Quem lê o blog com frequência vai se lembrar que na semana passada escrevi aqui que o senhor Délio, pai do Bernard, sempre reclamou e criticou o trabalho feito nas categorias de base do Atlético. Ontem, foi o próprio jogador quem surpreendeu a todos ao sair da sua discrição habitual e curtir postagem do atleticano que twittou: @daltonclf: “André Figueiredo é aquele cara que se orgulha de ser diretor da base do #Galo quando revelou o @b_10duarte (Bernard), mas esquece que tentou dispensá-lo três vezes”.
Logo depois Bernard entrou na conversa: “E em duas oportunidades conseguiu. “Grande parte da torcida, ou quase toda, não sabe nem da metade do que eu passei na base, mesmo assim, decidi voltar e ficar…”
Bernard enfrentava o preconceito pelo fato de ser baixinho e estava com data de validade pra vencer no clube. A salvação dele e do Atlético foi a parceria que Alexandre Kalil mandou o André Figueiredo fechar com o nosso Democrata de Sete Lagoas. O Jacaré estava a perigo, não tinha dinheiro para nada, corria o risco de nem disputar a terceira divisão mineira. O Galo bancou tudo. O time só ia a Sete Lagoas para jogar. Até o uniforme Kalil deu: mandou que a Topper fizesse uma cota dos mesmos modelos do Atlético, mudando apenas o preto pelo vermelho, cor do Democrata. O clube sete-lagoano só bancaria os ônibus e hotéis a serviço do time, e a única exigência do Kalil: “têm que ser do mesmo padrão que servem ao time profissional do Atlético”.
E assim foi feito. Rogério Micale treinador.
Primeiro e único amistoso antes do campeonato foi contra o Villa Nova na Arena do Jacaré. Bernard no banco, na reserva do grandalhão Wendell, que estava numa má vontade danada. No segundo tempo, entrou o baixinho no lugar dele. Partiu pra cima da defesa do Vila e só não fez chover. O Democrata fez 1 a 0; o Leão virou e venceu por 2 a 1. Mas a imagem que ficou foi do tal “baixinho”.
Começou o campeonato, Bernard ganhou a posição e a cada jogo crescia e impressionava mais. Uma raça incomum para jogador de Atlético emprestado a time do interior.
Eu assistia a todos os jogos e sempre escrevia e falava para os colegas da imprensa de Beagá sobre o “tal” Bernard. Eu argumentava que: além da qualidade técnica, a raça do menino era impressionante. Se ele dava todo aquele sangue pela camisa do Democrata, imaginem pela do Galo! E toda semana falava para a diretoria do Atlético, direto para o presidente, que passou a mandar olhar o “baixinho”.
Na virada de 2010 para 2011, Kalil mandou o técnico Dorival Junior incorporar o Bernard ao profissional e observá-lo com mais atenção. Um dia faltou lateral direito. Dorival reuniu o grupo e perguntou se alguém se voluntariava na posição para a emergência. Bernard levantou a mão e jogou. Foi bem, mas a posição não tinha nada a ver com ele. Aliás, muita gente comete injustiça com o Dorival ao dizer que ele escalara o Bernard ali para queimá-lo. Nada disso, e o próprio jogador sempre fez questão de contar que ele mesmo foi quem se ofereceu para jogar na lateral, pois precisa agarrar toda oportunidade de jogar que tivesse.
Meses se passaram, caiu Dorival e Cuca assumiu. Sentiu o potencial do garoto, perguntou a ele como gostava de jogar e começou a “oportunizá-lo” ali, pela meia esquerda. Aí chegou Ronaldinho Gaúcho, que foi bom pra todo mundo. Para Bernard principalmente. Ele se tornou o “secretário” do R10 em campo, o pulmão e as pernas que muitas vezes faltavam à estrela maior. Jô foi o maior beneficiado, pois recebia bolas diretamente do Ronaldinho ou indiretamente, via Bernard, transformando a maioria deles em chuvas de gols.
O resto da história todo mundo sabe, mas há outras que, como disse o próprio Bernard, pouca gente sabe. Por exemplo: o pai dele tinha informação de que ele poderia dispensado novamente. E se ocorresse, já estava acertada a ida dele para o Cruzeiro.
Graças à mão forte do Kalil e ao Democrata, o Galo não perdeu um patrimônio que depois se transformou numas das maiores negociações do futebol brasileiro; a maior do mineiro.
Inesquecíveis tempos do Bernard honrando a camisa do nosso Democrata Jacaré.