Estou indo agora para Santa Luzia, assistir a estreia do nosso Democrata Jacaré na Terceira Divisão do Campeonato Mineiro.
Num desânimo danado, mas vou porque será o primeiro jogo do Democrata no ano e participo da luta que alguns amigos encararam para tentar salvar o clube da paralização de suas atividades.
É gente demais remando contra. De cara, vou a um estádio ver uma estreia de Campeonato sem público.
É, porque o estádio da Frimisa não atende às exigências das autoridades mineiras e está proibido de abrir seus portões para o público pagante.
Todo ano tem este tipo de problema. O presidente da FMF, Paulo Schettino, foi alertado de novo para isso, alguns meses atrás, mas disse que não tinha outro jeito.
Ora, se não tem time para disputar a Terceira Divisão, que se acabe com ela e ponha os times que têm essa condição, na Segunda, e pronto.
Fazer o quê!?
Daí a pouco algum time que se inscreveu no prazo extra, dado pela Federação, diz que não tem condições de continuar e abandona a disputa, avacalhando e bagunçando tudo, como no ano passado e em outros anos.
Voltando ao Democrata: um clube de 97 anos não pode morrer sem que antes haja muita luta.
Dívidas colossais, trabalhistas, com empreiteira e fornecedores da construção da Arena do Jacaré, e com outros credores.
Nenhuma dívida feita pela atual diretoria.
A diferença para um clube grande, que tem torcida gigante como Atlético, Cruzeiro, Flamengo, Corinthians, Bahia e vários outros, é que eles têm instrumentos de pressão e negociação.
Nem falemos em verbas antecipadas de TV, patrocínios gordos, empréstimos de Federações, CBF, Clube dos 13 e etecetera e tal!
Nenhum credor quer ter seu nome jogado na mídia, como “inimigo” da instituição, ou que quer a sua falência e por aí vai.
Qualquer Juizado, Vara, Comarca, Tribunal ou Supremo, de qualquer área, tem um ou vários torcedores desses clubes, que trocam ideias, seguram uma barra daqui, dali, jeitinhos, até que haja uma negociação ou quitação de dívidas.
Clube sem torcida é diferente.
Que não espere a compreensão ou paciência da Justiça e de nenhum credor.
Por isso, constantemente temos notícias do fechamento das portas de clubes tradicionais país afora.
E o pior: nenhuma diretoria passada, responsável pelo buraco e dívidas colossais, paga pelos seus erros.
Ninguém se responsabiliza ou é responsabilizado por suas más gestões.
Mas, vida que segue!
Sete Lagoas está hoje com mais de 200 mil habitantes, tem algumas das maiores empresas do país e do mundo instaladas lá, mas nenhuma dá apoio ao futebol da cidade. Nem Democrata, nem a nenhum outro clube ou modalidade.
A única renda que o Jacaré tinha, que era do estacionamento da Arena, foi penhorada pela Justiça a pedido de credores, que correm o risco de dançar também, pois desse jeito, vão inviabilizar o clube.
Na ânsia de pegar o carrapato podem matar o boi!
E quando eu terminava de escrever este texto, me ligava o presidente democratense Flávio Reis, dizendo que o Edmar Francisco Pires, da FMF, ligara, informando que ninguém poderia entrar no estádio da Frimisa, além dos dois times e comissões técnicas.
Nem o presidente, nenhum diretor e nem a imprensa!!!
Uai!?
Liguei para o presidente da Federação, Paulo Schettino, e cobrei dele, tudo que já havíamos conversado meses atrás.
Disse que não estava sabendo de nada, pediu 10 minutos para retornar e retornou: a PM é que não estava querendo que ninguém entrasse, já que não ia ter público, ela também não iria lá.
Todavia, a FMF autorizou dirigentes dos dois times e imprensa a entrarem.
Apesar dessa zona toda, vou lá e depois conto aos senhores no que deu!
* A coluna de amanhã, no O Tempo:
Há tempos falo da necessidade de se discutir o futebol mineiro, dentro e fora das quatro linhas. A iniciativa deveria ser da Federação Mineira de Futebol, que existe para organizar as competições e mediar os interesses dos seus filiados.
Como ela não o faz, os grandes clubes deveriam agir. Porém, afogados em seus enormes problemas internos e mais urgentes, deixam o barco seguir. Acabam sendo os maiores prejudicados no que há de mais importante para eles: o celeiro de ótimos profissionais, que eram os clubes pequenos, principalmente do interior.
Pois a Caldense puxou para si essa responsabilidade e promoveu encontro, segunda-feira, em sua sede, encontro para discutir o Campeonato Mineiro de 2012, visando apresentar propostas no Conselho Arbitral da FMF, no fim deste ano.
A Caldense que é um ótimo exemplo de grandes profissionais revelados para o futebol mineiro e nacional. Foi lá que Carlos Alberto Silva revelou-se um dos grandes treinadores do Brasil. O ex-centroavante Casagrande, até hoje manifesta a sua gratidão pela oportunidade que teve lá, antes de ser aproveitado pelo dono do seu passe, Corinthians.
Exemplos
Da Caldense saiu Ailton Lyra, para o América e depois Santos.
Dos chamados pequenos clubes, saíram nomes como Mussula, Piazza e Procópio (Renascença), Zé Carlos e Wilson Almeida (Sport de Juiz de Fora), Morais, João Carlos e Gomes (Democrata de Sete Lagoas), Nonato (Pouso Alegre), Edson e Noventa (Siderúrgica) e Palhinha (Comercial do Barreiro) para o Cruzeiro.
Mais nomes
Pedro Omar, Ale, Café, Batista e Sudaco (Formiga), Buzuca (Atlético de Três Corações), Zé Horta e Neyzinho (Comercial do Barreiro) para o América; Renato (Uberlândia), Grapette (Pouso Alegre), Luizinho (Villa Nova), Tião (Siderúrgica), Canindé e Normandes (Uberaba), Vaguinho e Careca (Democrata de Sete Lagoas), Vinícius (Sete de Setembro) para o Atlético.
Gerações
Nomes de várias gerações, que ajudaram a construir a grandeza do nosso futebol. E outros que se foram de Minas, sem passar por Belo Horizonte, como Telê, de Itabirito e Escurinho, do Villa, para o Fluminense; Geraldinho, do Villa, para o Santos, de Pelé!
E até craque de outra área, como o Dr. Neylor Lasmar, que foi do Renascença para o Cruzeiro.
Morrendo
A maioria destes clubes já morreu ou apenas sobrevive, asfixiados por campeonatos mal organizados, sem público, sem motivação e pesadas taxas, que sustentam a FMF.
Dois exemplos, em categorias diferentes: o América não estreou no Campeonato de juniores, sábado, porque não havia policiamento no campo do Siderúrgica, em Sabará. A 3ª Divisão começou, mas sem presença de público, pois, dos 14 participantes, nove estádios não podem receber torcedores.
Mas as despesas não param e têm de ser pagas, pelos clubes. A FMF finge que não tem nada com isso.