A opinião é do Fernando Rocha, na prestigiada coluna dele no Diário do Aço, de Ipatinga:
* “Pulo do gato”
O que já era esperado tornou-se oficial: Deivid de Souza, 36 anos, ex-atacante do próprio clube e atual auxiliar técnico permanente, foi efetivado pela diretoria e será o substituto de Mano Menezes, no cargo de treinador titular do Cruzeiro para iniciar a temporada de 2016.
A torcida celeste está dividida e desconfiada, pois queria um técnico de ponta do futebol brasileiro, no mesmo nível do antecessor Mano Menezes, ou que imitasse o maior rival contratando um estrangeiro, neste caso, o argentino Jorge Sampaoli, atual técnico da seleção chilena, que virou sonho de consumo da maioria dos grandes clubes nacionais.
Há dois aspectos a considerar: primeiro é que não há no mercado nacional um técnico de “ponta” ou “medalhão” desempregado, pois a maioria que andava em baixa se mandou daqui para a China e outros rincões mais remotos do planeta, onde fortunas em dólares lhes são ofertadas, como xuxu na rama aqui nos nossos grotões.
Depois por conta da nova lei de responsabilidade fiscal, o PROFUT, que os clubes aderiram, inclusive o Cruzeiro, para se verem livres dos problemas com o fisco, que os obriga a gastar até 80% do que arrecadam no futebol. E só! Resumo da ópera: o mar não está prá peixe.
Já dei minha opinião e reafirmo ser contra a efetivação de Deivid como técnico principal do Cruzeiro, pois mesmo que seja bem mais em conta no que diz respeito a salário; tenha feito diversos cursos aqui e acolá, se preparando para o ofício ao qual se dispõe de acordo como manda o figurino; seja “discípulo” e tenha trabalhado com vários técnicos renomados, entre eles Vanderlei Luxemburgo, que o trouxe para o Cruzeiro; seja amigo e conheça todos os jogadores do grupo; queridinho e protegido por alguns colegas da imprensa de BH, que por motivos bons ou maus defenderam seu nome para ocupar o cargo no lugar de Mano, como se fosse ele o inventor da pólvora; apesar de tudo isso… Deivid ainda não sabe o pulo do gato.
Por que digo isso? Porque nunca dirigiu sequer um time de botões na condição de técnico principal, o que certamente fará muita diferença nos momentos difíceis, na hora que tiver de tomar decisões, sobretudo aquelas que só cabem ao comandante. Não se pode esquecer que Deivid, um principiante no cargo, não estará à frente de um clube qualquer, mas sim do Cruzeiro, cuja pressão sobre os técnicos torna-se insuportável, quando as vitórias não acontecem.
E os primeiros a se rebelarem pedindo sua cabeça serão exatamente os “aliados” de hoje. “O Brasil não é para amadores”.Maestro Antonio Carlos Brasileiro Jobim, o Tom Jobim.
Apesar de cético em relação à escolha de Deivid pela diretoria celeste para o lugar de Mano Menezes, torço para que faça um bom trabalho e dê muitas alegrias aos torcedores do Cruzeiro. Sua efetivação, óbviamente é uma aposta. Se não ganhar o Campeonato Mineiro dificilmente permanecerá para a disputa do Brasileiro, o que pode comprometer ainda mais o planejamento da temporada, pois é como se tivesse de trocar o pneu com o carro em movimento.
Nesse gesto da diretoria do Cruzeiro há um aspecto positivo que merece ser exaltado, pois não é todo dia que se vê um clube grande, com coragem e apostar na renovação, dando chance a alguém sem experiência, mas com potencial para se projetar no mercado. Há quem defenda que estamos vivendo o fim de um ciclo, com o surgimento de vários novos profissionais neste mercado complicado e inflacionado, dos técnicos de futebol, citando Roger, do Grêmio, como exemplo.
Não se pode comparar a meu juízo essas duas situações, pois antes de assumir o posto do clube gaúcho, Roger foi treinador de várias equipes no interior do Rio Grande do Sul. Mas, de fato, a história do futebol brasileiro mostra que de tempos em tempos surge uma safra nova de “professores”, então, vamos aguardar se esta aposta da diretoria cruzeirense vai vingar.
O presidente do Cruzeiro, Dr. Gilvan de Pinho Tavares, também anunciou o desligamento do clube da chamada “Primeira Liga”, o que significa não disputar a Copa Sul-Minas-Rio, se é que ela vai se realizar em 2016. Para justificar esta decisão, o dirigente usou uma artimanha bem conhecida dos nossos políticos aqui n os nossos grotões banhados pelo poluído Rio Doce: falou, falou, falou, e não disse nada.
Agora, vá entender! O presidente do Cruzeiro era o presidente da Liga Sul-Minas–Rio, mas de uma hora prá outra pula fora do barco sem dizer claramente o motivo, que poderia ser a entrada em cena do cartolão, Mário Celso Petraglia, do Atlético-PR, tido e havido como inimigo da Rede Globo. A dupla carioca Fla-Flu estaria também batendo em retirada, logo ela que havia pedido quase “pelo amor de Deus” para entrar na Liga.
A atitude tomada pelo presidente do Cruzeiro divide cada vez mais os clubes e reforça a posição da CBF, contrária à riação de uma Liga Nacional, pois na prática significa dizer que, se não conseguem se entender nem mesmo para organizar um torneio menor, como conseguiriam administrar todas as competições do futebol brasileiro. Fecha o pano!