Exceção a Flamengo e Corinthians, o ferro já entrou e nenhum deles teve competência para evitar
Li comentaristas do blog criticando e elogiando o patrocínio da Caixa a Atlético e Cruzeiro. R$ 13,5 milhões para cada, é realmente uma “merreca” pelo que representam no futebol brasileiro, dentro e fora de campo, principalmente pelo tamanho e fidelidade de suas torcidas. Porém, era pegar ou largar, e na situação pela qual passa o país, ninguém é doido de rasgar dinheiro.
Lamento muitas coisas: os clubes são reféns dos valores oferecidos, já que a visibilidade nacional que têm nas redes de televisão é mínima. Nem quando ganham os principais títulos em disputa têm o espaço devido, por uma questão simples: Minas Gerais perdeu força econômica a partir dos anos 1960 e hoje, em termos publicitários, representa pouquíssimo para as grandes empresas de comunicação do país. São Paulo, Capital, depois São Paulo, interior, e Rio de Janeiro, dominam o mercado e por consequência, os grandes clubes de lá são os mais focados.
Se antes, Minas era conhecida por ter a hegemonia dos maiores bancos privados do Brasil, hoje não tem mais nenhum no topo. As sedes das maiores empresas mineiras, tipo Andrade Gutierrez e outras, onde está o poder de decisão foram transferidas, na maioria, para São Paulo, a meca financeira verde e amarela. Nem temos nem bancos estatais mais, já que a MinasCaixa virou pó no bolso de políticos, e o BEMGE e o Credireal foram praticamente dados de presente a bancos paulistas.
Também acho que bancos como Caixa Econômica Federal e do Brasil deveriam existir apenas para fomentar a economia, financiando empresas para a geração de empregos e a produção em geral, mas este espírito foi desvirtuado há décadas, até séculos, no caso do Banco do Brasil. Já que estão patrocinando tantos clubes e tantas outras coisas, não vou contestar os nossos clubes por receberem esta merreca da Caixa, ínfima, perto do que o Corinthians recebe, por exemplo.
Mas, onde os clubes tinham que bater o pé e brigar mesmo é nas cotas dos direitos de transmissão. A partir deste ano, a diferença vai começar a se acentuar a favor do Flamengo e do Corinthians, que receberão o dobro ou mais que os demais.
Infelizmente os dirigentes não se unem nem na defesas dos interesses comuns e um carioca e um paulista, vão deitar e rolar mais ainda, se aproveitando da falta de entendimento entre os concorrentes.
Vejam que artigo interessante o assunto, do jornalista e escritor André Barcinski, publicado no Uol/Folha do dia 27 de dezembro:
* “Globo age como o pai que faz de tudo para o filho ganhar as peladas”
Quando eu era criança, havia na rua um menino cujo nome não lembro agora, mas que chamarei de Mauricinho. O pai de Mauricinho era rico e cobria o filho de mimos. Na pelada da rua, enquanto todos jogavam com uma bola Dente de Leite ovalada, Mauricinho aparecia com uma Adidas de couro. Todo mundo queria jogar no time de Mauricinho, porque ele trazia uniformes e presenteava a molecada com camisas oficiais. Assim, podia escolher os jogadores que quisesse e vencia todas as peladas.
Quando leio sobre as cotas de TV que a Rede Globo pagará aos clubes brasileiros a partir de 2016, me lembro de Mauricinho, o playboy. Porque a Globo age como o paizão rico que faz de tudo para que seu filhinho ganhe todas as peladas. No caso, seus dois filhinhos: Corinthians e Flamengo. Timãoricinho e Flaboy.
Até 2011, as cotas de TV eram razoavelmente justas. A diferença entre os times do topo (R$ 25 milhões) e os de baixo (R$ 13 milhões) não chegava ao dobro. Em 2016, entretanto, Corinthians e Flamengo receberão R$ 170 milhões, quase cinco vezes o que caberá aos menos favorecidos (R$ 35 milhões) e quase três vezes a cota de Cruzeiro, Atlético-MG, Inter, Grêmio, Fluminense e Botafogo (R$ 60 milhões). O terceiro clube do ranking, o São Paulo, receberá R$ 60 milhões a menos que os dois preferidos da Globo.
Nada justifica essa disparidade. Os números que deveriam interessar à Globo, os de audiência, não são tão diferentes assim. Mas a emissora faz de tudo para criar um abismo entre os clubes. O objetivo parece ser transformar o Brasileirão em um campeonato semelhante ao espanhol, onde Barcelona e Real Madrid recebem muito mais que os outros e dominam os títulos (no mesmo dia em que o Barcelona venceu com facilidade o River Plate, campeão sul-americano, o Real Madrid marcou 10 a 2 no Rayo Vallecano ).
Para isso, a emissora conta com a incompetência dos outros clubes, que assistem a tudo calados, não organizam um boicote e, de pires na mão, aceitam o que a Globo paga, sem entender que esse processo é irreversível e resultará em campeonatos cada vez menos equilibrados.
E o favorecimento não termina aí: segundo notícias recentes, a Globo teria aceitado mencionar em suas transmissões o nome da empresa que comprar os “naming rights” da Arena Corinthians, enquanto continua a chamar o Allianz Parque de “Arena Palmeiras”.
E Corinthians e Flamengo, estão confortáveis com essa situação? Aparentemente, sim: segundo Ricardo Perrone, colunista do UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha, o time paulista já teria recebido da Globo a garantia de que a diferença de valor em relação aos outros times será mantida em contratos vindouros. É o triunfo do capitalismo à brasileira, onde a competição não é incentivada, mas aniquilada. Como dizem por aí, 7 a 1 foi pouco.
André Barcinski é jornalista e autor do livro “Pavões Misteriosos” (Editora Três Estrelas)
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2015/12/1723262-globo-age-como-o-pai-que-faz-de-tudo-o-para-filho-ganhar-as-peladas.shtml