torcedores entraram nas casas promovendo quebradeira e a PM foi para socorrer os moradores. A confusão começou porque a torcida queria furar a entrada no estádio e a Tropa de Choque usou a força e eles saíram correndo e entraram nas casas”.
A reportagem completa está no:
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